Conflito

Líder das Farc diz que só pedirá perdão às vítimas, não ao inimigo

Na véspera, o comandante Carlos Antonio Lozada, o representante das Farc nas negociações de paz de Havana

Da AFP
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Publicado em 04/10/2015 às 13:20
Foto: CUBADEBATE CU/AFP
Na véspera, o comandante Carlos Antonio Lozada, o representante das Farc nas negociações de paz de Havana - FOTO: Foto: CUBADEBATE CU/AFP
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A guerrilha das Farc não está disposta a pedir perdão ao "inimigo", mas sim às vítimas do conflito armado colombiano, afirmou, em entrevista publicada neste domingo, o líder supremo do grupo em meio a um avançado processo de paz.

"A quem pedimos perdão? Não a nossos inimigos, mas, sim, às vítimas; não as de um relatório que diz que estupramos mulheres há 70 anos", afirmou Timochenko falando ao El Espectador.

O líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), com quem o governo de Juan Manuel Santos assinou em 23 de setembro passado um acordo de justiça prévio a um acordo de paz final, garantiu que a guerrilha aceitará suas responsabilidades.

"Estamos dispostos a assumir as responsabilidades que se deduzam do tribunal. Se houver companheiros que saírem acusados, assumirão sua culpa", afirmou Rodrigo Londoño, conhecido por seus nomes de guerra Timoleón Jiménez ou Timochenko.

Segundo ele, o delito do sequestro, a que se refere como "retenções econômicas", não figura no histórico acordo de justiça.  "É um tema difícil e complexo", destacou.

Depois de anunciar o acordo da justiça, Santos e Timochenko também fixaram uma data limite para alcançar um acordo final:  23 de março de 2016.

Timochenko disse estar consciente de que  o estabelecimento de uma data é um perigo porque "pode desandar com tudo".

"Aceitamos porque o presidente Santos deum provas de consequência em momentos muito difíceis", explicou.

Na véspera, o comandante Carlos Antonio Lozada, o representante das Farc nas negociações de paz de Havana, advertiu que não será viável assinar a paz na Colômbia dentro do prazo fixado se o governo fizer retroceder o avanço do pacto sobre justiça.

"Firmar a paz antes de seis meses não será viável se o governo começar a questionar os acordos já firmados e nos fizer retroceder no que já foi avançado", declarou Lozada.

As duas partes, que desde 2012 estão negociando em Havana os termos para acabar com o conflito armado interno de meio século, têm diferenças sobre os alcances do acordo sobre justiça assinado em 23 de setembro.

O governo e a guerrilha se comprometeram neste dia em Havana, na presença do presidente cubano, Raúl Castro, a alcançar a paz antes do dia 23 de março de 2016. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) devem iniciar seu desarme 60 dias depois.

A delegação de paz do governo não fez declarações à imprensa no sábado, mas na sexta-feira o chefe, Humberto de la Calle, declarou que o texto do acordo assinado tem certa "ambiguidade" e requer ser "preciso".

De la Calle fez estas afirmações depois de que seu contraparte, Iván Márquez, disse que a guerrilha seguirá negociando "sem alterar o que acordou" em 23 de setembro, quando ambas partes fixaram as bases para julgar os crimes cometidos ao longo do conflito armado.

O conflito armado colombiano deixou 220.000 mortos e seis milhões de deslocados, segundo números oficiais, e este é a terceira tentativa de um governo colombiano e das Farc para acabar com o conflito.

Esta rodada dos diálogos de paz (o 42º desde novembro de 2012) começou na sexta-feira e terminará em 8 de outubro.

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