diplomacia

Obama pede reconciliação entre EUA e Cuba em histórico discurso em Havana

O Grande Teatro de Havana estava lotado com seus 1.300 convidados e Obama foi muito aplaudido em diversos momentos do discurso

Da AFP
Cadastrado por
Da AFP
Publicado em 22/03/2016 às 15:30
Foto: Jim Watson/AFP
O Grande Teatro de Havana estava lotado com seus 1.300 convidados e Obama foi muito aplaudido em diversos momentos do discurso - FOTO: Foto: Jim Watson/AFP
Leitura:

Barack Obama se dirigiu ao povo cubano nesta terça-feira (22) e fez um pedido de reconciliação entre Cuba e Estados Unidos, em um discurso histórico transmitido pela televisão para todo o país, na primeira vez em que um presidente americano visita a ilha em quase 90 anos.

"Vim aqui deixar para trás os últimos vestígios da Guerra Fria nas Américas", afirmou Obama ao discursar ao povo cubano no Grande Teatro de Havana.

"Vim aqui estendendo a mão da amizade ao povo cubano", declarou ante o auditório cheio e na presença de seu colega Raúl Castro. 

Ele também se referiu ao embargo imposto pelos Estados Unidos a Cuba em 1962, em plena Guerra Fria, e que ainda está em vigor.

"O embargo é uma carga obsoleta sobre o povo cubano", acrescentou Obama em meio aos fortes aplausos. "Mas os cubanos "não vão alcançar seu potencial se não ocorrerem mudanças aqui em Cuba".

Neste sentido, Obama defendeu a liberdade de expressão.

"As pessoas deveriam se expressar livremente e sem medo", afirmou Obama, em um discurso aplaudido inúmeras vezes.

Falando em espanhol, dirigiu-se diretamente à juventude cubana.

"Apelo aos jovens de Cuba que construam algo novo", afirmou.

"O futuro de Cuba tem de estar nas mãos do povo cubano", concluiu, também em espanhol.

Durante o discurso, no qual citou várias vezes o poeta e herói nacional José Martí, ele insistiu no tema reconciliação entre os cubanos, mencionando "a dor do êxodo cubano que ama Cuba" e "o sofrimento das famílias separadas".

Para o analista político Arturo Lopez-Levy, o presidente Obama "foi um verdadeiro vencedor com este discurso de reconciliação nacional".

"Nisso, o governo cubano perdeu boas oportunidades de montar uma narrativa própria, nacionalista, pois deixa que o tema da intransigência de partido sabote uma projeção sensível a demandas que são majoritárias entre a população", afirmou à AFP o professor da Universidade de Texas Rio Grande Valley (EUA).

As palavras de Obama foram acompanhadas do balcão de honra do teatro por Raúl Castro e os principais funcionários de seu governo.

O presidente cubano aplaudiu suas declarações sobre o embargo americano e uma menção ao líder sul-africano Nelson Mandela.

Obama também evocou as profundas diferenças entre os dois países - "Cuba tem um sistema de partido único, nós multipartidário", afirmou -, mas também assinalou que os Estados Unidos "não têm a intenção nem a capacidade de impor mudanças na ilha".

"Recebi uma mensagem bastante clara de esperança e futuro melhor, e que é bom deixar o passado para trás", comentou Freddy Lafont, um músico presente no teatro.

Lázaro Bosch, um trabalhador portuário de 62 anos, que acompanhou a transmissão pela televisão, comentou que "o discurso  mexeu com a fibra dos cubanos".

"Obama se comunicou com o povo cubano, algo que nunca achamos que podia acontecer. Gostei principalmente quando falou de unidade entre os cubanos, entre o povo dos Estados Unidos e o nosso povo", declarou à AFP.

O Grande Teatro de Havana estava lotado com seus 1.300 convidados e Obama foi muito aplaudido em diversos momentos do discurso.

 

Dissidência

Após o discurso, Obama se reuniu com um grupo de opositores na sede da embaixada americana em Havana, um encontro no qual exaltou a valentia dos dissidentes.

"Quero agradecer a todos os que vieram aqui. Com frequência é preciso ter muita valentia para fazer ativismo em Cuba", disse Obama.

"Este é um tema no qual seguimos tendo muitas divergências com o governo de Cuba", acrescentou.

O encontro contou com a presença de uma dúzia de dissidentes, incluindo Berta Soler, das Damas de Branco, Elisardo Sánchez, da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, e Guillermo Fariñas, Prêmio Sakharov 2010 para os Direitos Humanos.

"Há pessoas aqui que estiveram detidas, algumas no passado, outras muito recentemente", comentou Obama, que já havia se reunido com alguns dos presentes nos Estados Unidos e no Panamá, durante a Cúpula das Américas do ano passado.

No domingo, pouco antes da chegada de Obama a Havana, dezenas de dissidentes foram detidos por várias horas após uma manifestação contra o governo comunista.

"Parte de nossa política em relação à Cuba é que não podemos nos reunir apenas com o presidente Castro ou ter relações apenas de governo a governo. Temos que poder escutar diretamente o povo cubano e garantir que tenha uma voz", ressaltou Obama no encontro com os opositores.

O último compromisso do dia do presidente americano é assistir a uma partida de beisebol entre o time dos Tampa Bay Rays e a equipe nacional cubana no Estádio Latino-Americano.

Após isso, ele e sua família deixam Cuba de volta aos Estados Unidos.

Últimas notícias