Quase a metade dos últimos médicos que atuam nos bairros rebeldes de Aleppo criticaram nesta quinta-feira (11) "a inação" dos Estados Unidos diante das atrocidades sofridas pelos habitantes desta grande cidade dividida do norte da Síria.
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Em uma carta aberta, 15 dos 35 médicos ainda presentes nos bairros sob controle dos insurgentes alertam que a situação será desesperadora para os civis se o regime sírio de Bashar al-Assad impuser um novo cerco.
No sábado, uma aliança de rebeldes islamitas e insurgentes jihadistas conseguiu romper três semanas de um cerco que provocou um aumento vertiginoso dos preços dos produtos básicos.
Para os médicos, no entanto, a situação continua sendo desesperadora.
"Sem a abertura permanente de uma rota de abastecimento, as forças do regime nos cercarão novamente em pouco tempo, a fome se propagará e os produtos dos hospitais se esgotarão completamente", advertem.
Em uma carta enviada à Casa Branca, à qual a AFP teve acesso, estes pediatras, cirurgiões e outros médicos lamentam a atitude dos Estados Unidos, que "não realizam nenhum esforço para levantar o cerco ou usar sua influência para pressionar os grupos para que protejam os civis".
"Não precisamos de lágrimas, nem compaixão, nem orações. Demonstrem simplesmente que são amigos dos sírios", afirmam.
"Quem viverá e quem morrerá"
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que a Síria era o lugar mais perigoso para as equipes médicas, com 135 ataques em 2015 contra centros de saúde ou seus funcionários.
Atualmente, 250.000 pessoas vivem nas zonas rebeldes e 1,2 milhão nos bairros controlados pelo governo na cidade de Aleppo, a segunda da Síria e um dos principais alvos de um conflito que já deixou mais de 290.000 mortos desde março de 2011.
Rebeldes e forças governamentais preparam uma nova batalha para tentar controlar a cidade, onde os hospitais e as infraestruturas civis estão devastados.
Em julho, os bombardeios atingiram em apenas um dia quatro hospitais improvisados e um banco de sangue. Vários médicos que assinam este apelo trabalhavam ali.
"O que mais nos dói, como médicos, é ter que escolher quem viverá e quem morrerá", escrevem os profissionais.
"Crianças jovens chegam à emergência com ferimentos tão graves que devemos priorizar aquelas que têm mais chances de sobreviver", acrescentam. "E, por vezes, nem temos o material necessário para ajudá-las".
Os médicos dizem ter sido testemunhas ao longo dos cinco anos de guerra da morte de um número incalculável de pacientes, amigos e companheiros entre "horríveis sofrimentos".
Há duas semanas, um ataque provocou a morte de quatro recém-nascidos, já que a explosão cortou a chegada de oxigênio a sua incubadora.