CONFLITO

Aleppo segue sob forte ataque e Rússia oferece retirada segura

Ao amanhecer, os bairros rebeldes do leste dessa cidade sofreram cerca de 20 bombardeios

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Publicado em 13/10/2016 às 17:35
Foto: AMEER ALHALBI / AFP
Ao amanhecer, os bairros rebeldes do leste dessa cidade sofreram cerca de 20 bombardeios - FOTO: Foto: AMEER ALHALBI / AFP
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Aviões sírios e russos voltaram a bombardear Aleppo, nesta quinta-feira (13), onde os ataques aéreos contra os bairros rebeldes mataram ao menos 71 civis em 48 horas, permitindo que as tropas de Damasco avançassem nessa cidade do norte da Síria.

Ao amanhecer, os bairros rebeldes do leste dessa cidade sofreram cerca de 20 bombardeios. Ao mesmo tempo, as tropas do governo avançavam no noroeste de Aleppo, apoderando-se de colinas, a partir das quais se divisam as zonas em poder dos insurgentes, indicou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) sem informar um balanço de vítimas.

Sete crianças figuram entre os 56 civis mortos na terça-feira (11) nos bairros rebeldes e, na quarta (12), outros 15 civis morreram nesse mesmo setor, afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

"O balanço aumentou, porque muitas pessoas morreram como consequência de seus ferimentos, e há corpos ainda presos sob os escombros", acrescentou Rahman.

Um correspondente da AFP no leste de Aleppo constatou que os bombardeios foram retomados à tarde na zona rebelde.

Nesse cenário, as Forças Armadas russas anunciaram hoje estarem prontas para assegurar aos rebeldes armados uma "retirada segura" dessa castigada cidade.

"Estamos dispostos a garantir uma retirada segura aos rebeldes com suas armas, a livre passagem dos civis da parte leste de Aleppo e seu retorno, assim como o envio de ajuda humanitária", anunciou o general russo Serguei Rudskoi, em entrevista coletiva.

A televisão estatal síria informou, por sua vez, sobre a morte de quatro crianças por disparos de foguetes na manhã desta quinta-feira. Os artefatos atingiram uma escola na parte de Aleppo controlada pelo governo de Damasco. Moradores dessa seção contaram ter sido obrigados a sair de seus veículos e a se esconder nos prédios, devido aos bombardeios.

De acordo com o OSDH, os bombardeios rebeldes contra os bairros pró-governamentais também mataram oito civis entre terça e quarta-feira.

Em 22 de setembro, as forças do presidente Bashar al-Assad lançaram uma ofensiva para recuperar toda Aleppo, desde 2012 dividida entre os bairros rebeldes e os pró-governo. A operação conta com o apoio da aviação da Rússia, que intensificou seus bombardeios no início da semana.

Mais de 250.000 pessoas vivem nos bairros rebeldes dessa cidade, sitiados há vários meses e onde escolas e hospitais são regularmente atingidos por bombas. Desde setembro, já morreram mais de 370 pessoas, civis em sua maioria, de acordo com o balanço do OSDH. Entre essas vítimas, há 68 menores.

ONU, França e Estados Unidos denunciaram "crimes de guerra", e o próximo secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, defendeu que chegou o momento de superar as divisões da comunidade internacional sobre a Síria.

Até agora, no front diplomático, a comunidade internacional se mostrou incapaz de pôr fim ao banho de sangue em Aleppo, transformada em um dos símbolos da guerra que atinge a Síria desde março de 2011.

Lausanne e Londres

Diante da indignação internacional com a situação humanitária na região, Estados Unidos e Rússia - apoios dos rebeldes e do governo de Bashar al-Assad, respectivamente - anunciaram na quarta-feira (12) duas reuniões internacionais, com países árabes e europeus, para este fim de semana.

O objetivo é iniciar mais um cessar-fogo na outrora capital econômica da Síria. Há vários dias, Washington e Moscou suspenderam seus contatos sobre o tema.

A primeira reunião será no sábado (15), em Lausanne (Suíça), e a segunda, no domingo, em Londres.

Ao encontro do secretário de Estado americano, John Kerry, e de seu colega russo, Serguei Lavrov, devem se somar os ministros de Turquia, Arábia Saudita e Catar, os três apoios das forças de oposição síria. Nenhuma das partes confirmou um convite ao Irã, ator-chave no conflito e aliado de Assad.

No domingo, em Londres, Kerry deve-se reunir com seus colegas de Reino Unido, Alemanha e França.

Em Moscou, segundo nota divulgada hoje pelo Kremlin, o presidente "Vladimir Putin expressou a esperança de que o encontro previsto para 15 de outubro em Lausanne (...) seja produtivo com o objetivo de contribuir realmente para a solução" para o conflito sírio.

Na semana passada, a Rússia havia vetado uma resolução francesa no Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo em Aleppo e a proibição de sobrevoo para todos os aviões militares.

Também nesta quinta-feira, o ministro saudita das Relações Exteriores, Adel al-Jubeir, comemorou a aproximação entre Ancara e Moscou.

"Vemos a redução de tensões entre Turquia e Rússia como uma possível oportunidade" para encontrar uma solução na Síria, declarou.

Desde março de 2011, a solução para a guerra civil na Síria se tornou mais complexa, e o conflito se internacionalizou. Mais de 300.000 pessoas morreram, e mais de 13,5 milhões de sírios - entre eles seis milhões de crianças - precisam de ajuda humanitária, segundo a ONU.

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