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Premiê canadense Justin Trudeau vai a Cuba, 40 anos após seu pai

A visita é oficialmente destinada a ''renovar e estreitar'' os laços do Canadá com Cuba

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Publicado em 14/11/2016 às 13:15
Foto: ALICE CHICHE / AFP
A visita é oficialmente destinada a ''renovar e estreitar'' os laços do Canadá com Cuba - FOTO: Foto: ALICE CHICHE / AFP
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Quarenta anos depois de seu pai, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau viajará a Cuba nesta terça-feira (15), depois que a eleição de Donald Trump gerou incerteza sobre a continuidade do processo de normalização de relações entre os Estados Unidos e o governo comunista da ilha.

Segundo o gabinete de Trudeau, essa visita, oficialmente destinada a "renovar e estreitar" os laços do Canadá com Cuba -um de sues "parceiros mais próximos" na América- ainda tem uma dimensão pessoal e familiar.

Contra a opinião de Washington, Pierre Elliott Trudeau se transformou em janeiro de 1976, em plena Guerra Fria, no primeiro governante de um país-membro da Otan que viajou a Cuba, lembra à AFP John Kirk, cientista político da universidade Dalhousie em Halifax (leste).

Nas fotos da época, "o comandante da revolução", vestido em sua célebre uniforme verde oliva, leva em seus braços um bebê de meses, ao qual observa com ternura. A criança era Michel, irmão mais novo de Justin Trudeau, que morreu em uma avalanche de neve no oeste canadense em 1998.

Pierre Elliott Trudeau e Fidel Castro estabeleceram uma profunda amizade, nunca desmentida. O líder cubano, emocionado, viajou a Montreal em 2000 para o funeral de seu amigo.

Agora, durante sua visita de aproximadamente 30 horas a Havana, Trudeau se reunirá com o presidente Raul Castro.

Oficialmente, não está prevista uma reunião com o antigo "líder máximo", mas "há uma possibilidade" de que se encontrem, informou à imprensa canadense o embaixador de Cuba no Canadá, Julio Garmendia Pena.

Visita simbólica

A visita também é simbólica porque Canadá é um dos poucos países do continente, junto com o México, que não rompeu relações diplomáticas com Havana após a revolução, "apesar das significativas pressões por parte de Washington", lembra Kirk, autor de várias obras sobre Cuba.

Ottawa sempre criticou o embargo americano, implantado em 1962 e flexibilizado pelo presidente americano Barack Obama.

"Embora o Canadá dependa dos Estados Unidos por 70% de seu comércio, essa visita -muito mais importante visto que acontece depois da eleição de Trump- simboliza a independência canadense em matéria de política externa", afirma.

A visita será a primeira de um primeiro-ministro canadense desde o liberal Jean Chretien em 1998.

Para Trudeau, do mesmo partido político, trata-se também de reparar as relações bilaterais com Cuba, que caíram no "nível mais baixo" desde 1959 durante a década de seu predecessor no poder, o conservador Stephen Harper.

Foi, no entanto, sob seu mandato que o Canadá acolheu várias rodadas das "negociações secretas" que culminaram em dezembro de 2014 com o histórico degelo das relações entre Cuba e Estados Unidos.

Trump apoiou, em princípio, a reaproximação, mas expressou suas reservas durante a campanha, lamentando que o presidente democrata não tenha obtido nada em troca da  cambio da flexibilização do embargo.

Inclusive, no mês passado afirmou que fará "de tudo para conseguir um acordo sólido".

Entretanto, hoje esse embargo explica em parte a hesitação de várias empresas canadenses para investir em Cuba, temendo represálias dos Estados Unidos, onde frequentemente estão fortemente implantadas.

O comércio bilateral entre Canadá e Cuba chega a apenas 1 bilhão de dólares ao ano, menos que o equivalente às trocas diárias entre Canadá e EUA.

Os canadenses representam o contingente mais numeroso de turistas estrangeiros na ilha, com 1,3 milhão de visitantes em 2015, o que representa cerca de 40% do total.

"Crescimento econômico, governo inclusivo" junto com o respeito às liberdades individuais, "mudança climática e igualdade de gênero", são alguns dos temas centrais da visita de Trudeau a Cuba. 

Depois ele irá para a Argentina e de lá para a cúpula do fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que será celebrada no Peru de 17 a 19 de novembro.

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