O chefe de Governo italiano, Matteo Renzi, se prepara para viver no domingo um dos momentos mais importantes de sua carreira política, com um referendo constitucional, cujo resultado, incerto, decidirá o seu futuro.
Leia Também
A votação acontece desde quinta-feira à noite para os italianos que vivem no exterior. E, segundo a imprensa italiana, a participação tem sido grande entre os expatriados, mais favoráveis ao sim.
O referendo propõe o fim do sistema parlamentar, até hoje em vigor, e a redução do número de cadeiras no Senado - de 300 para 100.
O objetivo é acelerar o processo legislativo e oferecer estabilidade política em um país que já teve 60 governos desde 1946, ano em que redigiu sua primeira Constituição como República.
Mas o principal interessado no projeto, o primeiro-ministro Matteo Renzi, não vê sua vitória tão claramente.
"O desafio foi lançado, é preciso brigar nas próximas 48 horas", assegurou nesta sexta-feira de manhã Renzi, resolutamente otimista.
"Se eu perder este referendo constitucional, deixarei a política", prometeu há um ano o político, de 41 anos, que chegou ao poder em fevereiro de 2014 com a vontade de mudar a Itália.
A reforma de Renzi despertou críticas de todos os setores políticos, desde a extrema-direta até a extrema-esquerda, e um setor do próprio partido de centro-esquerda de Renzi, o Partido Democrático, se rebelou contra o que consideram "um retrocesso democrático" e uma decisão "autoritária".
Renzi tem se esforçado, por meio de entrevistas, comícios e intervenções nas redes sociais, para convencer os milhões de indecisos sobre a reforma.
"Este referendo é fundamental, não para o governo, mas para o futuro do país", ressaltou nesta sexta-feira em um live no Facebook.
A reforma prevê uma redução drástica dos poderes do Senado, que não votaria mais a confiança no governo e para a maioria das leis, uma limitação do poder das regiões e a supressão das províncias.
'Para casa'
Os opositores do projeto querem enviar Renzi "para casa", pois consideram que esta reforma, associada a uma lei eleitoral, cria uma concentração de poder em um país onde o trauma do fascismo deixou vestígios.
"Esta é uma reforma que reduz o espaço para a participação e a soberania popular. Ela humilha o Parlamento e concentra o poder nas mãos do governo, sem o contrapeso necessário", explicou à AFP o ex-chefe de governo Massimo D'Alema, que é membro do Partido Democrata (PD) de Matteo Renzi.
Para Giovanni, um jovem engenheiro, "uma reforma deste tipo era inimaginável há três anos. Renzi tem uma visão para o país e ele consegue transmiti-la", disse à AFP.
A incerteza sobre o resultado desta votação provoca preocupação na Europa e nos mercados, que temem uma nova fase de instabilidade na terceira maior economia da zona do euro.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, não pouparam esforços para pedir abertamente um voto no 'sim'.
Já os populistas do Movimento Cinco Estrelas (M5E) e da Liga do Norte, do ex-premier Silvio Berlusconi, esperam que o país entre na onda populista após o Brexit e a eleição de Donald Trump à Casa Branca.
Os partidos exigem eleições antecipadas em caso de vitória do não, o que está longe de ser uma certeza.
Mas o presidente Sergio Mattarella não dissolverá o Parlamento antes de uma reforma legislativa para a escolha de deputados. A vitória do não, portanto, não conduz automaticamente a eleições antecipadas... ou mesmo a uma saída de Renzi, que poderia ser reconduzido pelo presidente e ganhar a confiança da maioria atual do Parlamento.