As forças do governo sírio assumiram o controle de toda a Cidade Antiga de Aleppo, seu coração histórico, após a retirada dos rebeldes, cada vez mais asfixiados em seu antigo reduto.
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Após essa nova derrota, os rebeldes sírios em Aleppo pediram um cessar-fogo imediato de cinco dias e a evacuação dos civis dos bairros do leste para outra região em mãos dos insurgentes, segundo um comunicado de vários grupos rebeldes.
A declaração, consecutiva à reconquista de 75% dos bairros rebeldes do leste de Aleppo pelas tropas governamentais, pede também negociações sobre o "futuro da cidade", uma vez que seja superada a crise humanitária.
Neste sentido, seis países, entre eles Estados Unidos e França, pediram nesta quarta-feira um cessar-fogo imediato ante a catástrofe humanitária em Aleppo e apelaram à Rússia e ao Irã para que usem sua influência junto ao regime sírio para obter uma trégua.
Em uma declaração conjunta publicada pelas presidências francesa, americana, alemã, italiana e britânica, os países afirmam que a "urgência absoluta é um cessar-fogo imediato para permitir às Nações Unidas entregar ajuda humanitária às populações do leste de Aleppo, e socorrer as pessoas que fugiram".
Um projeto de cessar-fogo poderia ser discutido pelos chanceleres americano e russo, John Kerry e Serguei Lavrov, às 19H00 GMT (17h00 de Brasília) em Hamburgo (Alemanha).
Em entrevista ao jornal sírio Al-Watan, que será publicada na quinta-feira e à qual a AFP teve acesso, o presidente sírio, Bashar Al-Assad, afirmou que vencer em Aleppo "não significará o fim da guerra na Síria", mas "será um grande passo para esse fim".
Perguntado sobre a possibilidade de decretar uma trégua em Aleppo, Assad disse que ela é "praticamente inexistente, logicamente".
"Os americanos, em particular, estão insistindo em pedir uma trégua porque seus agentes terroristas estão agora em uma situação difícil", declarou.
Situação 'dolorosa'
O avanço do regime acelera o êxodo da população: 80.000 pessoas fugiram da zona leste de Aleppo desde o início, em 15 de novembro, da ofensiva do regime, segundo informou nesta quarta-feira a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Os combatentes rebeldes se retiraram das partes da área antiga que ainda controlavam depois que as tropas do regime de Bashar al-Assad reconquistaram os bairros vizinhos de Bab al-Hadid e Aqyul.
"Recuaram pelo temor de um cerco na área antiga", explicou a ONG.
O exército sírio e seus aliados avançam rapidamente na parte leste de Aleppo e já controlam mais de 75% da área, incluindo toda a parte ao leste da cidadela histórica.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, julgou "dolorosa" a situação dos civis em Aleppo, após ter solicitado um cessar-fogo na área.
Coronel russo morto
Ao todo, ao menos 369 civis, entre eles 45 crianças, morreram nesta área desde o início da ofensiva.
Do outro lado, a zona oeste da cidade, controlada pelo regime, é alvo diário de tiros rebeldes, que provocaram a morte de 92 civis, incluindo 34 crianças, desde o dia 15.
Além disso, um coronel russo, Ruslan Galitsky, assessor militar na Síria, morreu em Aleppo após um bombardeio dos rebeldes, anunciou nesta quarta-feira o exército russo.
O oficial, de um dos mais altos escalões já mortos na Síria desde o início da intervenção russa, ficou ferido há alguns dias durante um ataque rebelde com artilharia a oeste de Aleppo, uma zona sob controle governamental.
Mais de 20 militares russos morreram na Síria desde 30 de setembro de 2015, quando a Rússia começou a intervir no conflito em apoio ao regime de Bashar al-Assad.
'Não dormimos'
"Nós não dormimos, a situação é muito difícil", disse à AFP Um Abdu, uma mulher de 30 anos que deixou o bairro de Bab al-Hadid com seu marido, seus cinco filhos e sua mãe. "Os últimos quatro dias foram muito estressantes", acrescentou.
Hassan Atleh, que deixou seu bairro de Bayada, relata as dificuldades que teve para comprar bens de primeira necessidade desde o início do cerco de Aleppo em julho.
"Os aumentos de preços foram surpreendentes. Foi muito difícil conseguir leite ou fraldas para o meu filho de 8 meses. Felizmente as pessoas ajudam umas as outras", declarou.