Em estado de choque, a família de Anis Amri, principal suspeito do ataque de Berlim, afirma que ele havia deixado sua cidade da Tunísia com a esperança de encontrar uma vida melhor na Europa.
Em frente à casa da família, em um bairro popular de Ueslatia (centro), Abdelkader, com os olhos vermelhos, relata à AFP a trajetória de seu irmão, o mais novo da família, alvo de um mandado de prisão europeu.
Em março de 2011, Anis Amri deixou a Tunísia ilegalmente por mar até a ilha italiana de Lampedusa, fugindo de uma condenação à revelia a quatro anos de prisão por furto e roubo, indicou Abdelkader à AFP. Uma autoridade da segurança confirmou à AFP esta informação.
Além da condenação, "Anis também partiu para escapar da pobreza. Ele não tinha futuro na Tunísia e ele estava desesperado para melhorar a situação financeira da nossa família que vive abaixo da linha de pobreza, como a maioria das pessoas de Ueslatia", diz Abdelkader.
"Ele vivia como todos os jovens, bebia (álcool), não era de oração, nem nada", conta Walid, outro irmão desta grande família.
Chegando na Itália, Anis foi colocado em um centro como outros clandestinos e condenado a quatro anos de prisão por atear fogo a um edifício, segundo Abdelkader.
"Em 2015, ele se mudou para a Alemanha, onde tentou resolver sua situação. Ele trabalhou ilegalmente nos campos", disse ele.
"Ele entrava em contato com a gente via Facebook, disse que queria voltar para a Tunísia, mas que antes tinha de ganhar algum dinheiro (...) Dez dias antes do ataque, ele nos disse que pretendia voltar para casa em janeiro", relata Walid.
Esta foi a última vez que a família diz ter estado em contato com ele.
"Ele dava risadas. Não havia nenhuma evidência de que poderia ter se radicalizado. Tenho certeza de que ele não faria uma coisa dessas. Ele não emigrou para isso!", afirma Abdelkader, que irrompeu em lágrimas, lembrando que Anis completa 24 anos nesta quinta-feira.
"Eu queria lhe dizer 'Feliz Aniversário'", diz.
Mas a dúvida também paira sobre Abdelkader: "Se o meu irmão é o autor do ataque, eu diria a ele: você nos envergonha"
Em frente à casa, a mãe pede à multidão curiosa que saia. "Por favor, sejam compreensivos, nos deixem em paz na nossa miséria", implora.
Com mais de sessenta anos, o pai Mustapha, em sua charrete, procura como todos os dias um cliente para transportar sua mercadoria.
"Olhe para o meu pai (...), na sua idade, ele ainda trabalha. Aqui em Ueslatia, aquele que não trabalha morre de fome", lamenta Abdelkader.
Seu amigo Fauzi também expressa a sua raiva.
"Diga (ao presidente tunisiano) Béji Caid Essebsi para cuidar da juventude. Estamos cansados dessa marginalização!", ressalta.
A revolução que derrubou em 2011 a ditadura de Zine El Abidine Ben Ali foi em grande parte motivada pela pobreza e as disparidades regionais.
Abdelkader também critica as autoridades do seu país que hesitaram em autorizar a deportação da Alemanha de seu irmão Anis, que teve seu pedido de asilo rejeitado em junho.
O ataque, realizado na segunda-feira à noite contra um mercado de Natal em Berlim e reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), deixou 12 mortos e dezenas de feridos.
De acordo com um oficial da segurança de Ueslatia, Anis foi recrutado pelo grupo na Itália.
Os jornais tunisinos não escondiam sua raiva nesta quinta-feira. "Estes filhos malditos que ferem o país", era a manchete do jornal de língua francesa La Presse.
"Inútil esconder a face. Cada vez que um ataque terrorista ocorre no mundo, os tunisianos prendem a respiração. A razão para isso, porque muitas vezes um filho maldito é responsável por um atentado", acrescentou o jornal, referindo-se em particular ao atentado de Nice que fez 86 mortos em julho.
Mas Walid não quer acreditar na culpa de seu irmão. "Denunciamos as acusações contra meu irmão! Nós o conhecemos! Ele não fez nada!".