Trégua segue de pé pelo segundo dia na Síria

Rússia busca obter apoio do Conselho de Segurança da ONU para colocar fim ao conflito na Síria
AFP
Publicado em 31/12/2016 às 13:04
Rússia busca obter apoio do Conselho de Segurança da ONU para colocar fim ao conflito na Síria Foto: ABD DOUMANY / AFP


As frentes de combate na Síria viviam neste sábado seu segundo dia de calma, apesar de algumas hostilidades, enquanto a Rússia busca obter o apoio do Conselho de Segurança a esta trégua, que abriria caminho a negociações para colocar fim ao conflito.

O cessar-fogo, do qual estão excluídos os grupos extremistas Estado Islâmico (EI) e Fateh al-Sham, deve ser o prelúdio das negociações de paz previstas para o fim de janeiro no Cazaquistão, auspiciadas por Moscou e Teerã, aliados do regime, e Ancara, que apoia os rebeldes. 

Pelo segundo dia consecutivo, "a calma reina na maioria das regiões sírias" no âmbito da aplicação de uma trégua, a primeira desde setembro, que entrou em vigor na quinta-feira à meia-noite, informou o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman. 

"Ocorrem apenas alguns confrontos e bombardeios de artilharia do regime na região de Wadi Barada, perto de Damasco, e na cidade de Deraa (sul)", disse à AFP o responsável.

Wadi Barada é uma das principais áreas de abastecimento de água potável para os quatro milhões de habitantes da capital síria e seus arredores. O governo acusa os rebeldes de terem "contaminado com diesel" a água que chega a Damasco. 

Aproveitando o cessar-fogo, as crianças puderam voltar à escola na província de Idlib, controlada pelo Fatah al-Sham (ex-Frente al-Nosra, braço da Al-Qaeda na Síria), um grupo considerado "terrorista" por Washington e Moscou.

- Aliança complicada -

Desde o início da trégua, dois civis morreram, um deles vítima de um franco-atirador em Duma, perto de Damasco, e o outro em um bombardeio perto de Wadi Barada, onde os confrontos persistem há uma semana entre o regime e os rebeldes aliados do Fateh al-Sham. 

Como nas tréguas anteriores, que fracassaram poucos dias depois, a aliança de insurgentes com o Fateh al-Sham complica a implementação do cessar-fogo. 

Muito debilitados, estes grupos rebeldes não podem se distanciar da formação extremista, que conta com melhores equipamentos e tem um papel militar chave na batalha contra o regime. Nas regiões sob o seu controle, os rebeldes são seus aliados. 

"Não se deve excluir nenhum grupo em Idlib, caso contrário a trégua fracassará", afirmou Mohamad, de 28 anos, que espera que este conflito, que já deixou mais de 310.000 mortos e milhões de refugiados desde 2011, seja resolvido.

O EI, por sua vez, atua sozinho nas regiões que controla, no norte da Síria, e continua sendo o alvo dos bombardeios russos, americanos, turcos e sírios. 

De acordo com o Pentágono, o seu líder, Abu Bakr al Baghdadi, ainda está vivo, apesar dos esforços da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos para eliminá-lo.

- 'Diálogo produtivo' -

Pela primeira vez desde o início do conflito, os Estados Unidos, que apoiam a oposição, foram excluídos das negociações de cessar-fogo. 

A Rússia, por sua vez, espera obter o apoio do Conselho de Segurança da ONU para sua iniciativa, através de uma resolução "por unanimidade". 

O embaixador russo na ONU, Vitaly Churkin, disse ter apresentado um projeto de resolução para "aprovar" o plano e que esperava uma votação neste sábado. 

Para o enviado da ONU na Síria, Staffan de Mistura, este acordo "abrirá caminho a um diálogo produtivo", mas reiterou que deseja que as negociações através da ONU persistam no próximo ano. 

Em uma entrevista publicada neste sábado, De Mistura declarou que a resolução da ONU que prevê uma transição política na Síria ainda está sobre a mesa. 

"Temos agora diante de nós outra situação: uma negociação entre o regime de Assad e os rebeldes", disse ao jornal italiano Corriere della Sera. 

As negociações que Moscou quer organizar na capital do Cazaquistão, Astana, estão programadas para o final de janeiro, segundo Churkin, antes das negociações inter-sírias auspiciadas pela ONU, previstas para 8 de fevereiro em Genebra.

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