A candidata da extrema direita, Marine Le Pen, e o centrista pró-europeu, Emmanuel Macron, protagonizaram ataques virulentos na noite desta quarta-feira (3), no grande debate presidencial realizado a quatro dias do segundo turno da eleição na França, no próximo domingo (7).
"Você é o queridinho do sistema e das elites", disparou Le Pen, que deu início a este duelo pontuado pela tensão e acompanhado por milhões de telespectadores.
"Sua estratégia é dizer um monte de mentiras", devolveu Macron.
"O senhor Macron é o candidato da globalização selvagem, da 'uberização', da precariedade, da brutalidade social, da guerra de todos contra todos, da pilhagem econômica, sobretudo, dos nossos grandes grupos, do desmantelamento da França por parte dos grandes interesses econômicos, do comunitarismo", atacou Le Pen.
"A senhora é a herdeira de um sistema que há décadas prospera com a ira dos franceses", devolveu o candidato do movimento Em Marcha!.
Os dois candidatos trocaram duras acusações sobre seu posicionamento no combate ao terrorismo islâmico.
"A segurança e o terrorismo são uma problemática maior, totalmente ausente do seu projeto", criticou Le Pen, elevando o tom.
"O senhor não tem um projeto, mas além disso tem uma complacência com o fundamentalismo islâmico", acusou Le Pen.
O adversário respondeu, criticando a adversária por "trazer a guerra civil" para a França.
"A senhora traz a guerra civil para o país (...) Lutar contra os terroristas não é, em nenhum caso, ceder à armadilha da guerra civil", afirmou, acrescentando que essa é a armadilha "que os terroristas montam para nós".
Macron tratou de destacar a "fragilidade" do programa da líder da extrema direita, especialmente em relação à sua política econômica protecionista e à promessa de abandonar a zona do euro, apesar de a proposta não aparecer nos últimos dias entre as prioridades de Le Pen.
"O euro é a moeda dos banqueiros, e não a moeda do povo. Esta é a razão pela qual devemos abandonar esta moeda", afirmou Le Pen, defendendo sua proposta de retomar uma moeda nacional francesa.
"As grandes empresas não poderão pagar em euros de um lado e remunerar seus funcionários em francos, do outro. Isto não faz sentido!" - declarou Macron, um fiel defensor da União Europeia, que advoga uma zona do euro com orçamento próprio e ministro das Finanças.
Le Pen afirmou que "a França será dirigida por ela ou por (Angela) Merkel", após acusar Macron de não fazer nada sem a benção da chanceler alemã.
"De qualquer modo, a França será dirigida por uma mulher, Merkel ou eu", disse Le Pen em outro trecho quente do debate.
Após dez dias de uma campanha virulenta entre os dois turnos eleitorais, Emmanuel Macron, primeiro colocado no primeiro turno, é apontado como o favorito a vencer em 7 de maio, segundo as pesquisas, com cerca de 60% das intenções de voto, embora tenha perdido pontos desde o primeiro turno, em 23 de abril. A vantagem parece diminuir para Le Pen, porém, que tem se mostrado bastante ofensiva.
Em um pleito muito acompanhado no exterior, os dois candidatos devem convencer os muitos eleitores indecisos a lhes dar seu voto. Segundo pesquisas, 20% dos franceses estão indecisos, e 30% poderão se abster (10% a mais do que em 2012).
Os dois programas são opostos um ao outro: liberal e pró-europeu, no caso de Emmanuel Macron; anti-imigração, anti-europeu e antissistema, no de Marine Le Pen.
Ele agrada, sobretudo, aos jovens urbanos, às classes médias e aos meios financeiros. Ela tem entre seus principais apoiadores as classes populares, as rurais e atrai os franceses decepcionados, vítimas de um desemprego endêmico.
"Não são apenas duas personalidades, dois projetos, mas duas concepções da França, da Europa e do mundo" que se enfrentam, avaliou o presidente François Hollande, que declarou seu apoio a Macron.
Rito tradicional da vida política francesa desde 1974, o debate televisionado entre dois turnos constitui um momento forte e, muitas vezes, decisivo das campanhas presidenciais.
A derrota do conservador François Fillon e do esquerdista Jean-Luc Mélenchon, que obtiveram cada um 20% dos votos no primeiro turno, deixou um gosto amargo em parte dos franceses, que se recusam a escolher entre Macron e Le Pen.
"Estamos em uma zona de perigo absoluto. Não vamos jogar a roleta russa com a democracia", advertiu nesta quarta-feira a ministra socialista da Educação, Najat Vallaud-Belkacem.
Macron, um jovem político de 39 anos que pode se tornar, em 7 de maio, o presidente mais jovem da história da França, é a última trincheira diante de Le Pen, que se autoproclama a "candidata do povo" e tenta apresentar seu adversário como o herdeiro do impopular presidente socialista, François Hollande, de quem foi ministro da Economia durante dois anos (2014-2016).
Segundo pesquisa realiza com os espectadores após o debate, 63% acharam Macron mais convincente, contra 34% favoráveis a Le Pen.