O Parlamento da região autônoma do Curdistão iraquiano aprovou, de forma unânime, nesta sexta-feira (15), a realização de um referendo de independência em 25 de setembro, na ausência da oposição que boicotou a sessão parlamentar.
Após o voto a mão erguida, o vice-presidente do Parlamento, Jaafar Aimenky, que presidiu a sessão, indicou que o referendo será realizado na data prevista após "a votação unânime dos 65 deputados presentes".
Este referendo preocupa os países vizinhos, como Turquia e Irã, que temem que as ideias separatistas de Erbil se propaguem para suas próprias comunidades curdas.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reagiu, garantindo, em pronunciamento pela televis]ao, que a realização de um referendo "é uma coisa muito, muito ruim".
"Se se atreverem a declarar um Estado independente, nem todo mundo vai aprovar", acrescentou.
O Conselho de Segurança turco deve se reunir em 22 de setembro para adotar uma posição oficial.
Também inquieta os Estados Unidos, que consideram a consulta popular um obstáculo na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), conduzida junto com os curdos.
Em uma tentativa de adiar a votação, na quinta-feira, os Estados Unidos e outros países apresentaram ao presidente curdo, Massud Barzani, um projeto com alternativas ao referendo, segundo o enviado americano da coalizão que combate os extremistas no Iraque, Brett McGurk.
Insistindo na independência como a "única" opção para seu povo, o presidente curdo se comprometió a responder "rápidamente".
Há mais de dois anos o Parlamento curdo não se reunia e foi após longas negociações que o Partido Democrático do Curdistão (PDK), de Barzani, conseguiu entrar em acordo com as demais formações curdas - a União Patriótica do Curdistão (UPK), de Khalal Talabani, e o Goran, para reabrir uma sessão parlamentar.
O Parlamento federal chegou a votar em duas ocasiões contra o referendo de independência. Em ambas as vezes, os deputados curdos abandonaram a sala em protesto.
Na terça-feira, o Parlamento federal votou contra a realização deste referendo para "proteger a unidade do Iraque" e, na quinta-feira, destituiu o governador da província de Kirkuk - rica em petróleo e alvo de disputas territoriais entre o governo de Bagdá e as autoridades curdas - por decidir, contra a opinião do governo iraquiano, organizar o referendo em sua região.
Desde 1991, o Curdistão iraquiano dispõe de certa autonomia, que foi estendida ao longo dos anos.
Ao anunciar a data do referendo em junho, Barzani enviou um sinal claro, segundo os especialistas, de que o Iraque entrava em uma nova fase.
Depois de três anos de luta para expulsar os extremistas islâmicos - que chegaram a controlar um terço do território iraquiano -, o país volta a se concentrar em seus problemas confessionais e étnicos de antes da chegada do EI.
Há temores quanto a possíveis confrontos entre os peshmergas (combatentes curdos) e as muitas unidades paramilitares espalhadas por todo país, que poderiam disputar as áreas reconquistadas das mãos dos extremistas.
O influente comandante xiita Hadi al-Ameri, chefe da organização Badr - poderoso grupo paramilitar iraquiano apoiado pelo Irã -, multiplicou recentemente as advertências contra uma "guerra civil".
Na quinta-feira, a Turquia alertou que a organização do referendo "terá um preço", um posicionamento capaz de comprometer a viabilidade de um possível Estado curdo, enquanto o Curdistão iraquiano obtém a maior parte da sua receita com a exportação de petróleo através de um gasoduto que chega ao porto turco de Ceyhan.
Os próprios 5,5 milhões de curdos iraquianos convocados a votar sobre a independência estão divididos sobre a oportunidade de realizar esta consulta neste momento.