França lidera esforços na ONU para manter EUA no Acordo de Paris

Observadores internacionais especulam uma mudança de postura dos Estados Unidos quanto ao Acordo de Paris após a passagem dos furacões Harvey e Irma
AFP
Publicado em 18/09/2017 às 19:27
Observadores internacionais especulam uma mudança de postura dos Estados Unidos quanto ao Acordo de Paris após a passagem dos furacões Harvey e Irma Foto: Foto: Xinhua/Jack Chan


A França lidera esforços nesta segunda-feira para convencer o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a permanecer no Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, do qual o governo Trump insiste em se retirar.

"Temos em conta as declarações do presidente (Donald) Trump sobre sua intenção de não respeitar o Acordo de Paris, até agora não se tomou nenhuma medida, ainda podemos esperar convencê-lo", disse o ministro francês de Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, em uma coletiva de imprensa paralela à Assembleia Geral da ONU.

"É necessário que a pressão internacional seja forte e que não detenhamos a implementação do acordo", acrescentou, lembrando que o presidente francês, Emmanuel Macron, convocou uma cúpula sobre o clima para 12 de dezembro em Paris.

No fim de semana, durante uma reunião de ministros de Meio Ambiente de 30 países em Montreal, um responsável europeu declarou que os Estados Unidos aparentemente estavam suavizando sua postura sobre o Acordo de Paris, abrindo a porta para uma revisão das condições sob as quais poderia se comprometer.

No entanto, a Casa Branca reiterou através do seu porta-voz que os Estados Unidos vão se retirar do pacto, a não ser que os termos sejam mais favoráveis aos interesses dos Estados Unidos.

Nesta segunda-feira, durante um café da manhã de ministros do Meio Ambiente em Nova York com o assessor econômico de Trump, Gary Cohn, a posição dos Estados Unidos foi reafirmada "muito claramente", indicou um funcionário da Casa Branca.

Trump, cujo Partido Republicano tem fortes laços com a indústria de combustíveis fósseis, assegura que o acordo é injusto para a economia americana.

Ministros de Energia de "países aliados e sócios dos Estados Unidos" compareceram ao café da manhã com Cohn, segundo o funcionário, que não detalhou quais nações estiveram representadas.

Após o golpe dos furacões Harvey e Irma, que segundo cientistas foram mais violentos devido ao aquecimento global, observadores especularam uma mudança de postura de Washington.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse nesta segunda-feira que não há tempo a perder, e que desde 2008 mais de 20 milhões de pessoas foram deslocadas por inundações, furacões e outros eventos extremos ligados às mudanças climáticas.

"Em Paris, estivemos à altura de um desafio mundial. Agora temos um desafio ainda maior: aumentar a ambição e manter o rumo", disso Guterres.

Fiel à sua promessa eleitoral, Trump anunciou em 1 de junho a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris para limitar o aquecimento global, assinado em dezembro de 2015 por 195 países na capital francesa. Apenas Nicarágua e Síria ficaram de fora, o primeiro por querer um acordo mais estrito, o segundo pela guerra.

No entanto, a notificação oficial de retirada só terá efeito três anos após a entrada em vigor do pacto, efetiva desde 4 de novembro de 2016. Após esse prazo, há ainda um pré-aviso de um ano para poder abandonar o acordo realmente.

- Ação a nível local -

Jerry Brown, o governador da Califórnia, o estado mais povoado dos Estados Unidos, participou nesta segunda-feira de uma reunião sobre o clima convocada por Guterres e combinou um encontro de atores não governamentais sobre o clima para o ano que vem.

"Os Estados Unidos não são manipulados por Donald Trump", disse Brown.

"Somos um países com vários centros de poder, e mobilizar os que ainda não são controlados pelo presidente ainda é uma meta muito poderosa, que vale a pena", acrescentou.

O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, que é atualmente o enviado especial da ONU sobre cidades e mudanças climáticas, brincou sobre a posição americana: "Estamos dentro, estamos fora, estamos dentro, estamos fora".

Bloomberg disse que mesmo sem apoio de Trump, o país ainda poderia cumprir as metas de redução de emissões poluentes estabelecidas durante o governo Obama.

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