Sob pressão, Hamas opta por reconciliação

Considerado um grupo terrorista por Israel, EUA e União Europeia, o Hamas tenta se aproximar de antigos inimigos diante de uma crise humanitária
AFP
Publicado em 22/09/2017 às 18:44
Considerado um grupo terrorista por Israel, EUA e União Europeia, o Hamas tenta se aproximar de antigos inimigos diante de uma crise humanitária Foto: SAID KHATIB / AFP


Isolado, confrontado com uma grave crise humanitária e um menor apoio do Catar, o movimento palestino Hamas, no poder em Gaza, tenta se aproximar de antigos aliados e velhos inimigos.

Assim, a formação islamita anunciou esta semana que cederá aos pedidos do Fatah de Mahmoud Abbas, seu adversário político na Cisjordânia ocupada, em vias de uma reconciliação palestina.

Reconhecida pela comunidade internacional, a Autoridade Palestina do presidente Abbas está em luta aberta com o Hamas desde que o movimento a expulsou da Faixa de Gaza, o que quase causou uma guerra civil em 2007.

Desde então, todas as tentativas de reconciliação fracassaram.

O Hamas também tenta reconstruir a sua relação com Irã e Egito, que acabou mal por diversas razões.

Considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, o movimento palestino enfrenta uma grave crise humanitária na Faixa de Gaza, onde governa.

No enclave palestino, devastado por três guerras com Israel desde 2008, falta energia elétrica e água potável, e suas taxas são uma das mais altas do mundo.

Além disso, está submetido a um bloqueio por parte de Israel há uma década, enquanto o Egito mantém fechado praticamente o tempo todo o seu ponto de passagem com Gaza nestes últimos anos.

E o Catar, um dos principais apoios financeiros do Hamas, diminuiu recentemente a sua ajuda, segundo os analistas, congelando alguns projetos.

A Autoridade Palestina também aumentou a pressão sobre esse território, reduzindo os pagamentos do fornecimento de eletricidade e os salários dos funcionários de Gaza.

Milhares de cidadãos da Faixa de Gaza se manifestaram em janeiro, cansados com os cortes de energia, complicando ainda mais a situação do Hamas.

- Reabrir a fronteira -

O movimento islamita quer que reabram a fronteira com o Egito para aliviar o asfixiante bloqueio em seu território, para o qual teve que se comprometer em agir a favor de uma reconciliação palestina defendida pelo Cairo.

As relações entre o Cairo e o Hamas se tensionaram bruscamente em 2013 depois que o Exército derrubou o presidente Mohamed Morsi, líder da Irmandade Muçulmana, de onde saiu o Hamas.

"A história da reconciliação é um teatro destinado a um público majoritariamente egípcio", declarou à AFP Grant Rumley, pesquisador do gabinete americano Foundation for Defense of Democraties.

No entanto, Rumley duvida que as medidas anunciadas pelo Hamas se traduzam em mudanças concretas.

- Apoio iraniano -

Os novos dirigentes do Hamas também aproximaram posições com o Irã, antigo aliado e adversário de Israel, enviando a Teerã responsáveis em uma visita secreta, indicaram membros do movimento islamita e analistas.

Durante anos, Teerã foi o principal mentor do Hamas, até que este se distanciou do governo sírio de Bashar al-Assad no início da guerra na Síria, em 2011, enquanto o Irã é um dos principais aliados de Assad.

Segundo uma fonte do Hamas, o apoio financeiro iraniano supera os 15 milhões de dólares mensais.

No mês passado, o dirigente do Hamas, Yahya Sinuar, declarou que o Irã era novamente o "principal provedor" de "armas, finanças e treinamentos" do braço armado do Hamas em Gaza.

Uma aproximação que também beneficiaria Teerã, pois o "Hamas é uma frente avançada (...) na fronteira com Israel", considerou o cientista político de Gaza Ahmed al-Wadia.

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