Isolado, confrontado com uma grave crise humanitária e um menor apoio do Catar, o movimento palestino Hamas, no poder em Gaza, tenta se aproximar de antigos aliados e velhos inimigos.
Assim, a formação islamita anunciou esta semana que cederá aos pedidos do Fatah de Mahmoud Abbas, seu adversário político na Cisjordânia ocupada, em vias de uma reconciliação palestina.
Reconhecida pela comunidade internacional, a Autoridade Palestina do presidente Abbas está em luta aberta com o Hamas desde que o movimento a expulsou da Faixa de Gaza, o que quase causou uma guerra civil em 2007.
Desde então, todas as tentativas de reconciliação fracassaram.
O Hamas também tenta reconstruir a sua relação com Irã e Egito, que acabou mal por diversas razões.
Considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, o movimento palestino enfrenta uma grave crise humanitária na Faixa de Gaza, onde governa.
No enclave palestino, devastado por três guerras com Israel desde 2008, falta energia elétrica e água potável, e suas taxas são uma das mais altas do mundo.
Além disso, está submetido a um bloqueio por parte de Israel há uma década, enquanto o Egito mantém fechado praticamente o tempo todo o seu ponto de passagem com Gaza nestes últimos anos.
E o Catar, um dos principais apoios financeiros do Hamas, diminuiu recentemente a sua ajuda, segundo os analistas, congelando alguns projetos.
A Autoridade Palestina também aumentou a pressão sobre esse território, reduzindo os pagamentos do fornecimento de eletricidade e os salários dos funcionários de Gaza.
Milhares de cidadãos da Faixa de Gaza se manifestaram em janeiro, cansados com os cortes de energia, complicando ainda mais a situação do Hamas.
O movimento islamita quer que reabram a fronteira com o Egito para aliviar o asfixiante bloqueio em seu território, para o qual teve que se comprometer em agir a favor de uma reconciliação palestina defendida pelo Cairo.
As relações entre o Cairo e o Hamas se tensionaram bruscamente em 2013 depois que o Exército derrubou o presidente Mohamed Morsi, líder da Irmandade Muçulmana, de onde saiu o Hamas.
"A história da reconciliação é um teatro destinado a um público majoritariamente egípcio", declarou à AFP Grant Rumley, pesquisador do gabinete americano Foundation for Defense of Democraties.
No entanto, Rumley duvida que as medidas anunciadas pelo Hamas se traduzam em mudanças concretas.
Os novos dirigentes do Hamas também aproximaram posições com o Irã, antigo aliado e adversário de Israel, enviando a Teerã responsáveis em uma visita secreta, indicaram membros do movimento islamita e analistas.
Durante anos, Teerã foi o principal mentor do Hamas, até que este se distanciou do governo sírio de Bashar al-Assad no início da guerra na Síria, em 2011, enquanto o Irã é um dos principais aliados de Assad.
Segundo uma fonte do Hamas, o apoio financeiro iraniano supera os 15 milhões de dólares mensais.
No mês passado, o dirigente do Hamas, Yahya Sinuar, declarou que o Irã era novamente o "principal provedor" de "armas, finanças e treinamentos" do braço armado do Hamas em Gaza.
Uma aproximação que também beneficiaria Teerã, pois o "Hamas é uma frente avançada (...) na fronteira com Israel", considerou o cientista político de Gaza Ahmed al-Wadia.