O presidente Vladimir Putin anunciou que a Rússia destruirá, nesta quarta-feira (27), suas últimas reservas de armas químicas, herdadas da época da Guerra Fria.
"Hoje, as últimas reservas de armas químicas do arsenal russo serão destruídas", declarou Putin, segundo imagens transmitidas pela televisão russa.
"É um passo enorme para um mundo mais equilibrado, mais seguro", acrescentou o presidente russo, que falou por videoconferência com os responsáveis pela destruição das últimas reservas situadas em Kizner, na região do Volga.
Putin disse ainda que "infelizmente, os Estados Unidos não cumprem suas obrigações" na matéria.
"Eles já adiaram três vezes a data da destruição, inclusive com desculpa de falta de orçamento, o que, francamente, me parece estranho, mas, bom... Esperamos que, francamente, os Estados Unidos e outros países cumpram seus compromissos adotados no âmbito de acordos internacionais", convocou.
A Organização para Proibição de Armas Químicas (Opaq) comemorou o anúncio e felicitou a Rússia.
"O encerramento do programa de destruição verificada das armas químicas da Rússia é uma etapa importante, visando a atingir as metas da Convenção sobre Armas Químicas", declarou o diretor-geral da Opaq, Ahmet Üzümcü, em um comunicado.
Rússia e Estados Unidos, que acumularam enormes reservas de armas químicas durante a Guerra Fria, haviam-se comprometido a destruí-las antes de abril de 2012, ao fim da Convenção de 1997 sobre a Proibição das Armas Químicas.
Depois, anunciaram que não poderiam respeitar o calendário fixado, alegando precisar de mais tempo. Enquanto a Rússia fez um primeiro adiamento para dezembro de 2015, voltando a adiá-lo para 2020, os Estados Unidos estabeleceram um novo prazo para 2023.
Cerca de 200 países adotaram a Convenção de 1997, que proíbe a produção, o armazenamento e o uso de armas químicas. Segundo a Opaq, 96% das armas declaradas pelos países signatários foram destruídas sob sua supervisão.
A questão das armas químicas voltou a ganhar destaque, depois que os países ocidentais acusaram o governo sírio - aliado russo - de usar gás sarin durante um bombardeio contra a localidade de Khan Sheikhun em julho. No ataque, 87 pessoas morreram.
Acusações similares foram lançadas em 2014 e em 2015 contra o governo sírio, que já havia firmado a Convenção em 2013.
Na Rússia, serão destruídas 39.967 toneladas de armamento químico, segundo a agência de notícias Interfax.
"Foram necessários 20 anos, 316 bilhões de rublos (4,7 bilhões de euros no câmbio atual) e o trabalho incansável de dezenas de milhares de pessoas", destaca o documento do Kremlin, confirmando a destruição das últimas reservas.
Para se livrar dessa carga, a Rússia criou sete centros de destruição no país, em funcionamento desde 2005. Seis foram fechados em 2015, e o de Kizner era o derradeiro em atividade.
As últimas reservas destruídas em Kizner eram um agente neurotóxico, o VX, uma versão mais letal do gás sarin.
"Durante todo esse trabalho, nunca houve uma situação de urgência. Não apenas em matéria de acidente, mas nenhuma violação das condições de segurança, as quais poderiam ter tido consequências", observou o representante do presidente russo na região do Volga, Mikhaïl Babitch, citado pelas agências de notícias russas.