Brasil avalia pedido de extradição de Battisti feito pela Itália

Condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos cometidos nos anos 1970, Battisti foi detido nesta semana no Mato Grosso do Sul
AFP
Publicado em 07/10/2017 às 10:50
Condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos cometidos nos anos 1970, Battisti foi detido nesta semana no Mato Grosso do Sul Foto: Foto: FABIO MARCHI / AFP


O Brasil analisa a possível extradição de Cesare Battisti, solicitada pela Itália, informou nesta sexta-feira (6) uma fonte do governo, 48 horas depois de o ex-militante de extrema esquerda ser preso ao tentar ir para a Bolívia com uma quantia de dinheiro em espécie.

Condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos cometidos nos anos 1970, Battisti foi detido no Mato Grosso do Sul e um juiz federal decretou a sua prisão preventiva por suspeitar que tentava fugir para evitar ser entregue ao seu país.

O Tribunal Regional da 3ª Região concedeu habeas corpus e Battisti foi solto na noite dessa sexta-feira, em Corumbá.

Uma fonte do Palácio do Planalto, que pediu para não ser identificada, revelou que "o presidente aguarda a manifestação do Ministério da Justiça e do Ministério das Relações Exteriores para tomar uma decisão" sobre a extradição de Battisti.

Este novo capítulo de uma longa saga com questões diplomáticas e judiciais começou na quarta-feira durante uma inspeção de rotina na cidade de Corumbá, fronteiriça com a Bolívia, quando a polícia prendeu Battisti e outros dois homens levando 6.000 dólares e 1.300 euros sem declarar.

"O contexto geral da ocorrência faz concluir, ao menos em caráter provisório, que Cesare Battisti procurava se evadir do território nacional, temendo ser efetivamente extraditado", disse o juiz federal Odilon de Oliveira na sentença de prisão preventiva emitida na quinta-feira e à qual a AFP teve acesso.

"O fato de o custodiado estar se dirigindo a território estrangeiro, sem autorização do governo brasileiro (...) deve ser levado em consideração", acrescentou, fazendo alusão à condição de refugiado de Battisti, enquanto investiga um possível crime de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Desde quarta-feira o ex-militante de 62 anos convertido em escritor passa suas horas em uma delegacia sem condições para o cumprimento de longas condenações.

"Estamos esperando que o transfiram para um presídio logo. Aqui não há estrutura para ele ficar", disse à AFP um assessor da polícia desse distrito.

Pesca, jaqueta e vinho

Vestido com uma camiseta polo verde e com evidentes sinais de cansaço, Battisti declarou ao juiz que o dinheiro que levava era produto de seus direitos autorais obtidos na França e no Brasil, e que sua intenção era comprar artigos de pesca, uma jaqueta de couro e vinho no Shopping China, que acreditava ficar em uma "zona internacional" que não pertencia à Bolívia.

"Nunca tive intenção de sair do Brasil", disse por videoconferência, segundo o material disponibilizado pelo tribunal.

Battisti, que falou em português com um forte sotaque italiano, disse ter rendimentos mensais entre 8.000 e 10.000 reais e que se divorciou da mãe de seu filho mais novo, ambos de nacionalidade brasileira.

"Sinceramente, Excelência, eu nunca tive conhecimento que uma quantidade assim modesta de dinheiro... [que] com essa quantidade eu estava cometendo um delito", apontou.

Ex-integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, Battisti foi preso em junho de 1979, mas fugiu da prisão e foi para a França em 1981 e depois para o México, antes de voltar à França.

Após 15 anos beneficiado pela política do presidente socialista François Mitterrand de não extraditar nenhum militante de extrema esquerda que tivesse renunciado à luta armada, Battisti fugiu para o Brasil em 2004, durante o governo do conservador Jacques Chirac.

Em 2007, foi capturado no Rio e ficou quatro anos na cadeia, antes de ser libertado em 2011.

Em 2009, a pedido de Roma, o Supremo Tribunal Federal autorizou a sua extradição, mas esta foi negada em 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia de seu segundo mandato.

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