Espanha: feriado nacional é marcado por acidente aéreo e crise catalã

O primeiro-ministro Mariano Rajoy e o rei Felipe VI participaram do tradicional desfile militar
AFP
Publicado em 12/10/2017 às 11:40
O primeiro-ministro Mariano Rajoy e o rei Felipe VI participaram do tradicional desfile militar Foto: Foto: OSCAR DEL POZO / AFP


Em plena crise catalã, a Espanha celebra, nesta quinta-feira (12), seu feriado nacional, lamentando a morte de um piloto na queda de um avião de combate, enquanto milhares de pessoas protestavam em Barcelona pela unidade do país.

O primeiro-ministro Mariano Rajoy e o rei Felipe VI participaram do tradicional desfile militar ao longo da avenida do Paseo de la Castellana em Madri para comemorar a chegada de Cristóvão Colombo na América em 1492.

Mas o clima não é de festa na Espanha, confrontada com a crise política mais séria desde o retorno da democracia em 1977, com o desejo dos separatistas da Catalunha de selar a independência da região.

Além disso, o dia ficará marcado pelo luto após a morte de um piloto no acidente de seu Eurofighter depois de participar do show aéreo do feriado nacional. O avião de combate caiu quando se aproximava da base aérea de Los Llanos, perto da cidade de Albacete, 300 km sudeste da capital.

Ao mesmo tempo, milhares de pessoas marchavam pelas ruas de Barcelona, ?entoando mensagens hostis aos líderes separatistas.

"Puigdemont na prisão", gritavam os manifestantes, em referência ao presidente regional Carles Puigdemont, que organizou no dia 1º de outubro um referendo de autodeterminação da Catalunha, apesar da oposição de Madri.

Na quarta-feira, Madri emitiu um ultimato ao presidente separatista, dando-o um prazo de até segunda-feira (16) às 10h00 (05h00 de Brasília) para "esclarecer" sua posição sobre a independência.

Defender a unidade

Se Puigdemont persistir, o governo estenderá o prazo até quinta-feira, 19 de outubro, às 10H00, antes de tomar medidas concretas segundo o Artigo 155 da Constituição, que prevê a suspensão total ou parcial da autonomia de uma região.

A suspensão da autonomia seria considerada por muitos catalães como uma afronta e poderia provocar distúrbios nesta região muito ligada a sua língua e cultura, e cuja autonomia foi restabelecida após a morte do ditador Francisco Franco (1939-1975).

Nesta quinta-feira, os opositores da independência desejavam mostrar que "a Catalunha não pertence" aos separatistas, de acordo com as palavras de Laura Peña, vendedora de 26 anos que participava da passeata em Barcelona.

"Todos os anos, saímos com a bandeira espanhola no dia do feriado nacional, e hoje temos mais uma razão que é a de defender a unidade nacional. A independência da Catalunha afetaria todos nós, não apenas os que vivem na Catalunha", acrescentou Raquel Martinez, uma estudante de 18 anos nascida na Andaluzia (sul).

A tensão entre os dois campos aumentou desde a organização do referendo proibido pela justiça, marcado pela violência policial. Os separatistas afirmam ter vencido o referendo com 90% dos votos e uma participação de 43%, números não verificáveis na ausência de uma comissão eleitoral independente.

Prudência e proporcionalidade

Em seu discurso na terça-feira no Parlamento catalão, Carles Puigdemont deixou em suspenso a declaração de independência da região para tentar abrir um diálogo com o governo espanhol.

Logo em seguida, Puigdemont, seu governo e os deputados secessionistas majoritários no Parlamento catalão assinaram uma declaração escrita de independência, que segundo o porta-voz do Executivo regional, Jordi Turull, foi um "ato simbólico".

Sobre a sessão de terça-feira, Rajoy disse que foi algo "absolutamente lamentável".

"Não há ninguém aqui que possa pensar que o que aconteceu ontem no Parlamento da Catalunha (...) foi algo normal, razoável e próprio de um país democrático".

O governo espanhol recebeu o apoio do Partido Socialista, principal partido de oposição, antes de acionar o Artigo 155 da Constituição.

"O Artigo 155 é uma disposição bastante ampla, pode-se modulá-lo e isso certamente é o que o governo vai fazer em uma ação orientada pela prudência e proporcionalidade", garantiu o ministro das Relações Exteriores, Alfonso Dastis, acrescentando: "Esperamos que não haja necessidade de usar a força".

Não se descarta a prisão de Carles Puigdemont e de sua comitiva como parte de um inquérito judicial já aberto por sedição, embora Dastis tenha dito que esperava "não chegar a esse ponto".

Madri já havia tomado uma medida excepcional em setembro, colocando as finanças da Catalunha sob tutela, e muitas empresas, preocupadas com a incerteza jurídica, retiraram sua sede da região.

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