O escândalo causado pela empreiteira brasileira Odebrecht colocou em xeque vários líderes latino-americanos, mas o peruano Pedro Pablo Kuczynski pode ser o primeiro presidente a perder o cargo.
O presidente comparece nesta quinta-feira (21) ante o Congresso para defender-se contra as acusações de que empresas ligadas a ele receberam quase cinco milhões de dólares por assessorar a empresa brasileira.
Seu destino parece estar selado: 93 dos 130 deputados do Parlamento peruano pediram a abertura do processo de impeachment, enquanto são necessários 87 votos para destituí-lo.
Sua provável saída levaria o Peru a um período de incerteza, impactando o crescimento econômico.
O caso Odebrecht, que reconheceu ter pago bilhões em propina para obter licitações, foi particularmente arrebatador no Peru.
O ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016) e sua esposa estão em prisão preventiva por supostamente receberem US$ 3 milhões para sua campanha. E contra o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) há um mandado de prisão e pedido de extradição dos Estados Unidos por supostamente beneficiar de 20 milhões.
O Equador também não foi poupado desse terremoto político.
Seu vice-presidente, Jorge Glas, foi condenado na quarta-feira passada a seis anos de prisão por associação ilícita após receber 13,5 milhões de dólares em subornos.
Sua condenação "marca uma ruptura com o ocultamento da corrupção ocorrida durante o governo de Rafael Correa" (2007-2017), de acordo com o cientista político Simón Pachano, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) em Quito.
O Brasil é o outro país onde a Odebrecht deixou vítimas, embora seja apenas um capítulo da Operação Lava Jato que investiga os subornos pagos por grandes empresas de construção a partidos e políticos para obter contratos com a Petrobras.
A empresa tinha um departamento dedicado à gestão e distribuição de propinas aos políticos.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) está com o laço em volta do pescoço por seu suposto envolvimento.
A Justiça investiga se a Odebrecht pagou um terreno para seu instituto em São Paulo e se ofereceu À sua família um apartamento.
No âmbito da Lava Jato, Lula foi condenado a nove anos e meio de prisão por receber um triplex em Guarujá.
Se sua condenação for confirmada em segunda instância, poderá ir à prisão e ficará de fora das eleições presidenciais de 2018.
Nesse sentido, o analista político Mauricio Santoro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ressalta que "a eventual queda do presidente peruano provavelmente será usada nas eleições brasileiras para criticar os governos do Partido dos Trabalhadores" de Lula e de Dilma Rousseff, destituída em 2016.
O diretor-executivo da empreiteira, Marcelo Odebrecht, foi condenado a 20 anos de prisão pelo caso, depois reduzido para dez. No dia 19 de dezembro, foi para o regime de prisão domiciliar por colaborar com a Justiça, depois de passar dois anos e meio em uma prisão em Curitiba.
Suas delações permitiram abrir investigações contra oito ministros do atual presidente, Michel Temer, um terço do Senado e cerca de 40 deputados.
O mandato do próprio Temer também foi atingido por denúncias sobre a suposta doação da Odebrecht para a candidatura presidencial da chapa com Dilma, embora a justiça eleitoral tenha absolvido em junho deste ano.
As garras da construtora brasileira também apontaram para a Venezuela, onde disse que havia desembolsado 98 milhões de dólares.
O presidente Nicolás Maduro se viu envolvido na polêmica, mas a justiça - acusada pela oposição de ser partidária - freou as acusações e descartou investigá-lo.
Os tentáculos também alcançaram dois filhos do ex-mandatário panamenho Ricardo Martinelli (2009-2014) e três de seus ministros, todos acusados, e o ex-diretor-geral da petroleira estatal Petroleos Mexicanos (Pemex), o único investigado em seu país e acusado de aceitar ao menos 10 milhões de dólares.