Os chanceleres do G20 trataram de assuntos-chave da agenda internacional em Buenos Aires, como a luta contra o terrorismo e as mudanças climáticas, além da situação da Venezuela, um dia após as polêmicas eleições presidenciais venezuelanas, que reelegeram Nicolás Maduro.
Em duas sessões a portas fechadas na sede da Chancelaria, os ministro das vinte maiores economias do mundo discutiram posições a favor do multilateralismo, embora tenham destacado a necessidade de promover práticas comerciais mais justas, disse uma fonte diplomática.
"O multilateralismo está exposto a pressões e por isso nos parece tão importante que o G20 dê respostas", declarou o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, ao afirmar que a rejeição ao protecionismo continua na agenda.
Sua postura foi apoiada por seu homólogo japonês, Taro Kono, que destacou a importância de se "robustecer o crescimento no mundo todo com o livre-comércio e a inovação".
"Queremos continuar fortalecendo o G20 para gerar sociedades inclusivas", afirmou em coletiva de imprensa.
Apesar de não constar da agenda oficial, a questão da Venezuela foi discutida em reuniões bilaterais e multilaterais nesta segunda-feira em Buenos Aires.
À margem da reunião, um grupo de países assinou uma declaração não reconhecendo os resultados das eleições presidenciais e anunciando que avaliam sanções contra Caracas.
Argentina, Austrália, Canadá, Chile, Estados Unidos e México ressaltaram que "essa eleição ilegítima é uma demonstração clara do rompimento da linha democrática na Venezuela", segundo o texto.
"Nossos países consideram neste momento possíveis medidas políticas, diplomáticas e financeiras punitivas ao regime autoritário de Maduro, tentando não afetar o povo venezuelano, que é a primeira vítima desta ruptura da democracia venezuelana", disse o comunicado, lido para a imprensa pelo chanceler argentino, Jorge Faurie.
Maduro, no poder desde 2013, venceu as eleições deste domingo com 68% dos votos, contra 21,2% para o ex-chavista Henri Falcón.
O processo foi marcado por uma abstenção de 52%, após o boicote convocado pela oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD), que considerou a eleição uma "farsa" para perpetuar Maduro no poder.
Segundo a declaração de Buenos Aires, "a solução para a crise da Venezuela deve ser alcançada de maneira pacífica e com o papel de liderança dos próprios venezuelanos".
Os ministros das Relações Exteriores também alertaram para o "alarmante agravamento da crise humanitária" na Venezuela e pediram ao governo de Maduro que "receba sem demora ajuda da comunidade internacional em alimentos e medicamentos, que são as necessidades essenciais do povo venezuelano neste momento".
Separadamente, o vice-secretário de Estado americano John Sullivan indicou que os Estados Unidos "continuarão a usar uma ampla gama de medidas econômicas e diplomáticas para impedir que o regime de Maduro destrua a democracia e a prosperidade da Venezuela".
Mais cedo, as eleições venezuelanas foram rechaçadas pelo Grupo de Lima, que reúne 14 países americanos, em meio ao crescente isolamento internacional de Maduro.
À frente do G20 neste ano, a Argentina tentou demonstrar otimismo, apesar de ter acabado de sofrer um choque cambial e negociar um auxílio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O presidente Mauricio Macri reafirmou o compromisso da Argentina "com a cooperação internacional.
"Queremos representar toda a potencialidade desta região do mundo. É uma região de paz, que pode oferecer muitíssimo em matéria de segurança alimentar e segurança energética", disse o mandatário.
A reunião ainda serviu para um intercâmbio entre as duas maiores potências econômicas, Estados Unidos e China, que reiteraram seus desejos a favor de uma resolução de sua disputa comercial, dias depois de alcançar um princípio de acordo para reduzir o déficit comercial americano.
Os diplomatas também trataram do futuro do emprego - uma prioridade da presidência argentina do G20 -, que inclui aspectos de interesse crescente no mundo, como a precarização e o acesso das mulheres à força de trabalho.
O G20 de chanceleres se reunirá novamente em setembro para preparar a cúpula de mandatários no fim do ano. Não foi emitida uma declaração final.