Investigação de procurador especial fecha cerco a Trump

Para especialistas em legislação, Trump está ficando sem margem para evitar possível impeachment ou que membros de sua família sejam levados a julgamento
AFP
Publicado em 24/08/2018 às 4:01
Para especialistas em legislação, Trump está ficando sem margem para evitar possível impeachment ou que membros de sua família sejam levados a julgamento Foto: MANDEL NGAN / AFP


O presidente americano, Donald Trump, está ficando sem margem para evitar um possível impeachment ou que os membros de sua família sejam levados a julgamento, afirmam especialistas em legislação. 

As condenações de dois ex-assessores antes muito próximos de Trump, demonstraram na terça-feira que seus ataques incessantes não impediram o avanço do procurador especial Robert Mueller na investigação de conluio com a Rússia e obstrução da Justiça. 

Embora se desconheça o alcance da ação que Mueller construiu contra o presidente e seu círculo mais próximo, o comportamento de Trump sugere que ele está sob intensa pressão. 

Especialistas afirmam que ele tem três opções, nenhuma delas muito animadora para o presidente. 

Cooperar com Mueller

Embora tenha dito várias vezes que não cometeu nenhum crime, Trump tem tentado desviar e atrasar a investigação e evitou por meses ser interrogado pelo procurador especial Mueller. 

Se realmente não tem nada a esconder, é uma estratégia ruim, diz Eric Freedman, professor de Direito Constitucional da universidade de Hofstra. 

"Deveria adotar e manter uma política de abertura", disse Freedman. Assim, poderia sustentar a estratégia da Casa Branca, que tacha de "caça às bruxas" a investigação de Mueller. 

O caminho sugerido por Freedman exigiria que Trump retirasse o apoio aos ex-colaboradores como o ex-chefe de campanha Paul Manafort, condenado nesta terça por fraude fiscal e bancária. 

Então, Trump poderia dizer que está "drenando o pântano" da corrupção em Washington e colocar-se "sob um manto de bom governo", argumenta Freedman. 

Mas Trump só fez elogios para Manafort por enfrentar o julgamento.

Robert Bennett, um experiente advogado de defesa de Washington que trabalhou para o então presidente Bill Clinton na década de 1990, acredita que é tarde demais para mudar de rumo.

"Decidiram-se há muito tempo por atacar o procurador especial. Seria difícil fazer agora uma mudança radical", disse a AFP. "A quem vão convencer?". 

Além disso, cooperar agora dificilmente vai alterar o rumo da investigação de Mueller, exceto para pior, disse Bennet, hoje conselheiro de um estudo legal de Washington. 

Ser interrogado por Mueller seria perigoso para Trump, para quem claramente é difícil se ater a um roteiro. "No meu entender, ele não poderia cooperar sinceramente sem se autoincriminar", destacou Bennet.  

Cooperar também poderia colocar o presidente em uma posição difícil se, como muitos pensam, seu filho, Donald Trump Jr., ou outros membros de sua família ficarem sob a lupa de Mueller. 

O que fazer então? "Estancar a causa pelo maior tempo possível e perdoá-lo", diz Freedman. 

Atacar e ganhar tempo

O desafio mais imediato para Trump são as eleições de 6 de novembro, diante da ameaça democrata de conseguir controlar as duas Câmaras do Congresso. Trump precisa impedir que isto ocorra para evitar ter um Congresso disposto a levar adiante seu impeachment. 

Sua estratégia atual convenceu os eleitores que a investigação de Mueller é uma operação ilegítima da oposição, para tirar apoio dos republicanos. Mas segundo as pesquisas, esta estratégia parece ter tido um êxito limitado. 

Adicionalmente, a Casa Branca pede que Mueller cumpra uma determinação do Departamento de Justiça, que impede os investigadores de adotar medidas que podem afetar os candidatos nos 60 dias anteriores a uma eleição.

Michael German, ex-agente do FBI agora no Instituto Brennan Center for Justice, avalia que isto não impediria o avanço de Mueller.

"O cumprimento da lei não freia todas as investigações 60 dias antes de uma eleição", disse German. "Não vejo que ninguém relacionado com a eleição de novembro tenha a ver com os que estão sendo investigados". 

Bennett implementou uma tática de estancamento quando defendeu Clinton de acusações de assédio sexual de Paula Jones. O caso pôs em risco as chances de Clinton se reeleger, em 1996, e Bennett o levou até a Suprema Corte, que trabalha lentamente, para que desaparecesse durante meses.

"Meu trabalho foi manter o caso fora da cobertura da mídia", lembrou. Apesar de ter perdido no fim, Clinton conseguiu vencer a eleição.

Se Trump ou qualquer membro de sua família acusado com cargos pudesse estagnar seu caso, vinculando-o a questões constitucionais, isto poderia levar dois anos até se resolver. Ou seja, até o fim do mandato de Trump.

"Não importa o resultado, ele provavelmente estará melhor", destacou Bennet.

A opção nuclear

Por fim, Trump poderia demitir Mueller e encerrar a investigação. De fato, o presidente ameaçou fazê-lo, mas de deteve diante das advertências de legisladores de que isto poderia levá-lo a um impeachment.

A "opção nuclear" não ajudou o presidente Richard Nixon quando demitiu o procurador especial de Watergate, Archibald Cox, em outubro de 1973. Esta ação, ao contrário, erodiu seu apoio e o substituto de Cox continuou avançando no caso até que Nixon, quase um ano depois, acabou renunciando diante de um possível impeachment.

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