Residências de Cristina Kirchner são revistadas

As residências foram revistadas com base nas investigações de supostos subornos pagos pela concessão de contratos de obras públicas, conhecida como a operação "Lava Jato" da Argentina
AFP
Publicado em 24/08/2018 às 6:46
As residências foram revistadas com base nas investigações de supostos subornos pagos pela concessão de contratos de obras públicas, conhecida como a operação "Lava Jato" da Argentina Foto: Eitan ABRAMOVICH / AFP


Duas das residências da ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner foram revistadas nessa quinta-feira (23), com base na investigação de supostos subornos pagos pela concessão de contratos de obras públicas, conhecida como a "Lava Jato" argentina.

Por ordem do juiz Claudio Bonadio começou ao meio-dia uma enorme operação em um apartamento de Kirchner no bairro de Recoleta, em Buenos Aires, com viaturas policiais, brigadas de explosivos, bombeiros e cães treinados. A revista no apartamento de mais de 200 m2 continuava após a meia-noite. Na rua, partidários expressavam seu apoio à ex-presidente com cartazes e cantos.

Carlos Beraldi, advogado de Kirchner, denunciou que foi impedido de permanecer no lugar durante as buscas. "Estamos diante de uma farsa, uma clara violação dos princípios do Estado de direito. Vamos pedir a nulidade da operação. Eu abri a porta. Coloquei à disposição o domicílio para que fosse revistado. Vou denunciar criminalmente ao juiz", disse antes de se retirar visivelmente furioso.

À tarde, outras brigadas entraram na casa de Kirchner em Río Gallegos, propriedade de dois andares com um amplo jardim, que serve como um local de descanso na Patagônia, no extremo sul da Argentina.

A batida em Río Gallegos terminou no final da noite. Autorizadas nessa quarta-feira (22) pelo Senado, as buscas são realizadas sem a presença do juiz ou do procurador Carlos Stornelli.

Em uma terceira casa, em El Calafate, também na Patagônia, a inspeção policial ainda não começou, informou a imprensa. As buscas foram requeridas por Bonadio e precisavam da aprovação do Congresso dado que a ex-presidente (2007-2015), eleita senadora em 2017, tem foro privilegiado.

Após a sessão parlamentar na qual esteve presente, Kirchner foi para a casa de sua filha Florencia, onde passou a noite. Nessa quinta-feira à tarde, foi ao Instituto Pátria, sede de seu grupo político.

A senadora, da corrente de centro esquerda peronista e que sucedeu o seu marido Néstor Kirchner como presidente, é a pessoa de mais alto escalão envolvida no chamado "Escândalo dos cadernos", que investiga supostos subornos de importantes empresários entre 2005 e 2015 para obter contratos de obras públicas. De acordo com os cálculos iniciais, o valor dos subornos poderia chegar a 160 milhões de dólares.

Inspeção no convento 

Paralelamente, a polícia realizou nesta quinta uma inspeção em um convento nos arredores de Buenos Aires, onde em 2016 o ex-vice-ministro de Obras Públicas José López foi capturado quando tentava esconder sacolas com nove milhões de dólares em espécie.

López, preso desde então e em pleno julgamento por esse episódio, começou a colaborar no caso do "Escândalo dos cadernos". O processo judicial começou há menos de um mês com base em anotações feitas pelo ex-motorista do Ministério de Planejamento Oscar Centeno, que supostamente fez durante 10 anos (2005-2015) percursos por Buenos Aires para levar e trazer sacolas carregadas com milhões de dólares.

O apartamento de Kirchner em Buenos Aires e a residência presidencial de Olivos e a Casa Rosada, sede do governo, aparecem nesses cadernos como pontos de entrega das sacolas.

Às anotações do motorista se somaram as confissões de vários empresários presos que decidiram comparecer à Justiça na condição de arrependidos e, mais recentemente, ex-funcionários da gestão kirchnerista.

Desapego

No discurso ao Senado, Kirchner reiterou que o processo contra ela tem como motivação afastá-la da política. "Se algo faltava para consagrar a perseguição política na Argentina era este processo. Serei a primeira senadora revistada", afirmou.

Germán Garavano, ministro de Justiça do governo do presidente Mauricio Macri, disse nesta quinta que vê na ex-presidente "um profundo desapego ao institucional e um profundo rechaço à Justiça".

O próprio Macri afirmou que jamais viu a corrupção atingir "uma forma tão sistemática e global" e disse que os argentinos devem estar orgulhosos "porque é preciso ter coragem para colocar a verdade sobre a mesa". "Isto nós conseguimos, da lei do arrependido até a mensagem clara à Justiça para que aja de forma independente".

O chefe de Gabinete, Marcos Peña, reforçou que Macri "tomou a decisão desde o primeiro dia de dar total independência ao Poder Judiciário, à imprensa e aos atores que podem fornecer informações".

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