Nada impede os milhares de hondurenhos de retomarem sua longa jornada para os Estados Unidos nesta segunda-feira (22). Nem o esgotamento nem as novas ameaças do presidente Donald Trump, de cortar a ajuda a Guatemala, Honduras e El Salvador, por não impedir que caravana deixasse a América Central.
"Vamos começar a cortar, ou reduzir substancialmente, a tremenda quantidade de ajuda externa que habitualmente lhes damos", indicou Trump no Twitter. Em uma nova enxurrada de tuítes, o presidente americano lamentou que o México não tenha sido capaz de deter o avanço dos migrantes, motivo pelo qual pôs em alerta as patrulhas fronteiriças e os militares diante desta "emergência nacional".
"Infelizmente, parece que a Polícia e os militares do México são incapazes de deter a caravana que se dirige à fronteira sul dos Estados Unidos. Criminosos e pessoas do Oriente Médio não identificadas estão misturados", disse Trump no Twitter.
Grande parte da caravana formada por milhares de migrantes e que saiu em 13 de outubro de San Pedro Sula, em Honduras, conseguiu entrar no México de forma irregular e dormir na praça principal de Tapachula, uma cidade de mais de 300.000 habitantes no estado de Chiapas (sul), depois de ter percorrido mais de 760 km a pé, com bebês e crianças.
"Sabemos bem que este país não nos recebeu como esperávamos e que podem nos devolver a Honduras, e também sabemos que há traficantes de drogas que sequestram e matam os migrantes", disse Juan Carlos Flores, de 47 anos.
Apesar do cansaço e do sol inclemente, cerca de 3.000 migrantes irregulares, segundo cálculos da AFP e dos organizadores, continuam na caminhada para Huixtla, também em Chiapas, uma segunda parada antes de chegar a Tijuana ou Mexicali, próximas aos Estados Unidos, seu destino final a mais de 3.000 quilômetros.
Já caminharam mais de sete horas desde Ciudad Hidalgo, fronteiriça com a Guatemala no sudeste do México.
"Vivemos com mais medo em nosso país, assim seguimos em frente", continua Flores.
Em Honduras, um país castigado pela violência das gangues e pelos altos índices de pobreza, "a vida não vale nada", emenda este homem, quase pele e osso.
Estamos "doloridos, mas prontos para continuar", comenta Maria Lourdes Aguilar, de 49 anos, que viaja com as duas filhas e os quatro netos menores de 10 anos.
"Nesta viagem não se come bem, não se dorme bem, nunca se descansa", disse Aguilar, em meio ao choro das crianças famintas, exaustas e com as roupas molhadas depois de uma chuva torrencial nesse domingo (21).
"Estamos acostumados, nosso próprio presidente não gosta de nós, não importa para nós que Trump também não goste", sentencia.
Sua intenção original era entrar no país através da ponte internacional, passagem oficial entre Guatemala e México. No entanto, o governo deste país fechou a fronteira nessa sexta-feira (19) em resposta à chegada maciça dos hondurenhos.
Muitos optaram por cruzar o caudaloso rio Suchiate a nado ou em balsas precárias.
Pouco mais de 700 que entraram legalmente, segundo dados oficiais, estão alojados em abrigos do governo onde asseguraram que darão entrada em suas solicitações de refúgio ou vistos. Muitos temem que os abrigos sejam uma armadilha para deportá-los.
Uma segunda caravana de quase um milhão de hondurenhos iniciou no domingo sua travessia a pé da Guatemala para chegar à fronteira com o México, em direção aos Estados Unidos.
O trajeto pelo México pode levar um mês, segundo Rodrigo Abeja, ativista da organização Povos Sem Fronteira, que acompanhou várias caravanas.
Há, contudo, um "risco de que façam operações para detê-los", adverte Abeja.
Sem documentos, os migrantes ficam na clandestinidade ao longo de milhares de quilômetros, a mercê de traficantes de pessoas ou drogas que os sequestram ou tentam recrutá-los o contra a sua vontade.
Em 2010, um grupo de 72 migrantes da América Central e do Sul foram sequestrados pelo cartel de Los Zetas e assassinados porque se negaram a se unir a eles, segundo o governo. Seus corpos foram encontrados em um galpão de Tamaulipas, na fronteira com os Estados Unidos, todos com as mãos atadas e tiros de misericórdia.
Enquanto isso, um grupo cada vez mais reduzido de hondurenhos permanece em uma ponte fronteiriça em Ciudad Hidalgo esperando para entrar legalmente no México, embora o acesso seja a conta-gotas, com prioridade para mulheres e crianças.
De sexta a domingo foram atendidas 1.028 solicitações de refúgio nessa passagem fronteiriça, segundo o governo mexicano.
No local, resta pouco mais de meio milhão de migrantes, estimou a AFP, em comparação com os mais de 4.000 que chegaram na sexta.