Uma nuvem negra saiu do horizonte do Facebook. Na quarta-feira, 24, a empresa confirmou o acordo de US$ 5 bilhões com a Comissão Federal do Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês), após longa investigação sobre o escândalo Cambridge Analytica. No caso, dados de 87 milhões de usuários da rede social foram utilizados indevidamente pela consultoria política. Além da multa, a empresa terá de criar um comitê de privacidade independente e mudar políticas de utilização dos dados das pessoas. Para analistas, porém, a conta ficou "barata" para o Facebook.
Isso porque a multa, apesar de ser a maior já aplicada pela FTC a uma empresa de tecnologia nos EUA, é apenas uma fração da receita do Facebook. Na quarta, a companhia divulgou ter faturado US$ 16,9 bilhões só entre abril e junho de 2019.
Usuários ativos
A rede social encerrou ainda o período com 2,4 milhões de usuários ativos todo mês, alta de 8% contra o 2º trimestre de 2018. "O Facebook segue sendo uma máquina de geração de caixa e é acessada por mais da metade das pessoas online no mundo", diz William Castro-Alves, estrategista chefe da corretora Avenue.
Além disso, a empresa já havia contingenciado US$ 3 bilhões para o pagamento da multa à FTC. "Com o acordo, a dor de cabeça por esse caso passou", afirma Joel Kulina, analista da consultoria Wedbush Securities. "Enquanto houver usuários, os anunciantes virão."
Após a divulgação do acordo, as ações do Facebook encerraram o dia em alta de 1,1% na bolsa de valores Nasdaq - a empresa está avaliada em US$ 584,2 bilhões. O valor do acordo também é pequeno perto das reservas da empresa - hoje, em US$ 48,5 bilhões.
Em documento, a FTC afirmou que a penalização se justifica porque com o caso Cambridge Analytica, o Facebook quebrou o acordo firmado em 2011 para proteger os dados de seus usuários. A FTC também considerou que a rede social falhou em proteger a privacidade ao exibir anúncios direcionados pelo número de telefone dos usuários e por não fornecer informações suficientes sobre ferramentas de reconhecimento facial.
Responsabilidade
Como parte do acordo, a companhia terá também um comitê independente para supervisionar as práticas de privacidade durante 20 anos. Anualmente, a empresa terá de informar à FTC sobre boas práticas - caso contrário, poderá ser novamente multada e ver seu presidente executivo, Mark Zuckerberg, ser pessoalmente responsabilizado.
Em resposta ao acordo com a FTC, o Facebook disse que a multa "marcará um movimento mais forte em direção à privacidade, em uma escala diferente do que já fizemos no passado."
Ex-vice-presidente de segurança do Facebook, Alex Stamos, falou sobre a punição. "Não acredito que o Facebook não pagou mais pelo caso", disse. Ele também chamou a atenção para o fato de o Facebook ter 2,4 bilhões de usuários - para ele, a rede social "nunca mais vai precisar de dados para lucrar."
Além da multa à FTC, o Facebook também terá de pagar US$ 100 milhões à SEC, que regula empresas listadas em bolsa - a multa se deve ao fato de que o Facebook não ter informado seus investidores sobre sua gestão de privacidade.
Novos inquéritos, porém, vêm aí: o Facebook confirmou também que é alvo de outra investigação da FTC sobre concorrência desleal. Além disso, também está na mira do Departamento de Justiça dos EUA, pelas mesmas razões.
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