RESPOSTA

Presidente do Chile rechaça 'alusão' de Bolsonaro ao pai de Michelle Bachelet

Bolsonaro disse que Michelle Bachelet está ''defendendo direitos humanos de vagabundos''

AFP e Estadão Conteúdo
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Publicado em 04/09/2019 às 18:09
Foto: EVARISTO SÁ E FABRICE COFFRINI / AFP
Bolsonaro disse que Michelle Bachelet está ''defendendo direitos humanos de vagabundos'' - FOTO: Foto: EVARISTO SÁ E FABRICE COFFRINI / AFP
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O presidente do Chile, Sebastián Piñera, rejeitou nesta quarta-feira a alusão feita por Jair Bolsonaro sobre o pai da ex-presidente chilena e Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que morreu torturado durante a ditadura de Agusto Pinochet.

''Não compartilho a alusão feita pelo presidente Bolsonaro a uma ex-presidente do Chile e, especialmente, num assunto tão doloroso quanto a morte de seu pai'', disse Piñera em comunicado público no Palácio do Governo.

Declarações provocaram mal-estar no governo chileno

A diplomacia chilena discutia a divulgação de um comunicado para rebater as declarações de Bolsonaro. Diante do amplo rechaço no Chile de setores de esquerda e direita às declarações do presidente brasileiro, Piñera optou por um pronunciamento.

O presidente criticou o trabalho de Bachelet como Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos e disse que o golpe de 1973 "deu um basta à esquerda" no país. As críticas foram uma resposta a declarações de Bachelet de que o Brasil não é uma democracia plena.

"Seguindo a linha do (Emmanuel) Macron (presidente da França) em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, (Michelle Bachelet) investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", escreveu Bolsonaro em rede social. "(Bachelet) Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época".

Repercussão no Chile

Na imprensa chilena, as declarações do presidente brasileiro tiveram grande destaque. O presidente do Senado, Jaime Quitana, de oposição, exigiu uma resposta de Piñera. Na coalizão do presidente chileno, Chile Vamos, as declarações também foram mal recebidas. ''Não é a melhor maneira de responder às críticas de Bachelet'', disse o presidente de um dos partidos do grupo, o Renovação Nacional, Mario Desbordes, ao La Tercera.

O único grupo político que defendeu integralmente o presidente foi o Partido Republicano, de extrema direita. ''A ex-presidente tem usado seu cargo na ONU para questionar Bolsonaro'', disse o líder da legenda Antonio Kast. ''Suas críticas se baseiam em posições ideológicas.''

A declaração se tornou especialmente problemática para a relação bilateral por ter ocorrido no mesmo dia da chegada do chanceler Teodoro Ribera ao Brasil para uma visita oficial. Segundo fontes diplomáticas chilenas, o ministro estava em conexão entre São Paulo e Brasília enquanto discutia com o Palacio de La Moneda uma resposta às declarações de Bolsonaro.

Mais tarde, a jornalistas em Brasília, na manhã desta quarta, Bolsonaro reiterou as críticas. ''Parece que quando tem gente que não tem o que fazer, como a senhora Michelle Bachelet, vai lá para cadeira de direitos humanos da ONU. Passar bem, dona Michelle''. Bolsonaro ainda desejou ''pêsames'' para Bachelet. ''A única coisa que tenho em comum com ela é a esposa que tem o mesmo nome. Fora isso, fora isso, meus pêsames a Michelle Bachelet'', disse o presidente.

Bolsonaro buscou aproximação com o Chile

O Chile é um dos principais aliados de Bolsonaro na América do Sul e destino de sua primeira viagem como presidente. Na cúpula do G-7 em Biarritz, na França, o presidente Sebastián Piñera participou das discussões sobre as queimadas na Amazônia com líderes ocidentais.

No começo do ano, Bolsonaro e Piñera articularam a criação do Prosur - bloco de centro-direita sul-americano que substituiu a Unasul - e unificaram o discurso de apoio à oposição liderada por Juan Guaidó na Venezuela. Na ocasião, o presidente já havia dado declarações favoráveis ao ditador chileno.

Entenda o caso

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que a Comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, está "defendendo direitos humanos de vagabundos". Ele também atacou o pai da ex-presidente do Chile, morto durante a ditadura militar chilena em decorrência de torturas sofridas no cárcere.

Alberto Bachelet foi um brigadeiro-general chileno da Força Aérea do Chile que se opôs ao golpe de 1973 do general Augusto Pinochet. Ele foi preso e submetido a tortura por vários meses até sua morte, em 1974.

As críticas vieram após a comissária da ONU alertar sobre uma "redução do espaço democrático" no Brasil, especialmente com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.

"Nos últimos meses, observamos (no Brasil) uma redução do espaço cívico e democrático, caracterizado por ataques contra defensores dos direitos humanos, restrições impostas ao trabalho da sociedade civil", disse Bachelet em entrevista coletiva em Genebra.

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