Em Lordstown, Ohio, em pleno cinturão industrial americano, onde o presidente Donald Trump obteve um inesperado apoio significativo em 2016, alguns eleitores se perguntam por que a "maior economia da história dos Estados Unidos" lhes esqueceu.
Os funcionários da General Motors fizeram mais de um mês de greve ali, em piquetes com cartazes e aglomerações.
No fim de outubro, chegaram a um acordo, mas a fábrica de montagem, onde a GM produzia os Chevrolet, continua inativa. Cerca de 1.600 postos de trabalho se perderam na cidade, que tem 3.500 habitantes.
"Não pedimos para ser milionários, mas tampouco pobres. Queremos viver nossa vidas de classe média. É disso que se trata esta luta", disse um ex-pedreiro da fábrica, Joey, que não quis dar seu sobrenome.
Trump chegou à Casa Branca há três anos prometendo restaurar a "grandeza" da classe média trabalhadora dos Estados Unidos.
No condado de Trumbull, antigo bastião democrata, onde fica Lordstown, o magnata ganhou em 2016, o primeiro republicano a conseguir isso em mais de 40 anos.
Mas, a um ano das presidenciais de 2020, quando Trump buscará a reeleição, alguns dos que lhe apoiaram se sentem desconfortáveis.
"É a primeira vez que votei em um republicano e provavelmente não voltarei a fazê-lo", disse Sam, outro trabalhador automotivo despedido.
Larry, que se aposentou após 50 anos trabalhando para a GM e apoiou a greve, disse se sentir "muito decepcionado e traído" por Trump.
"Não posso apoiá-lo porque quando nossa fábrica fechou não fez o que disse que faria, se impor tarifas aos veículos estrangeiros", declarou à AFP. "Não vai obter votos nesta área", garante.
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O sonho americano, 'um circo'
Mike Yakim, que se diz conservador, não decidiu seu voto para 2020. Mas ainda gosta do que Trump está dizendo.
"Quando saiu pela primeira vez, disse que estaria lá para o trabalhador americano", lembra Yakim. "E acreditamos. Na verdade, ainda acredito".
Como os outros 700 trabalhadores em Lordstown, Yakim aceitou ser transferido para outra fábrica para manter seu emprego. Agora, vai morar em Lansing, Michigan, a quatro horas de carro de sua casa. Sua família continuará em Ohio.
Esta é a terceira vez que Yakim trabalha em uma fábrica que fechou.
"Perdemos muitas coisas para manter o emprego e perseguir o sonho americano, que é trabalhar para uma empresa, com sorte permanecer ali durante 30 anos e se aposentar", explica à AFP de sua casa.
"Agora, você sabe, o sonho americano é um circo. As empresas se deslocalizam e você vai embora".
Em 2017, em um ato na próxima Youngstown, Trump prometeu que voltaria a gerar empregos na região. "Não se mudem, não vendam sua casa", pediu.
Durante o mandato, o desemprego caiu a um mínimo de 50 anos em setembro. "A melhor economia da história dos Estados Unidos", tuitou o presidente nesta quarta-feira.
Mas a indústria, em recessão, não faz parte do dinamismo. Desde 2000, o setor está diminuindo nos EUA. Ohio perdeu 3.500 fábricas entre 2001 e 2011. Hoje, neste estado, a taxa de emprego na indústria ainda está 10 pontos menor que o nível anterior à crise.
O prefeito de Lordstown, Arno Hill, expressa sua frustração de não poder reverter a tendência. "No nordeste de Ohio, a cada vez que a economia vai mal, nossa economia piora um pouco mais, e, não sei por que, quando a economia se recupera, nunca voltamos para onde estávamos", lamenta.
Novas oportunidades
Hill, ex-funcionário de uma fábrica, está tentando atrair novos empregadores.
A TJX, proprietária de marcas como TJ Maxx e Marshalls, está construindo um centro de distribuição a apenas alguns metros da fábrica da HM, mas terá menos empregos e com salários mais baixos.
A fábrica da GM provavelmente será vendida a um fabricante de veículos elétricos. Em maio, Trump festejou esse anúncio no Twitter.
"GRANDES NOTÍCIAS PARA OHIO! (...) Com a volta de todas as empresas automotivas e muito mais, os ESTADOS UNIDOS ESTÃO NO AUGE!", escreveu.
Mas os novos funcionários não devem ter os mesmos benefícios que na GM, nem o salário de 31 dólares a hora.
Para o antiTrump convicto, o bilionário mentiu quando prometeu recuperar a indústria americana, inclusive a do carvão.
Sonny Morgan, operário aposentado da GM, lamenta: "nenhuma fábrica de aço virá. É apenas uma mentira que nos disseram".
Estado crucial para ganhar a Casa Branca em 2020, Ohio está na mira dos democratas que querem recuperar os condados do chamado "Cinturão do Óxido".
Os candidatos estão tentando seduzir ao propôr políticas industriais, diz Todd Belt, professor de ciências políticas na Universidade George Washington.
E lembra: "Há um velho ditado: 'Quem ganha em Ohio, ganha no país'".