Escalado pela presidente Dilma Rousseff para assumir as negociações do "varejo" com a base no Congresso, o assessor especial da petista Giles Azevedo tem sido cobrado por lideranças da base aliada para "refazer a pastinha do Padilha", uma alusão às pastas coloridas criadas pelo ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB). Nelas estão as divisões dos cargos de segundo e terceiro escalões do governo federal.
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A pressão dos parlamentares para que sejam feitas alterações no mapeamento dos espaços políticos já deu origem a um novo foco de desentendimentos entre integrantes da base aliada e o Palácio do Planalto. As queixas dos congressistas, segundo a reportagem apurou, foram apresentadas a Giles Azevedo nos últimos dias em conversas em que ele tem feito "uma radiografia" das principais reivindicações dos congressistas.
Em encontro realizado na terça-feira, 25, com representantes do PMDB e PP, o principal foco de descontentamento colocado na mesa foi a distribuição dos cargos federais nos Estados, reduto eleitorais dos parlamentares. Essa mesma queixa foi apresentada na quinta-feira passada a Giles em reunião realizada com representantes do PTB - partido que deixou a base aliada do governo na Câmara no inicio deste mês. "Estamos cobrando que seja refeita essa pastinha do Padilha", disse um parlamentar envolvido nas novas rodadas de negociação.
De acordo com representantes do PP, na divisão realizada por Padilha apenas 9 dos 39 deputados foram atendidos nas bases eleitorais. No caso do PTB, de uma bancada de 25, dois teriam sido contemplados. A principal queixa dos petebistas está no fato de não conseguirem emplacar as indicações em secretarias regionais do Incra, responsável pela condução da reforma agrária e ordenamento fundiário nacional.
Nas conversas, os parlamentares lembram que no início do processo de divisão dos espaços políticos nos Estados, as lideranças da base aliada foram orientadas por Michel Temer e pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a realizarem reuniões regionais.
O objetivo desses encontros era o de dirimir possíveis desentendimentos entre integrantes dos próprios partidos na hora de apresentar uma lista ao Palácio do Planalto com as indicações para o governo federal. "Isso foi feito, mas não teve houve avanços", criticou um líder partidário.
As movimentações do assessor especial da presidente coincidem com o anúncio feito, no início da semana, pelo vice-presidente da República e articulador do governo, Michel Temer, de que deixará as negociações de "varejo" com os congressistas. Braço direito de Temer na articulação política e responsável pelo mapeamento e negociação dos cargos, Padilha também deve deixar o posto até o próximo mês de setembro.
O clima entre Dilma e Temer se deteriorou depois de o vice declarar, no início do mês, que "é preciso alguém com capacidade de reunificar a todos". A frase foi interpretada no Planalto como uma tentativa de Temer assumir maior protagonismo político, no momento em que Dilma sofre ameaças de impeachment.
Reforma
Apesar das queixas de lideranças da base aliada, o ministro Eliseu Padilha tem dado declarações nos últimos dias de que atualmente 90% das negociações com os integrantes da base já foram resolvidas e que o restante deverá ser definido até o final do mês de setembro, quando a presidente Dilma deverá iniciar uma reforma administrativa com a redução do número de ministérios e cargos. O porcentual declarado por Padilha, segundo integrantes do próprio partido do ministro da Aviação Civil, não condiz com a realidade. "Se tem isso tudo, por que o governo não consegue painel (quórum) para votar projeto de interesse deles?", afirmou um integrante da cúpula do PMDB.
Linha direta
Embora não tenha o histórico na articulação política, a atuação de Giles Azevedo tem sido recebida de forma positiva entre os parlamentares. Em razão de ele ser homem de confiança da presidente, o entendimento entre alguns congressistas é de que as queixas, a partir de agora, chegarão à Dilma de forma direta.