A Esplanada dos Ministérios de Brasília foi tomada por alambrados neste domingo para separar adversários e partidários do impeachment da presidente Dilma Rousseff no próximo final de semana, quando a Câmara dos Deputados se pronunciará a respeito.
Cerca de 30 presos em regime semiaberto trabalhavam junto com funcionários na montagem de um corredor de separação de 80 metros de largura e um quilômetro de comprimento que irá da Catedral ao Congresso Nacional, pelo qual apenas as forças de segurança poderão circular, constatou um fotógrafo da AFP.
O governo prevê que 300.000 pessoas se concentrarão na Esplanada entre 15 e 17 de abril, segundo a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal.
"Temos consciência da importância deste momento histórico e trabalhamos no sentido de dar todas as condições necessárias para que as pessoas exerçam seu direito à livre manifestação sem colocar em risco a vida dos cidadãos e a integridade do patrimônio tombado", ressaltou a secretária de Segurança Pública, Marcia Alencar.
No local, estarão mobilizados 3.000 policiais e 500 bombeiros, mas todos os efetivos estarão em alerta e poderão agir rapidamente.
A semana se anuncia carregada de tensão.
Nesta segunda-feira, uma comissão de 65 parlamentares dirá se aprova um parecer que recomenda prosseguir com o processo de impeachment de Dilma por suposta manipulação das contas públicas.
Independentemente da decisão da comissão, o processo será submetido à votação do plenário da Câmara, após debates que devem começar na sexta-feira e terminar no domingo.
Se os deputados aprovarem uma eventual moção de destituição por uma maioria de dois terços (342 de um total de 513), o procedimento seguirá para o Senado. Caso este último vote afirmativamente, Dilma será, então, afastada de seu cargo por um máximo de 180 dias, à espera de que o próprio Senado emita seu veredicto definitivo.
Até o momento, nenhum dos dois grupos tem a garantia de alcançar um número de votos suficiente, já que 120 deputados ainda se mostram indecisos, ou se negam a revelar suas intenções.
Com uma popularidade muito baixa, a presidente Dilma denuncia uma tentativa de "golpe de Estado", enquanto seu mentor e antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) tenta mobilizar as desencorajadas bases do Partido dos Trabalhadores (PT) para ajudar sua herdeira política.
Segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha publicada neste domingo, 61% dos brasileiros se declaram favoráveis ao impeachment de Dilma (contra 68% em meados de março), e 60% consideram que deveria renunciar. Além disso, 60% também se declaram favoráveis a uma renúncia do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), que terminaria o mandato de Dilma, até o fim de 2018, caso a presidente deixe o poder.