As sete vidas do senador Renan Calheiros

Renan foi acusado na semana passada de peculato, mas o STF decidiu manter o parlamentar no cargo
AFP
Publicado em 07/12/2016 às 19:50
Renan foi acusado na semana passada de peculato, mas o STF decidiu manter o parlamentar no cargo Foto: Foto: Fotos Públicas


O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) saiu abalado, mas salvou a pele no último dos confrontos de uma carreira marcada por alianças heterogêneas, denúncias de corrupção e escândalos dignos de telenovela.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por 6 votos a 3 manter no cargo o legislador, que desafiou a corte máxima na terça-feira, ao rejeitar a decisão do juiz Marco Aurélio Mello para deixar o cargo, à espera de uma sentença em plenário da corte.

O Supremo lhe deu razão parcialmente, ratificando o princípio da separação de poderes, mas determinou que Renan, segundo na linha de sucessão do presidente Michel Temer (depois do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM-RJ), não poderá substituí-lo em caso de vácuo no poder.

Renan, de 61 anos, originário do paupérrimo e patriarcal estado de Alagoas, foi acusado na semana passada de peculato.

O senador, segundo a acusação, usava o dinheiro pago pelo lobista de uma empreiteira para pagar a pensão alimentícia de uma filha nascida de um relacionamento extraconjugal. Em troca, a empresa conseguia emendas legislativas favoráveis a seus negócios.

O caso se arrastava desde 2007 e foi o primeiro a ser acolhido dos diversos que se acumulam contra ele, muitos dos quais foram relacionados ao gigantesco esquema de corrupção na Petrobras.

O tema da pensão alimentícia já o tinha feito renunciar à presidência do Senado em 2007. O escândalo virou uma verdadeira novela quando a mãe de sua filha, a jornalista Mônica Veloso, posou nua para a revista masculina Playboy.

Em 2013, Renan se viu envolvido em outro episódio embaraçoso, quando a imprensa revelou que ele usou um avião da Força Aérea para viajar a Recife para se submeter a implante capilar.

Nada disso impediu o sempre imperturbável Renan de ser reeleito e voltar a ocupar a cadeira de presidente do Senado.

Sua primeira eleição como senador foi em 1994 e a última, em 2010. Em 1998-99, foi ministro da Justiça do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).  

Um aliado indispensável

Integrante do PMDB, o mesmo partido de Temer, este habilidoso negociador que conhece os meandros de Brasília soube se tornar indispensável para governos de todas as cores.

Desde sua tribuna de presidente da Câmara alta, comandou os debates finais que levaram ao impeachment, em agosto passado, da presidente Dilma Rousseff (PT), que foi substituída por Temer, seu vice-presidente transformado em arqui-inimigo.

Anteriormente, tinha sido aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), líder histórico do PT.

Ele conseguiu se manter na superfície em uma era marcada pelo "Mensalão", pelo "Petrolão", entre outros escândalos, mas seu nome acabou se tornando sinônimo de corrupção para muitos brasileiros.

No domingo, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas para gritar "Fora Renan!"

A gota d'água foi sua tentativa frustrada de fazer votar rapidamente as polêmicas emendas que a Câmara dos Deputados aprovou na semana passada a um pacote anticorrupção, proposto inicialmente pelos procuradores do Petrolão.

Emendas que abririam a possibilidade de acusar juízes e promotores de "abuso de autoridade", uma figura que, segundo juristas, exporia os magistrados a julgamento, por exemplo, em casos de prisões preventivas que posteriormente se revelassem injustificadas. Obviamente, o Poder Judiciário reagiu com veemência.

Renan Calheiros é considerado um dos últimos "coronéis" da política brasileira, caciques de grandes famílias arraigadas com um forte poder regional. 

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