Apontado pelos delatores do Grupo J&F como recebedor de R$ 1 milhão em propina destinada ao presidente Michel Temer, o coronel aposentado João Baptista da Lima Filho se valeu de uma offshore sediada no Uruguai para comprar dois imóveis em São Paulo. Um deles, no qual Lima Filho mora e onde a Polícia Federal realizou busca e apreensão no âmbito da Operação Patmos, é um duplex.
As informações sobre os imóveis e a offshore Langley Trade Co. SA constam em relatório da PF sobre os itens apreendidos com o coronel no dia da deflagração da Patmos, em 18 de maio. O documento foi anexado pela Procuradoria-Geral da República na denúncia oferecida contra o presidente Michel Temer por obstrução de Justiça e organização criminosa.
O jornal O Estado de S. Paulo revelou em junho que a PF havia encontrado 17 recibos relacionados a offshore Langley na casa do coronel amigo de Temer. Na Receita Federal, a Langley está registrada como empresa domiciliada em Montevidéu. No banco de dados do Panamá Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que teve participação de jornalistas do Estado, o endereço está atrelado a várias offshores.
No relatório anexado à denúncia, a PF afirma que os recibos estão atrelados às transações para compra e venda dos imóveis e que o representante na offshore seria o uruguaio Emilio Gaston Tuneu Mohr. Segundo a PF, o uruguaio é o mesmo que já foi alvo da operação Castelhana, realizada em 2006 e responsável por desarticular um grupo criminoso que atuava na "blindagem patrimonial" de grandes empresários.
"Observadas as informações apresentadas no item 3.1 deste relatório, considera-se a possibilidade da offshore Langley Trade CO SA ser na verdade de João Baptista Lima Filho e integrar o mesmo esquema denunciado na Operação Castelhana", diz o relatório da PF.
No acordo de colaboração dos executivos da J&F, o contador Florisvaldo Caetano de Oliveira, apontado pela JBS como responsável por entregar dinheiro a políticos, relatou ao menos dois encontros com Lima Filho. O primeiro, segundo Oliveira, teve como objetivo conhecer o destinatário, chamado de "coronel", e combinar a forma de entrega dos valores. No segundo encontro, o contador afirmou ter entregue R$ 1 milhão em espécie para Lima Filho.
Outro delator, o diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, entregou uma série de documentos à Procuradoria-Geral da República mostrando que o endereço citado por Oliveira era o da empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia, cujo dono é o amigo de Temer. A Argeplan integra um consórcio que ganhou concorrência em 2012 para executar serviços na Usina de Angra 3. As obras são investigadas na Lava Jato.
A reportagem entrou em contato com o coronel Lima Filho por meio de uma ligação para sua empresa, a Argeplan, mas o telefonema não foi atendido. O espaço está aberto para sua manifestação.