Nesta segunda-feira (18), o ex-estrategista do governo Trump, Steve Bannon, demonstrou insatisfação com as declarações do vice-presidente Hamilton Mourão. Ele esteve presente em encontro que reuniu lideranças conservadoras nos Estados Unidos com Jair Bolsonaro, em Washington.
Para Bannon, Mourão “se tornou uma voz dissonante”. A declaração foi dada em uma entrevista ao portal BBC News Brasil. A opinião converge com a do professor e ideólogo do governo Bolsonaro, Olavo de Carvalho, radicado nos EUA há décadas e presente no encontro com a comitiva do presidente. Ambos concordam com a estratégia de isolar Hamilton Mourão.
Steve Bannon, que é articulador de diversas lideranças da chamada “direita populista” em todo o mundo, classificou Bolsonaro como “um homem incrivelmente carismático, que reúne poder de ação e reflexão muito fortes”. "Isso não significa que exista uma divisão dentro do governo, mas ele (Mourão) se tornou uma voz dissonante e isso é perigoso. Há um nível relevante de frustração pelo fato de ele estar desalinhado com o programa do presidente Bolsonaro”, continuou.
No encontro no último domingo (17), Olavo de Carvalho chamou Mourão de “estúpido”. Segundo a apuração da BBC News Brasil, outras pessoas presentes no evento classificaram a atuação do vice-presidente como “nociva”. Para o grupo, Mourão teria se aproveitado de “um grande vácuo” deixado por Bolsonaro por conta de sua internação para retirada de uma bolsa de colostomia, em janeiro.
O vice-presidente foi procurado pela reportagem da BBC News, mas não respondeu.
Bannon falou sobre o convite para participar do encontro e de sua afinidade com o governo Bolsonaro e seu guru. "Eu sou um grande apoiador de Olavo, a quem considero brilhante, do ministro Araújo, que vem fazendo um tremendo trabalho, e do ministro Guedes, que é uma autoridade econômica importante. E sei que o governo brasileiro tem um interesse muito grande no movimento que defendo e no resgate dos valores judaico-cristãos no ocidente”, declarou.
O ex-estrategista de Trump está afastado do governo americano até a conclusão das investigações sobre uma suposta influência russa na campanha do atual presidente dos EUA para a Casa Branca.
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Discordâncias
Os conservadores norte-americanos e o guru Olavo de Carvalho criticam Mourão por ações e declarações recentes do vice sobre assuntos de importância no governo e no círculo bolsonarista. Enquanto Bolsonaro estava internado, o general se reuniu com integrantes da CUT, entidade ligada ao Partido dos Trabalhadores (PT) e duramente criticada pelo presidente.
Quando o ex-deputado Jean Wyllys anunciou sua saída do Brasil, Mourão afirmou: “Os parlamentares estão ali, eleitos pelo voto, representam cidadãos que votaram neles. Quer você goste, quer você não gosta das ideias do cara, você ouve. Se gostou bate palma, se não gostou, paciência". O presidente, em seu Twitter, postou a mensagem: “Grande dia”. A frase foi interpretada como uma alusão à saída de Wyllys -- adversário histórico de Bolsonaro -- do país, apesar da relação com o fato ter sido desmentida pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente e apontado como responsável pelas mídias sociais de Jair.
Também há descompasso entre Mourão e o chanceler brasileiro Ernesto Araújo. O diplomata e o vice-presidente divergiram na ocasião da crise na fronteira venezuelana. Em uma visita de ambos à fronteira da Venezuela com a Colômbia, Mourão afirmou que havia uma canal aberto para diálogo com o presidente venezuelano Nicolás Maduro. A informação contradisse Araújo, que rejeita conversar com autoridades do regime.
As diferenças são interpretadas por apoiadores de Bolsonaro como uma evidência de que Mourão quer “assumir a política internacional brasileira”. Na ocasião, foi preciso uma intervenção do porta-voz da presidência, Otávio do Rêgo Barros, para reverter comentários sobre uma falta de prestígio do ministro Araújo.
Queda de braço
O nome do novo embaixador do Brasil em Washington está no centro da disputa entre a ala de Mourão e a ala bolsonarista. Os dois nomes mais cotados para o cargo são o do diplomata Nestor Foster, amigo pessoal de Olavo de Carvalho, e o advogado Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice, apoiado por militares, ala liderada pelo vice-presidente.