Ancorados

Bolsonaro: embargo dos EUA sobre o Irã fornece risco para empresas brasileiras

O presidente deu declarações sobre a Petrobras se recusar a abastecer dois navios iranianos, que estão parados no Porto de Paranaguá, por temer represália dos EUA

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Publicado em 19/07/2019 às 15:11
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O presidente deu declarações sobre a Petrobras se recusar a abastecer dois navios iranianos, que estão parados no Porto de Paranaguá, por temer represália dos EUA - FOTO: Foto: AFP
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O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (19) que o problema do embargo dos Estados Unidos em relação ao Irã é um risco para as empresas brasileiras no caso dos dois navios de bandeira iraniana que estão presos desde o início de junho no Porto de Paranaguá, no Paraná, em razão das sanções dos EUA.

Bolsonaro lembrou também que tem se aproximado cada vez mais do presidente norte-americano, Donald Trump, mas destacou que o Brasil precisa cuidar dos seus problemas "em primeiro lugar". "Existe esse problema, os Estados Unidos de forma unilateral, pelo que me consta, têm embargos levantados contra o Irã. As empresas brasileiras foram avisadas por nós desse problema e estão correndo o risco neste sentido", disse.

O chefe do executivo nacional afirmou ainda que o Brasil está de braços abertos para acordos e parcerias com outros países, mas lembrou que é preciso cuidar dos interesses brasileiros em primeiro lugar.

"Eu particularmente estou me aproximando cada vez mais do Trump, fui recebido duas vezes por ele, ele é a primeira economia do mundo, segundo mercado econômico. E hoje abri para jornalistas estrangeiros que o Brasil está de braços abertos para fazermos acordos, parcerias, para o bem dos nossos povos. O Brasil é um país que não tem conflito em nenhum lugar do mundo, graças a Deus, pretendemos manter nessa linha, mas entendemos que outros países têm problemas e nós aqui temos que cuidar dos nossos (problemas) em primeiro lugar", disse.

Entenda o caso

Os cargueiros iranianos trouxeram ureia e voltariam carregados de milho, mas a Petrobras teme punições americanas e se recusa a abastecer as embarcações, que estão na lista negra do Departamento do Tesouro dos EUA.

A Petrobras confirmou o risco de ser punida nos EUA, por isso se negou a abastecer os navios iranianos, que estão na lista negra do Tesouro norte-americano. "Além disso, os navios vieram do Irã carregados com ureia, produto também sujeito a sanções americanas. Caso a Petrobras venha a abastecer esses navios, ficará sujeita ao risco de ser incluída na mesma lista, sofrendo graves prejuízos", afirmou a empresa.

O órgão ainda informou que existem outras empresas com capacidade de atender à demanda por combustível para os cargueiros. No entanto, os exportadores brasileiros alegam que não há outra alternativa viável e segura para o abastecimento das embarcações, que dependem de um tipo específico de combustível cujo fornecimento é monopólio da estatal.

A empresa brasileira - que não teve o nome divulgado porque o processo corre em segredo de Justiça - obteve uma liminar do Tribunal de Justiça do Paraná, no começo do mês, ordenando que os cargueiros fossem abastecidos. A liminar, porém, foi suspensa pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli. A decisão foi preliminar e não tem data para ser avaliada.

Ruim para o agronegócio brasileiro

Enquanto isso, os cargueiros seguem parados. O navio MV Bavand já está carregado com 48 mil toneladas de milho - avaliadas em R$ 45,5 milhões - e deveria ter partido para o Irã no dia 8 de junho. O MV Termeh aguarda, desde o dia 9 de junho, o combustível para seguir rumo ao Porto de Imbituba (SC), onde receberá a carga.

Para o setor agrícola brasileiro, o impasse é uma péssima notícia. No primeiro semestre, o Irã importou cerca de 2,5 milhões de toneladas de milho do Brasil, praticamente o mesmo volume importado no mesmo período do ano passado, segundo dados oficiais.

Além de ser o maior importador de milho do Brasil, o Irã é um dos principais clientes da indústria de soja e carne bovina. Consultada pela reportagem, a empresa que exportou o milho para o Irã alega que o transporte de alimentos, remédios e equipamentos médicos estariam isentos das sanções. O abastecimento, segundo os exportadores, seria uma compra de combustível feita por uma empresa brasileira junto à Petrobras.

O caso surpreendeu a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). "Qualquer sanção sobre comida está fora (das restrições americanas)", afirmou o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes.

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