O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta sexta-feira (19) suas posturas mais criticadas sobre o meio ambiente, entre outros temas, em um café da manhã com correspondentes estrangeiros, convocado para melhorar sua imagem internacional.
"Grande parte da imprensa de fora tem uma imagem completamente distorcida de quem eu sou e que pretendo fazer aqui com nossas políticas para o futuro do nosso Brasil", disse Bolsonaro ao receber os correspondentes no Palácio do Planalto.
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"Convidei os senhores para conversarmos. Entendo perfeitamente o tamanho do envenenamento que fazem do Brasil lá fora", acrescentou, antes de deixar claro que não tentaria fazer um exercício de suavização diplomática de suas posturas.
"A gente vai continuar na linha do que sempre foi prometido durante a campanha", destacou.
A seguir, algumas das principais declarações de Bolsonaro no encontro:
Dados sobre desmatamento sob suspeita
A Amazônia, para Bolsonaro, é uma questão de soberania nacional, e os dados que mostram um avanço do desmatamento são suspeitos de responder a interesses estrangeiros.
"Com toda a devastação que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no passado, a Amazônia já teria se extinguido", disse o presidente.
"Isso acontece com muitas divulgações, como a de agora. Até mandei ver quem é o cara que está no comando do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para que viesse aqui em Brasília explicar esses dados passados para a imprensa", acrescentou.
Segundo o Inpe, que faz as estimativas a partir de observações por satélites, o desmatamento na Amazônia teve aumento de 88% em junho deste ano em comparação com o mesmo mês de 2018.
"Desinformação" sobre os agrotóxicos
Bolsonaro atribuiu a uma disposição de desinformar as acusações de que o Brasil lidera o uso de agrotóxicos e que isso poderia comprometer a aprovação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
"O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos porque se nós estivéssemos vendendo veneno, você não comprariam. Agora eu fico abismado com essa desinformação", afirmou o presidente, dirigindo-se praticamente todo o tempo aos correspondentes como um conjunto homogêneo.
"É uma desinformação de muito mau gosto, porque é uma guerra [comercial] contra um país com recursos, que produz matérias-primas", acrescentou.
No Brasil "não há fome"
Bolsonaro rebateu as acusações do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, um aliado do governo apesar de tudo, de que nunca teria prestado atenção aos pobres.
"Falar que se passa fome no Brasil é um discurso populista que tenta ganhar simpatia popular, nada mais além disso", disse.
No Brasil, "você não vê gente pobre nas ruas com um físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo", acrescentou.
Horas depois, o ex-militar relativizou suas declarações, ao afirmar que "uma pequena parte" sim, passa fome.
O Brasil "é um país em que a gente não sabe por que uma pequena parte passa fome e outros passam mal, ainda", afirmou durante evento pelo Dia Nacional do Futebol, em Brasília.
Nesta cerimônia, Bolsonaro se irritou ao ser perguntado por uma jornalista se estava voltando atrás no que havia dito mais cedo para a imprensa estrangeira.
"Se for entrar em detalhes, filigranas, eu vou embora (...) Eu não estou vendo nenhum magro aqui. Temos um problema alimentar no Brasil, temos. Não é culpa minha, vem de trás. Estou tentando resolver".
Redes sociais, sem censura
Bolsonaro defendeu a "liberdade de imprensa sem restrições", ao ser interrogado sobre ferozes campanhas nas redes sociais contra os opositores a seu governo, e considerou uma "interferência" e "censura" a decisão do Instagram de suprimir os "likes" no Brasil.
"Ninguém é mais atacado do que eu pelas mídias sociais e a mídia tradicional também. Eu fico triste, mas em nenhum momento eu apresentei um decreto para que haja um mínimo de controle sobre essas mídias sociais. Por mim vão continuar completamente livres", afirmou Bolsonaro, que transformou as redes em seu principal meio de comunicação, seguindo o exemplo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"O Instagram não tem mais likes. É uma tentativa de interferência. Isso sim é uma censura", afirmou.
"Quem tentou impor o controle social sobre os meios de comunicação foi PT", lembrou o presidente, numa referência aos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).
Bolsonaro, um admirador da ditadura militar (1964-1985), respondia uma pergunta sobre o cancelamento da participação da jornalista Miriam Leitão e de seu marido, o sociólogo Sérgio Abranches, na 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, após os organizadores do evento receberem uma nota de repúdio à presença do casal, devido a seu "viés ideológico e posicionamento".
O presidente afirmou que a jornalista integrou a luta armada contra o regime militar pós-1964 e que ela pretendia se unir à guerrilha do Araguaia quando foi presa, na década de 1970. Disse ainda que Míriam mente ao afirmar que sofreu abusos e foi torturada na prisão.
Aos 19 anos, à época estudante universitária e militante do PC do B, Miriam Leitão foi presa em dezembro de 1972 quando ia à praia com o então namorado no Espírito Santo. A jornalista rebateu o comentário do presidente: "Eu nunca fui à guerrilha do Araguaia, nunca cometi uma ação armada".
Em 1973, foi julgada e absolvida por um tribunal militar. Em artigo publicado em 2014, a jornalista, que acaba de ser homenageada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo após mais de 40 anos de carreira, narrou pela primeira vez as torturas físicas e psicológicas a que foi submetida durante três meses de prisão, quando estava grávida.