VAZA JATO

Deltan teria recebido R$ 33 mil por palestra em empresa citada na Lava Jato

Em 2018, Dallagnol chegou a aproximar membros do MPF e representantes da empresa com o objetivo de viabilizar o uso de produtos da companhia em um dos trabalhos da operação

JC Online
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Publicado em 26/07/2019 às 9:32
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Em 2018, Dallagnol chegou a aproximar membros do MPF e representantes da empresa com o objetivo de viabilizar o uso de produtos da companhia em um dos trabalhos da operação - FOTO: Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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O procurador da República Deltan Dallagnol recebeu R$ 33 mil por realizar uma palestra para uma empresa que havia sido citada em caso de corrupção na própria Lava Jato, de acordo com mensagens atribuídas ao coordenador da força-tarefa da operação e documentos obtidos pelo site The Intercept Brasil e pelo jornal Folha de S.Paulo.

A empresa que contratou Deltan é a companhia do ramo de tecnologia Neoway. Ela foi mencionada pela primeira vez em um documento de colaboração que foi incluído em um suposto chat dos procuradores da operação em março de 2016, dois anos antes da realização da palestra.

Em março de 2018, Dallagnol aproximou membros do Ministério Público Federal (MPF) e representantes da Neoway com o objetivo de viabilizar o uso de produtos da empresa em um dos trabalhos da força-tarefa. Deltan também gravou um vídeo para a companhia enaltecendo a utilização de ferramentas tecnológicas em investigações. De acordo com a Folha de S.Paulo, o procurador teria acionado um dos assessores do MPF para avaliar seu desempenho na gravação.

Quatro meses após a palestra, em um chat supostamente formado por procuradores, Deltan teria afirmado que havia descoberto a citação à empresa na delação premiada do lobista do MDB Jorge Luz, que atuava em busca de vantagens em contratos da Petrobras e subsidiárias.

“Isso é um pepino pra mim. É uma brecha que pode ser usada para me atacar (e a LJ), porque dei palestra remunerada para a Neoway, que vende tecnologia para compliance e due diligence, jamais imaginando que poderia aparecer ou estaria em alguma delação sendo negociada”, mostra mensagem atribuída ao procurador.

O que diz Deltan?

Procurado, Deltan falou que, antes de dar palestra remunerada para a empresa Neoway, não tinha conhecimento de sua citação na Lava Jato. Apesar disso, ele negou reconhecer a veracidade das mensagens. "Não reconheço a autenticidade e a integridade dessas mensagens, mas o que posso afirmar, e é fato, é que eu participava de centenas de grupos de mensagens, assim como estou incluído em mais de mil processos da Lava Jato. Esse fato não me faz conhecer o teor de cada um desses processos." 

Em entrevista, o procurador da República e líder da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba afirmou que as palestras que realiza pelo Brasil a convite de empresas privadas são "legais e admitidas pela Constituição". De acordo com o procurador, a maior parte de suas palestras é gratuita. Ele também disse que as palestras têm o propósito de serem "educativas, falar de combate à corrupção e de cidadania".

Dallagnol respondeu que sua "missão" ao fazer as palestras é "educar a sociedade sobre a corrupção e promover a Operação Lava Jato na sociedade".

O procurador também falou sobre a possibilidade de as primeiras mensagens vazadas pelo site The Intercept gerarem suspeição sobre a atuação do então juiz federal Sergio Moro no julgamento dos processos da Lava Jato.

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