O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a maneira como a Europa tem abordado a questão dos incêndios que ainda estão ocorrendo na região amazônica, enquanto seu ministro das Relações Exteriores disse que o Brasil está ''em sintonia'' com os Estados Unidos, depois de ser recebido pelo presidente americano.
''A Europa toda junta não tem lições para nos dar no tocante ao meio ambiente'', afirmou Bolsonaro a jornalistas na saída de sua residência oficial em Brasília.
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Bolsonaro acusa a Alemanha e a França de tentarem ''comprar'' a soberania do Brasil após o G7, bloco que reúne as maiores potências ocidentais, ter oferecido 20 milhões de dólares em ajuda para combater o fogo. O chefe de Estado brasileiro se negou a receber ajuda até o presidente francês, Emannuel Macron, retirar seus comentários críticos sobre sua maneira de abordar a questão e a sugestão de internacionalizar a proteção da Amazônia. Nesta sexta, Bolsonaro prometeu parar de usar canetas Bic porque a marca é francesa.
Mesmo assim, confirmou que vai falar com a chanceler alemã, Angela Merkel, sem dar detalhes sobre o teor do diálogo.
Na semana passada, na cúpula do G7, Macron declarou que os incêndios florestais que arrasam a Amazônia, e também estão afetando a Bolívia, são uma ''crise internacional'' e incluiu o tema na agenda da reunião das potências que foi celebrada no fim de semana na cidade francesa de Biarritz
Em meio a essa polêmica, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o filho do presidente e possível futuro embaixador em Washington, o senador Eduardo Bolsonaro, tiveram um encontro com presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta sexta-feira na Casa Branca para abordar a emergência ambiental provocada pelos incêndios.
''Eu acho que estamos na mesma página, os governos estão na mesma página'', declarou Araújo, para quem isso significa rejeitar o que ele definiu como uma interferência de governos estrangeiros em assuntos brasileiros por preocupação com o futuro da floresta.
Incêndios em alta
Para além da retórica, em meio à crescente pressão internacional, o mandatário emitiu nesta quinta-feira um decreto para proibir por 60 dias a queimada em todo Brasil para tentar dar fim aos incêndios na Amazônia.
Nessa quarta e quinta, foram detectados 2.300 incêndios novos, mais de metade na Amazônia.
No estado de Rondônia, onde os esforços de extinção de incêndios se concentraram inicialmente, foram registrados 67 incêndios novos na quinta-feira, quase três vezes mais que no dia anterior.
Na quinta-feira (29), a polícia prendeu três pessoas por queimarem mais de 5.000 hectares em uma área de conservação no estado do Pará.
Até aqui, neste ano, o Brasil registra um total de 87.257 incêndios, segundo as últimas cifras do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Quase 1.500 dos novos incêndios avançam sobre a extensa bacia do Amazonas. O total deste ano é o mais alto desde 2010, quando foram detectados 132.106 incêndios em todo país no mesmo período.
Um estudo do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam) mostrou que os municípios com mais incêndios são aqueles onde houve o maior desmatamento.
''A incidência de incêndios na região amazônica está diretamente relacionada à ação humana e as chamas geralmente seguem a trilha do desmatamento: quanto mais desmatado, maior o número de fontes de calor'', diz o Ipam.
Choque de dois mundos
Em Ariquemes, uma cidade com pouco mais de 100.000 habitantes, a 200 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia, é possível facilmente o avanço do setor agrícola brasileiro sobre a Floresta Amazônica.
Grandes fazendas cercadas por extensos campos que agora servem de pasto para o gado da raça Nelore se estendem pelas margens de uma estrada onde é possível ver várias lojas de venda de tratores e material agrícola e anúncios de serviços veterinários. Muitos habitantes usam chapéu, jeans e botas de vaqueiro.
Por uma estrada de terra através de uma enorme fazenda, chega-se à reserva indígena de Uru-eu-uau-uau, de 1,8 milhão de hectares, considerada pelos ambientalistas a mais ameaçada pelos invasores de terras, madeireiros, garimpeiros ilegais e caçadores de animais silvestres.
Cerca de 20 indígenas uru-eu-uau-uau vivem na primeira das várias aldeias que espalhadas por esta reserva habitada por outros grupos étnicos, alguns deles isolados.
Na aldeia há algumas ocas de madeira e palha e casas de tijolos e seus moradores acessam a internet via a rede wi-fi da sede da Fundação Nacional do Índio (Funai). Apesar dos traços de modernidade, eles ainda se sentem ameaçados pelas ações do presidente Bolsonaro, um crítico da política de demarcação de terras indígenas.
"Estamos passando um momento ruim. Os povos indígenas não estão sendo reconhecidos. (...) Estamos sofrendo muito devido à exploração madeireira e o desmatamento", disse à AFP Awapy Uru-eu-uau-uau, líder de uma comunidade.
''Não queremos ver fogo novamente em terras indígenas'', acrescentou Awapy, que diz estar disposto a defender a Amazônia com sua vida.