Procuradores da Lava Jato chegaram a um acordo de não dar prosseguimento às investigações de uma denúncia de manipulação de escolha do relator no processo de cassação de Eduardo Cunha (MDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados, preso em outubro de 2016, mesmo considerando-a importante. O relato da suposta fraude foi feito pelo próprio ex-deputado, através de uma delação premiada.
É o que insinuam as mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil e divulgadas no portal UOL, nesta terça-feira (10).
No grupo “Acorda Cunha”, criado com o intuito de analisar a denúncia, o procurador Orlando Martello afirmou que a delação mais atrapalha que ajuda a Operação.
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“Evidente também que alguma coisa o acordo do Cunha sempre corroborá ou ajudará, mas no geral vemos mais prejuízos do que benefícios. Para nós, as teses dele mais atrapalham os processos e investigações em andamento do que ajudam”, disse Martello em 1º de agosto de 2017.
Segundo mais este episódio da série de reportagens intitulada como ‘Vaza Jato’, a seletividade dos procuradores da força-tarefa em rejeitar uma denúncia importante em acordo de colaboração implica em crime de prevaricação. Juristas ouvidos pela reportagem disseram que “o Ministério Público não tem a possibilidade de escolher o que investiga”.
Delação de Cunha
O artífice do processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, Eduardo Cunha, antecipou que houve fraude no sorteio que escolheu o deputado Fausto Pinato (PP-SP) como relator de ser processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara. Pinato teria sido indicado por José Carlos Araújo (PR-BA), então presidente do órgão, para favorecer o próprio Cunha.
“Realmente esse é um fato que talvez não devesse ser sonegado da sociedade. Isso mostra/expõe como ainda somos um País subdesenvolvido, em que os políticos estão tão distantes da realidade”, disse Martello no grupo. A denúncia, contudo, não foi averiguada.
O UOL diz ter confirmado com pessoas ligadas a Cunha que sua proposta de colaboração premiada com a Lava Jato incluía essa denúncia de fraude na escolha de relatores no Congresso.
Ouvidos pela reportagem, José Carlos Araújo e Fausto Pinato negaram a existência de fraude.