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Novos inimigos digitais do governo Bolsonaro

Antes apoiadores de Bolsonaro, Danilo Gentili e Alexandre Frota se juntaram a Felipe Neto na lista negra dos bolsonaristas

Luisa Farias
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Luisa Farias
Publicado em 15/09/2019 às 16:40
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Segundo Frota, Bolsonaro ainda cometeu crime ao participar das manifestações do dia 15 de março mesmo após receber a orientação de ficar isolado - FOTO: Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados
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Da mesma forma que ajudaram a impulsionar a vitória do presidente Jair Bolsonaro (PSL), as redes sociais vêm sendo ferramentas amplamente utilizadas por influenciadores digitais que se opõem ao seu governo. A lista vai aumentando a medida que antigos apoiadores tornam-se inimigos ao sucumbirem na guerrilha digital. É o caso do humorista Danilo Gentili e do deputado federal Alexandre Frota (PSDB), ex-aliados que agora entraram para o mesmo grupo do youtuber Felipe Neto – o daqueles que estão na lista negra dos bolsonaristas.

Segundo o coordenador do Laboratório de estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fábio Goveia, personagens como Frota, Gentili e Neto acabam catalisando uma atuação política que marca o governo Bolsonaro. “Construir os inimigos de ocasião e centrar força para que essa militância continue engajada”, conta o especialista.
Para Fábio Goveia, o caso de Alexandre Frota é emblemático. Isso porque ele era um aliado forte no período eleitoral e virou alvo dos bolsonaristas ao começar, mesmo ainda no PSL, a subir o tom contra o governo, utilizando-se principalmente das redes sociais. “Ele vira alvo de uma certa ala da militância digital e passa a ser agredido, assim como aconteceu com Gentili e Felipe Neto”, contou.

Quem antes chegou a ser cotado como potencial ministro, passou a questionar o motivo pelos quais as pessoas votaram no capitão, atribuindo a ele características como “carreira militar desqualificada”, “contribuição parlamentar nula” e “comentários impróprios à moral”, disse Frota no Twitter.

Na mesma rede social, a apresentação de Felipe Neto já mostra a que veio. A sua bio descreve: “Orgulhosamente odiado pelos integrantes do PSL”. Dono de uma carreira de quase dez anos, e 34,3 milhões de inscritos no seu canal no Youtube, ele vem ganhando notoriedade entre um público diferente do habitual de jovens e adolescentes por seus posicionamentos políticos. E vem colecionando inimigos no governo. Na semana passada, o youtuber usou a sua influência para bater de frente com o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), comprando e distribuindo 14 mil exemplares de livros com a temática LGBT, após a prefeitura do Rio de Janeiro enviar fiscais para o evento e anunciar que censuraria a HQ 'Vingadores – A Cruzada das Crianças', que continha uma ilustração de dois homens se beijando.

A consequência foi uma enxurrada de ataques contra ele, com direito a hashtag #PaisContraFelipeNeto, que provocou o contra-ataque #PaisComFelipeNeto. Nesta quinta (13), ele publicou um vídeo voltado aos pais dos seus seguidores para desmentir fake news, como a informação de que ele estaria incentivando crianças a acessarem a deep web. “Tudo isso foi criado intencionalmente para tentar destruir a minha reputação”, disse no vídeo.

Para Fabio Goveia, o vídeo demonstra a dificuldade de construção de uma narrativa contra fake news já disseminada na opinião pública. Ele explica que, por mais que ele tenha um grande alcance (às 18h34 do dia 13 de setembro já tinha mais de 2,2 milhões de visualizações), os impactados com o vídeo dificilmente serão os mesmos que consumiram a desinformação. “O vídeo do Felipe penetrou em um pensamento mais a esquerda. Esse é um desafio que não só a oposição está passando, mas inclusive a própria dinâmica do governo Bolsonaro, que precisa falar para um outro público que não seja só o dele. Esse desafio em que ele está se colocando também vai se reverter contra ele. Essa máquina funciona para destruir reputações, mas ela também se vira para o lado de quem está no poder”, conta.

O humorista Danilo Gentili, conhecido por suas piadas antipetistas e atuação nas eleições de 2018 contra a sigla, entrou para o grupo de ex-apoiadores do governo Bolsonaro. Tudo começou com a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) para a embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Em seu programa The Noite, no SBT/TV Jornal, Gentili colocou uma imagem do parlamentar com a frase “Make mamata great again” (faça a “mamata” boa de novo). Nas redes sociais, as críticas continuaram. Em sua página do Twitter, ele chegou a apoiar a hastag #SenadoVetaEduardo, o que rendeu troca de farpas com o parlamentar.
Segundo explica Paulo Rebêlo, diretor da Paradox Zero, agência de estratégias digitais e tecnologia, os verdadeiros influenciadores digitais não estão diretamente atrelados a número de seguidores, e sim ao real poder de influência. “Eles usam uma estratégia não muito diferente da que os influenciadores usam para vender produtos de uma forma paga ou colaborativa. A diferença é que Bolsonaro é o anti-produto”, disse.

No fim das contas, dentro da guerrilha digital, os influenciadores, sejam de um campo político ou de outro, sempre saem na frente quando o assunto é alcance. “O conteúdo deles sempre vai ter um alcance maior do que o conteúdo de muita pessoas. Para o Facebook, o Instagram e para o mercado é interessante que os conteúdos que já têm uma adesão muito grande tenham um alcance maior para fora da bolha deles. Porque na hora que ele é publicado, a gente sabe que vai haver milhões de pessoas interessadas e elas são consumidoras”, conta Rebêlo.

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