Na mesma transmissão onde fez uma série de críticas à reportagem da Rede Globo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) acusou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de ter divulgado as informações do caso Marielle Franco para a emissora.
"Senhor Witzel, o senhor só se elegeu governador porque ficou o tempo todo colado ao meu filho Flávio. Ao chegar à presidência (sic), a primeira coisa que fez foi se tornar inimigo dele. Por que? Para concorrer à eleição presidencial em 2022, mas, para chegar lá, ao que tudo indica, tem que destruir a família Bolsonaro, destruindo o que temos de mais sagrado, que é a nossa conduta de combate à corrupção, de honestidade", disse o presidente.
Nesta terça-feira (29), reportagem do Jornal Nacional divulgou que um dos suspeitos da morte da vereadora do PSOL, em março de 2018, no Rio de Janeiro, se reuniu com outro no condomínio de Bolsonaro antes do crime. Segundo o porteiro, ao entrar, ele alegou que ia para a casa do presidente. Bolsonaro estava em Brasília no dia.
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A revista Veja publicou que Witzel soube com antecedência das informações colhidas polícia do Rio de Janeiro obre o surgimento do nome do presidente na investigação e não escondia a euforia com os fatos.
"Estou a disposição para falar com os advogados. Queria muito falar com o delegado sobre esse assunto para deixar tudo em pratos limpos. Por que querem me destruir? Por que a sede de poder do senhor Witzel?", disparou Bolsonaro.
Críticas à Rede Globo
Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais, acusando a Rede Globo de perseguição e fazendo uma série de críticas à emissora.
"Vocês são canalhas, patifes. Não são patriotas", esbravejou Bolsonaro em um dos trechos da live, a partir de Riad, na Arábia Saudita, onde encerra o giro pela Ásia e Oriente Médio.
No momento de pico, a transmissão, que durou pouco 23 minutos, estava sendo acompanhada por 107,4 mil pessoas.
"Fazem a narrativa da reportagem que eu teria sido um dos mentores da morte da vereadora Marielle franco. A Globo diz que minha digital estava em Brasilia, não nega, mas sempre deixa a suspeita no outro lado da ponta", afirmou Bolsonaro.
O chefe da Nação também acusou a Globo de perseguir sua família. "Globo, vocês não prestam, vocês esculhambam minha família 24 horas por dia. É uma canalhice que vocês fazem".
No Twitter, o presidente publicou uma montagem onde a marca da Rede Globo aparece como um esgoto.
CANALHAS! pic.twitter.com/THbGVEbasE
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) October 30, 2019
Entenda o caso
Registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o presidente Jair Bolsonaro, apontam que Élcio de Queiroz, um dos suspeitos de envolvimento na morte da vereadora Marielle Franco, entrou no local no dia do assassinato, em 14 de março de 2018, dizendo que iria para a casa do então deputado. A informação foi veiculada pelo Jornal Nacional, da TV Globo. Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília e que postou vídeos no Legislativo no mesmo dia.
Como houve citação ao nome do presidente, a lei obriga o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisar a situação, afirma a reportagem do JN.
No mesmo condomínio, mora o principal suspeito de matar Marielle, Ronnie Lessa. De acordo com a reportagem, no dia do crime, o porteiro escreveu às 17h10 o nome do suposto visitante, Élcio, os dados do automóvel que ele dirigia - um Logan, placa AGH-8202 - e a residência para a qual ele iria, a de número 58. Élcio é apontado pela polícia como o motorista do carro usado no crime. A casa 58 do condomínio consta como sendo a de Bolsonaro no registro geral de imóveis. O presidente também é proprietário da casa 36, onde mora um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL).
Segundo a reportagem, o porteiro contou à polícia que depois que Élcio se identificou, interfonou para casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar e que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do "seu Jair".
Segundo o teor das declarações do porteiro à polícia apuradas pela reportagem, ele acompanhou a movimentação do carro de Élcio após a entrada e notou que o visitante se dirigiu à casa 66 - e não à 58 - do condomínio, onde morava Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e polícia como autor dos disparos contra Marielle. "Fontes disseram à equipe de reportagem que os dois criminosos saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da chegada de Élcio, e embarcaram no carro usado no crime nas proximidades do condomínio", diz a reportagem da Globo.
Segundo o JN, a polícia tenta recuperar arquivos de áudio da guarita do condomínio, cujo interfone é monitorado, para saber com quem, de fato, o porteiro conversou naquele dia e quem estava na casa 58.
Com a citação pelo porteiro do nome do presidente, representantes do Ministério Público do Rio foram a Brasília no último dia 17 para fazer consulta ao presidente do STF, Dias Toffoli. Eles questionaram se podem continuar com investigações, uma vez que o nome de Bolsonaro foi mencionado. Toffoli ainda não respondeu.
O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, contestou o depoimento. Ele ressaltou que o presidente estava em Brasília no dia do assassinato de Marielle e disse que o depoimento do porteiro é uma "mentira", feita para atacar a imagem e a reputação do presidente.
"Afirmo com absoluta certeza que é uma mentira, fraude, farsa para atacar imagem e reputação do presidente", disse Wassef ao JN. "O presidente não conhece o Élcio."
"Talvez, esse indivíduo tenha ido à casa de outra pessoa e, alguém, com intuito de incriminar o presidente, conseguiu um depoimento falso onde essa pessoa afirma que falou com Jair", declarou o advogado à Globo.