Apesar do que o Twitter faz crer, pelo barulho que os bolsonaristas seguem fazendo no Twitter, Bolsonaro correu, na Quarta de Cinzas, pra tentar apagar o fogo que o compartilhamento de uma mensagem apoiando protestos do próximo dia 15, convocados pelos organizadores contra o Congresso e contra o STF, causou. A justificativa utilizada por ele e pelos auxiliares mais próximos foi de que era um vídeo exaltando ele e ele compartilhou com amigos. "Nada contra o Congresso ou o Judiciário", juram.
O problema é que, faz tempo, as caneladas de Bolsonaro deixaram de ser vistas, pelos não integrantes da seita, como ingenuidade espontânea ou inocência atabalhoada. Sabe-se que existe estratégia. Desde que o compartilhamento foi descoberto e divulgado, as menções aos atos do dia 15 cresceram muito e a propaganda aumentou. Em várias cidades, incluindo Recife, os detalhes sobre os protestos começaram a ser divulgados pelos organizadores, aos endereços de email da imprensa, bem no ápice da polêmica. Esperteza, senso de oportunidade? Talvez. Mas, se alguém dissesse que é tudo ensaiado seria difícil negar com fatos.
Bolsonaro levanta a mão pra bater, espera o olhar de terror da vítima, e finge que só estava ajeitando o cabelo. Ele testa a reação de todos ao redor e aproveita para ver quem está com ele de verdade e quem fraqueja durante o ato. É assim que ele sabe até que ponto pode contar com as Forças Armadas, com os empresários e com os outros poderes. É assim que chama atenção de volta pra ele após um carnaval em que as pessoas esquecem o mundo. No ano passado foi o "Golden Shower".
Alvos de reação rápida
O fato de os alvos serem, quase sempre, a imprensa, deputados e senadores é secundário na estratégia. Apenas são alvos suscetíveis à indignação imediata, que reagem rápido e produzem melhor resultado na experiência bolsonarista. De nada adiantaria testar reação em quem não reage de imediato.
Mas, basta um gesto contra imprensa ou parlamentares para ser acusado de antidemocrático, fascista e golpista em questão de segundos. Daí é só ver quem acompanha a indignação, e quem não o faz, para conhecer aliados e inimigos próximos. E de quebra gerar propaganda "espontânea" de algum protesto.
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