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A região que mais se “curvou” à popularidade do ex-presidente Lula, o Nordeste, e que elegeu sua sucessora Dilma Rousseff com 18,4 milhões de voto, não simpatiza com o PT nestas eleições municipais. O partido cumpre um papel de coadjuvante na disputa das nove capitais nordestinas. Não aparece bem na sucessão em oito delas, não disputa em Maceió, capital do Estado de Alagoas (veja quadro), e corre o risco de perder o comando das duas únicas prefeituras que comanda na região: Recife e Fortaleza. As variáveis para explicar o “fenômeno” guardam relação com a realidade política de cada localidade, certamente. Mas fatores extramurais, relacionados diretamente com a sucessão presidencial de 2014, também expressam o papel secundário que o PT cumpre nas disputas das capitais nordestinas.
Os dois governos Lula (2003-2010) colocaram o Nordeste “no colo”. Em fatores digamos “assistencial” e “assistencialista” a região aparece novamente na lista de números expressivos que provam a atenção da gestão do PT para com os nordestinos. Peguemos dois deles: o emprego formal e a distribuição do Bolsa-Família. Dados do Ministério do Trabalho indicam um crescimento do emprego formal no Nordeste na gestão do ex-presidente de 5,9% entre 2003 e 2009, superior à taxa registrada em todo o Brasil, que foi de 5,4%, e à da região Sudeste (5,2%). De recursos do Bolsa-Família, Lula liberou para a região R$ 23 bilhões em 2008, cujo impacto na arrecadação de tributos alcançou a casa dos R$ 17 bilhões. Por que então o PT não anda às boas com os nordestinos nessas eleições?
Quando finalmente chegou à Presidência da República, reconduziu-se ao cargo, e elegeu bem sua sucessora, o ex-presidente Lula consolidou uma popularidade sem precedentes. Um esforço resultante de sua ação como gestor e como líder político, não por obra de uma articulação do seu partido, o PT. Essa separação ficou tão nítida, acentuada pelo próprio Lula com os instrumentos de poder de que dispunha, que especialistas incorporaram ao dicionário político os verbetes “lulismo” e “petismo”, estabelecendo um antagonismo entre ambos. Essa talvez tenha sido a eleição em que Lula menos atuou pelo País desde sua primeira eleição para presidente. A luta contra o câncer, claro, impôs limites rígidos às suas andanças e esse “distanciamento” talvez tenha reservado ao ex-presidente e a tudo que fez, nesta eleição, um lugar apenas na memória dos nordestinos.
Pragmaticamente ou não, os eleitores resolveram dar um crédito aos candidatos de outros partidos, mesmo sendo a maioria de legendas que não integram o grupo de aliados do ex-presidente (veja quadro). Habilmente, nenhum deles se vestiu de anti-Lula. Estratégia que, somada à ausência do ex-presidente, que se voltou integralmente para a eleição de São Paulo, porque já avista a sucessão presidencial de 2014, gerou nas capitais do Nordeste uma disputa estritamente focada nas questões municipais. E no jogo local, as pesquisas indicam que o PT tem encontro marcado com a derrota nas urnas de outubro.