Os recifenses ouviram as palavras do papa de um enorme estacionamento periférico em Joana Bezerra, uma inovação no esquema de mobilidade da época. O início da década de 1980 marca uma tentativa de mudar a noção de mobilidade urbana no Recife e expandir o uso do transporte coletivo. É a fase de implantação do metrô na cidade.
Inaugurado em janeiro de 1980, o estacionamento em Joana Bezerra deveria abrigar até 2,2 mil carros de quem viesse da Zona Sul da cidade, desafogando o tráfego no Centro. De lá, os condutores eram levados até o comércio ou o local de trabalho nos “Tranquilões”, ônibus refrigerados. O plano da época era ambicioso. No final de 1979, um espaço menor, com capacidade para 285 automóveis, já funcionava na Rua da Aurora. O projeto da Empresa de Urbanização do Recife (URB) era ativar uma terceira unidade no Complexo de Salgadinho, para os moradores de Olinda e Paulista.
Não deu certo pelas resistências dos taxistas e da classe média. “Foi uma relação de apego ao automóvel. Porque o homo brasiliensis não tem cabeça, tronco e membros. Ele tem cabeça, tronco e rodas”, ironiza Gustavo Krause.
Em janeiro de 1983, o Recife passaria por outra grande mudança com o início das obras do metrô, que tinha o apoio da prefeitura na implantação das estações. Maior sistema de transporte de massa implantado no Nordeste até então, transporta quase 250 mil passageiros por dia. “Se comenta muito hoje sobre alternativas para mobilidade. Mas temos uma pronta, capaz de transportar 600 mil pessoas por dia, transportando bem menos. O metrô hoje pode ser ramificado, basta pequenos ajustes. Se esticar um pouco vai para a Zona Norte ou um Ramal para Suape”, defende Joaquim Francisco.
AÇÕES NOS MORROS
Um dos principais símbolos dessa fase de busca pela legitimidade popular desse período é o conjunto de ações nas áreas de morro, como os famosos “barracões” e as obras de contenções da Prefeitura do Recife. O embrião dessas ações foi a construção de escadarias e drenagem nos morros da Conceição e da Esperança, ambos na Zona Norte, com financiamento do Banco Nacional de Habitação (BNH). No final das obras, os alojamentos usados pelos operários passou a ser reaproveitada pela prefeitura, sob coordenação dos “tupamaros” de Krause.
“Era um barracão de obras, onde guardava-se as pás, essas coisas. E a gente decidiu transformar os barracões dentro das comunidades. Montamos 27. O carro chefe era o dinheiro do BNH. Eu chegava lá com a obra de pedra e cal. Mas ao mesmo tempo eu incorporava os serviços sociais básicos”, conta Gustavo Krause.
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Nos espaços, o município prestava serviços como a emissão de documentos e atendimento por médicos e odontólogos. Também eram nos “barracões”, oficialmente denominados de Núcleos de Planejamentos Comunitários (NPCs), que o Executivo recrutava pessoas para realização de obras através de mutirões.
O projeto teve continuidade na administração Joaquim Francisco. “Era uma UPA mais realista. O importante para eles era ter o médico. E você podia multiplicar. O povo dizia que estava precisando de um posto de saúde e você fazia rápido, porque era bem baratinho. Isso tinha uma capilaridade enorme”, lembra. Na gestão Joaquim, cerca de 40 novos “barracões” ganharam as ruas.
Na mesma época, a Coordenadoria de Defesa Civil do Recife (Codecir) foi criada, otimizando a segurança da população de baixa renda. “Nós verificamos que os morros já estavam ocupados e que precisavam de drenagem e de segurança. E fizemos um amplíssimo programa de construção de barreiras e canaletas”, explica Joaquim.
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