O tamanho do desafio da mobilidade no Recife impressiona já pelos números. Por dia, 1,8 milhão de passageiros utilizam ônibus no Recife, segundo o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE). Mais que isso, 3 mil ônibus circulam pela cidade, que possui apenas 54 quilômetros de corredores exclusivos; mais da metade implantados nos últimos anos através de Faixa Azul. Em vias nevrálgicas para a cidade, como a Avenida Agamenon Magalhães, o transporte público disputa espaço com uma expressiva frota de carros e motos.
Não à toa, o Recife é a quarta cidade brasileira que mais mata no trânsito. Em 2014, 560 pessoas morreram no trânsito da cidade, segundo o Datasus. O índice é quase seis vezes o máximo aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU). No ano passado, a Capital teve mais de 1,3 mil casos de colisões e atropelamentos. Os dados foram compilados em um site mantido pelo Observatório do Recife e pela Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo).
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Para o arquiteto e consultor Francisco Cunha, a questão fundamental no Recife hoje é fazer com que outros modais, além do automóvel, consigam fluir. A aposta é em corredores exclusivos de ônibus, ciclovias que sirvam como meio de transporte diário e melhorias das calçadas, mesmo que isso cause uma diminuição na velocidade dos carros. Para ele, é responsabilidade do governante enfrentar a resistência cultural às medidas que priorizam o transporte coletivo. “Se um terço da população usa o transporte individual motorizado e tem a sua disposição 80% das vias, nós temos um desbalanceamento”, explica.
Hoje, só a frota do Recife possui 679 mil veículos, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Há dez anos, eram 403 mil. Fora os carros de outras cidades que circulam pela Capital. De acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), há 15,3 automóveis para cada 100 pessoas na Região Metropolitana do Recife.
Pesquisa nacional da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) aponta que o recifense leva quase duas horas (114 minutos) para se deslocar de casa para o trabalho e regressar para o lar. O levantamento diz que mais de 251 mil trabalhadores gastam mais de meia-hora nesse percurso.
Dados do Observatório do Recife apontam que a velocidade média dos ônibus na cidade é inferior a 20 quilômetros por hora. Soluções como a da Faixa Azul são baratas para o município, já que cada quilômetro custa em média R$ 20 mil. Os 32 quilômetros atuais em seis vias conseguem beneficiar 635 mil pessoas todos os dias, estima a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano da Capital. Embora só duas tenham fiscalização eletrônica.
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Dar condições adequadas para o ciclista é outro gargalo que o município precisa enfrentar. A rede ciclável existe no Recife soma pouco mais de 41 quilômetros. Há queixas, porém, de que alguns trechos implantados não seguem a determinação do Plano Diretor Cicloviário (PDC), encomendado pelo Governo do Estado ao custo de R$ 860 mil. Uma pesquisa sobre perfil do ciclista realizada em dez cidades brasileiras mostra que 89,6% das pessoas que pedalam no Recife usam a bicicleta como meio de transporte em pelo menos cinco dias na semana. O transporte é usado para chegar ao trabalho por 95,8% dos entrevistados.
“A inexistência de uma malha cicloviária em Recife é o principal limitador do aumento do número de ciclistas. A gente fala inclusive de algo que possa servir de integração entre os modais. Para você ter um usuário de bicicleta fazendo um percurso curto até uma baldeação, podendo colocar sua bicicleta em um local seguro no terminal de ônibus ou no metrô”, se queixa Pedro Luiz, coordenador geral da Ameciclo.
AS PROPOSTAS DOS CANDIDATOS
O que o(a) senhor(a) propõe para melhorar a mobilidade da cidade apostando na qualidade do transporte de massa e nas ciclorrotas, considerando a resistência de parte da população a medidas que restringem o espaço destinado aos carros?
CARLOS AUGUSTO COSTA (PV)
O nosso programa de governo considera o congestionamento do trânsito é problemática ambiental urbana”. Cerca de 23 por cento da população se desloca pé, 46 por cento usa ônibus, dez por cento, de bicicleta e os demais usam o carro. Mesmo assim, o Recife é a terceira cidade mais congestionada do país. Por esse motivo, devemos requalificar nossas calçadas, aumentar as faixas exclusivas para ônibus e também ampliar as ciclovias, que só receberam R$ 625 mil em investimentos na atual gestão. É muito pouco. Vamos estimular o uso da bicicleta, instituir estacionamentos verticais (principalmente perto dos mercados públicos) e exigir transporte coletivo de boa qualidade – inclusive com ar condicionado – para motivar as pessoas a deixarem os carros em casa. Também disciplinaremos o horário de carga e descarga, e desafogaremos a Avenida Conde da Boa Vista, com VLT.
DANIEL COELHO (PSDB)
Vamos rever a Lei das Calçadas, firmada durante o governo do PT, que tira do poder público a responsabilidade pelas calçadas. A Prefeitura não pode simplesmente não ter responsabilidade sobre o assunto. Não é justo se cobrar do morador de uma área carente, cujo esgoto passa na porta de casa, sem saneamento, que ele seja o responsável pela sua calçada. Não há lógica nisso. A prefeitura passará a ser co-responsável pela manutenção, juntamente com o proprietário. Além de cuidar das calçadas, vamos implantar uma rede de ciclovias e ciclofaixas permanentes integradas por toda a cidade, permitindo que as pessoas possam circular por todo o Recife com segurança, ajudando e muito no quesito mobilidade. A ciclofaixa de lazer, aos domingos, implantada por um banco em várias capitais, é importante, mas precisamos criar uma rede permanente. E vamos manter e ampliar os corredores exclusivos de ônibus.
EDILSON SILVA (PSOL)
Priorizar a ampliação da rede de faixas exclusivas para ônibus, defendendo a adoção da integração temporal pelo sistema de transporte metropolitano, e a implementação imediata do plano cicloviário são medidas que repercutem diretamente na melhoria da mobilidade. Portanto, tendem a ser bem aceitas pela população. Recife deve ainda reduzir a circulação de automóveis nas áreas centrais da cidade. Regulamentação do Uber e outros transportes alternativos e revisão e atualização das praças de táxi são medidas também a serem observadas. Retomar a responsabilidade da Prefeitura pelos passeios públicos, garantindo acessibilidade universal e criando mais ruas para pedestres, especialmente onde há intensa atividade comercial e potencial turístico, como no centro do Recife é outra proposta para a mobilidade, além da promoção do desenvolvimento urbano e a intermodalidade em torno das estações de metrô.
GERALDO JULIO (PSB)
O grande desafio da mobilidade é criar condições para que as pessoas possam se deslocar com segurança, rapidez e conforto. E possam dispor de opções para satisfazer essa necessidade. Estabelecemos como prioridade o transporte coletivo e os deslocamentos a pé ou em veículos não motorizados, como as bicicletas. Ampliaremos as faixas azuis, corredores prioritários para o transporte coletivo criados na nossa gestão, além da requalificação de mil paradas de ônibus, com acessibilidade e iluminação, além de wi-fi naquelas de maior fluxo. Já lançamos o primeiro lote do maior programa de calçadas da cidade, com 114 ruas e 12 largos. As rotas para bicicletas, que estão sendo interligadas, seguirão o plano cicloviário formulado. Será permanente o trabalho de pavimentação, ampliando para novas ruas e rotas de transporte ainda não atendidas. Com planejamento, a partir do Plano de Mobilidade, a gestão do trânsito beneficiará todos.
JOÃO PAULO (PT)
A mobilidade é um dos principais desafios das grandes cidades do mundo, mas isso não pode significar uma barreira intransponível. As cidades que estão vencendo esse obstáculo têm optado por priorizar o sistema público de transporte, as ciclorrotas e as calçadas. E é exatamente esse o caminho que propomos para o Recife, onde cerca de 30% da população se desloca a pé ou de bicicleta. Como uma das primeiras medidas da gestão, vamos encaminhar à Câmara Municipal o Plano de Municipal de Mobilidade, além de propor ao Grande Recife Consórcio de Transportes a reavaliação do sistema integrado de transportes, com melhor distribuição das linhas e integração temporária no SEI, em qualquer parada. Do ponto de vista de obras de infraestrutura, propomos a ampliação dos corredores exclusivos para ônibus, a requalificação da rede de calçadas e escadarias do município e a ampliação das infraestruturas cicláveis.
PANTALEÃO (PCO)
Priorizar o transporte coletivo. Transporte tem que ser público e de qualidade. Aumento das vias preferenciais para BRTs. Municipalização do sistema de transporte com a recriação da Companhia de Transportes Urbanos. Fim das empresas privadas no sistema de transporte. Implementação dos VLTs, monotrilhos e elevados para facilitação e fluidez do trânsito. Reduzir os pontos de sinais de trânsito para travessias colocando em seu lugar passarelas com elevador. Reordenamento das calçadas de pedestres com negociação com os ambulantes, sem repressão nem perseguição. Atenção especial para a adequação das vias para as pessoas com algum tipo de deficiência. Promover a navegabilidade do rio Capibaribe com hidrovias e em suas margens construção de ciclovias. Criar na cidade pontos proibidos para acesso de veículos particulares. Integração modal entre os diversos meios de transporte.
PRISCILA KRAUSE (DEM)
O transporte de massa tem de ser prioridade real. Vamos expandir as faixas exclusivas de ônibus, agregando sempre a fiscalização eletrônica, e implantar o programa "Trânsito Livre", garantindo que a legislação de carga e descarga de mercadorias seja cumprida, de modo a desobstruir o sistema viário. Uma questão muito importante é a incorporação do pedestre no componente da mobilidade da cidade. Implantaremos os corredores de pedestres, por meio da requalificação e padronização das calçadas do Recife, começando pelas vias de maior circulação de pessoas e do transporte coletivo, garantindo, inclusive, acessibilidade plena aos terminais de integração, estações e paradas de ônibus. A Lei das calçadas será modificada, para trazer de volta para a prefeitura essa responsabilidade. E vamos elencar as prioridades do Plano Diretor Cicloviário, de modo a garantir um calendário de execução das ações.
SIMONE FONTANA (PSTU)
A causa da perda de tempo para se deslocar é responsabilidade dos governos que priorizaram os transportes de carros ou as empresas de ônibus. Na via Mangue, gastou-se mais de 400 milhões de reais e endividou a prefeitura até 2036. Criaram o BRT aos invés do VLT/Metrô, enquanto isso os Terminais de Integração viraram um sofrimento para a maioria da população. A primeira medida é estatizar o transporte coletivo de ônibus, pois enquanto tiver nas mãos do setor privado, que visa o lucro, continuará o caos. O fortalecimento do metrô como alternativa prioritária, ampliando para a região norte e com mais trens. A criação das ciclorrotas, criando ciclovias nas principais avenidas e interligadas. Todo esse sistema, metrô como prioritário interligado com ônibus e bicicletas deva ser prioritário, quem possuir carro utilizará menos e ficará satisfeito.