"Temos uma ineficiência sistêmica no aparato jurídico e de segurança; que envolve a Justiça, o Ministério Público, as Polícias e assim por diante." Foi com essa frase que o ministro da Defesa, Raul Jungmann (PPS), abriu a primeira resposta no programa 20 minutos, apresentado pelo cientista político Antônio Lavareda, neste sábado (30), na TV Jornal.
Envolvendo a problemática da segurança no Rio, o ministro respondeu que um dos fatores que contribuíram para o fracasso das UPPs, foi a falta de uma continuidade dos programas sociais que estavam sendo desenvolvidos nas comunidades ocupadas. "Em torno de 850 comunidades hoje, no Rio de Janeiro, vivem sob regime de exceção. Ou seja, direito e garantias constitucionais não valem. No que diz respeito as UPPs, foi um projeto extremamente bem sucedido no momento. Só que ele previa o projeto "UPP Social", ou seja, Educação, Saúde, Assistência e Emprego. Isso não chegou. O Rio de Janeiro, hoje, convive com o Estado paralelo. Que é o Estado capturado pelo crime organizado. É o crime entrando no coração do Estado que é seu aparato de segurança, que em última instância nos assegura a nossa integridade."
Fazendo um balanço da operação que envolveu a atuação das Forças Armadas no Rio de Janeiro, Raul afirmou que ela durará até o final do governo Temer. Segundo ele houve avanços na operação, como a redução em 37% dos roubos de cargas e a captura de criminosos. Porém reconhece a dificuldade de integração com as demais forças locais. "Nós não temos uma tradição e uma cultura de integração. As polícias civis e militares possuem uma série de conflitos e competem entre si. Isso é um fato." E complementa: "Além da preocupação exclusiva com o Rio de Janeiro, nós não queremos que o RJ seja o Brasil amanhã. Porque essa crise não é apenas no RJ. Ela é uma crise muito mais ampla e que alcança graus diferentes em todas as unidades da federação."
O ministro também comentou o atual estado da violência em Pernambuco. Perguntado sobre como revitalizar o Pacto pela Vida, Jungmann argumentou sobre a necessidade de realizar novos concursos, expandir o sistema prisional e reforça a inteligência no setor de segurança. Contudo reafirmou que "a receita é ter continuidade nas políticas públicas".
Questionado sobre a atuação das Forças Armadas nas Fronteiras e atual situação no combate ás drogas, Raul reconheceu as dificuldade em realizar um trabalho mais efetivo. A justificativa dada seria por conta do tamanho das fronteiras e o tipo geográfico que as compõem. "São 17 mil quilômetro de fronteira, a terceira maior fronteira do mundo. Em linha reta nossa fronteira vai de São Paulo a Tóquio. Nove mil quilômetros desses 17 são fronteira molhada, onde há lago, lago e igarapé. O resto é floresta." Contudo afirmou que a integração dos órgãos e forças auxiliares tem ajudado no combate ao tráfico. "Deve-se também integrar todas as agências: Receita Federal, Ibama, Polícia Rodoviária, Polícia Civil e Polícia Militar. Temos feito isso através da operação "Ágata", que estamos realizando em toda fronteira. Criamos corredores eletrônicos através da FAB. Quando um avião vai cruzar a fronteira, indo ou voltando, ele tem que passar por esse corredor (o radar) e se identificar. Se ele não se identifica, é interceptado. E se não pousa, ele pode ser abatido. Isso tem reduzido 80% dos voôs clandestinos nas fronteiras com a Bolívia e com o Paraguai."
A situação na Venezuela também foi alvo de preocupação. Porém frisou que o Brasil já está intervindo e desenvolvendo planos para uma eventual guerra civil no país vizinho. " Nós já estamos intervindo. Hoje quem organiza, em boa medida, os campos de recepção. Na hipótese de haver uma guerra civil, nós temos que estar preparados. Já temos planos de contingência e planejamento para essa eventualidade. Eu não sou otimista em relação ao futuro da Venezuela. As informações que temos é que de fato eles romperam o limite democrático com esta constituinte, que na verdade ela vem sugando todas as instituições remanescentes de uma democracia liberal.
O ajuste fiscal trouxa uma redução expressiva nos investimento direcionados ao Ministério da Defesa. Perguntado se as Forças Armadas estariam conseguindo operar em nível satisfatório, Jungmann reconheceu o aperto pelo qual o setor está passando e destacou que é preciso investir mais na defesa. "Não se improvisam Exército, Marinha e Aeronáutica. De fato houve uma redução, mas nós temos o compromisso com a mudança da meta fiscal e de uma reposição parcial. Isso ocorrendo, que é o compromisso da equipe econômica, nós vamos manter a nossa capacidade operacional. Porém nós precisamos ir além, ou seja, modernizar e desenvolver a nossa capacidade. Não temos ameaça, mas perca sua capacidade de defesa e as ameaças surgirão imediatamente."