Um dos principais personagens da política pernambucana e nacional, Marco Maciel ganha uma biografia da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Marco Maciel – Um artífice do entendimento é assinado pelo jornalista Ângelo Castelo Branco. O lançamento será às 19h, na Academia Pernambucana de Letras, nesta segunda-feira (2). A publicação é o oitavo título da Coleção Memória, da Cepe, que edita biografias de nomes expressivos da história política e cultural de Pernambuco.
O prefácio é assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem Marco Maciel foi vice-presidente nos oito anos de governo do tucano. “Sim, Marco Maciel apoiou governos dos quais fui crítico, como ele provavelmente terá sido de posições minhas ou das assumidas na época pelo opositores aos governos militares”, escreveu FHC. Mesmo com posições divergentes, o ex-presidente relata que acolheu o seu nome na chapa por conhecer a capacidade de diálogo do pernambucano. Fernando Henrique refere-se a Marco Maciel como “um vice-presidente dos sonhos”.
Diálogo este que fez Maciel migrar o conservador PDS para a Frente Liberal, no período de transição do governo militar para a democracia no Brasil. Um importante capítulo da trajetória política do pernambucano foi a elaboração do documento “Compromisso com a Nação”. “Isso é muito importante porque Marco Maciel redigiu o documento que traçou as normas, a filosofia, da transição do regime militar para o democrático sem derramamento de sangue no País”, afirma Ângelo Castelo Branco.
Um bastidor da política nacional contada no livro é a recusa de Marco Maciel para ser vice na chapa com Tancredo Neves. “Ele recusou porque percebeu que estava sem partido, havia se desligado do PDS e o PFL não havia sido criado. Se ele fosse o vice na chapa de Tancredo Neves, o Supremo poderia questionar sua candidatura e prejudicar Tancredo”, explica Ângelo.
A publicação traz, ainda, curiosidades como os bastidores da vinda do papa João Paulo II para o Recife, em 1980, quando Marco Maciel era governador. A visita quase foi cancelada, mas uma articulação política manteve a vinda do papa. Outro esforço para a divulgação do Estado foi a passagem o secretário de Estado norte-americano Alexander Haig, em 1982, pelo Recife. Era para ser uma parada técnica na cidade, durante o período da Guerra das Malvinas, que a Argentina travava com a Inglaterra. No aeroporto, jornalistas brasileiros e estrangeiros aguardavam o secretário. Eis que Marco Maciel surpreende e o convida para tomar água de coco na praia de Boa Viagem. “No dia seguinte, a capital de Pernambuco e o seu cartão-postal estavam nas páginas de jornais estrangeiros”, relata um trecho do livro.
Hoje, aos 77 anos, Marco Maciel está em tratamento do Mal de Alzheimer. A doença foi diagnosticada em 2011.
Companheira de mais de meio século de vida com Marco Maciel – cinco anos de namoro e 50 de casamento – Anna Maria Maciel ganhou um capítulo na biografia que será lançada pela Cepe. O trecho do livro fala sobre como dois se conheceram, no movimento estudantil na década de 1960, além do período de namoro e do casamento.
É ela quem virá ao Recife para acompanhar o lançamento do livro. “Nós recebemos as homenagens com bastante emoção. Nós lamentamos muito que ele não possa participar nem opinar sobre nada disso. Tudo se deve à intensidade do trabalho que ele fez. Ele era uma pessoa completamente dedicada às coisas que fazia. Então, agora, seja uma época de colheita de todos os frutos do que foi plantado”, declarou.
O livro traz também um pouco da vida da família. Marco Maciel evitava falar sobre os bastidores da política dentro de casa. Mesmo quando as reuniões ocorriam na residência, nem a esposa nem os filhos participavam. “A gente respeitava muito isso porque a gente achava que ele já tinha uma vida tão tumultuada, que a gente achava que o momento que ele estava em casa conosco, é um momento nosso. E também pra ele era um momento de trégua, que mudava de assunto”, lembra. Muitas coisas, afirma, a família tomava conhecimento pelos jornais.
Uma das entrevistas mais reveladoras sobre os bastidores políticos foi concedida por Marco Maciel em 2005 à equipe do JC, para a série de reportagens A Nova República, que culminou com a publicação de um livro pela Cepe, um ano depois. A série tratou dos 20 anos da redemocratização do País, com entrevistas de políticos pernambucanos que viveram o período, além do ex-presidente José Sarney.
Marco Maciel era o presidente da Câmara dos Deputados em 1977, quando o chamado Pacote de Abril foi editado. Em seguida, foi governador de Pernambuco, eleito de maneira indireta. No processo de retorno ao regime democrático, Maciel distanciou-se do conservador PDS e aproximou-se da Frente Liberal, que, mais tarde, tornaria-se do PFL, hoje DEM. Foi neste período em que ele foi co-signatário do documento "Compromisso com a Nação”, que norteou a aliança PMDB-Frente Liberal.
Na época, também, Marco Maciel foi cotado para ser o candidato do PDS à Presidência da República, além ser o nome escolhido por Tancredo Neves e Aureliano Chaves para vice. Nenhuma das alternativas vingou. Para a série A Nova República, ele disse que haviam duas vias paralelas e inseparáveis: “o retorno da democracia e, de maneira mais conjuntural, a sucessão presidencial”.
Ao citar os bastidores do processo, Maciel lembrou que Tancredo foi nome escolhido para a presidência por ser a opção mais conciliadora entre os militares, ao contrário de Ulysses Guimarães, que era líder da oposição. “Tancredo passava aos militares mais confiança. Os militares sabiam que ele não era vinculado à esquerda e era, como todo mineiro, um homem de composição”, explicou, na entrevista.