Nacionalização

'Palanque de Lula' e 'Turma do Temer' tomam espaço no debate

Prioridades do eleitorado perdem o lugar para briga entre candidatos sobre quem representa o palanque do ex-presidente Lula ou do presidente Michel Temer

Paulo Veras e Renata Monteiro
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Paulo Veras e Renata Monteiro
Publicado em 31/08/2018 às 7:00
Foto: Guga Matos / JC Imagem
Prioridades do eleitorado perdem o lugar para briga entre candidatos sobre quem representa o palanque do ex-presidente Lula ou do presidente Michel Temer - FOTO: Foto: Guga Matos / JC Imagem
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Saúde, segurança e educação. As prioridades da vida dos eleitores pernambucanos têm perdido espaço na campanha para a rinha entre os candidatos ao governo do Estado sobre quem representa o palanque do ex-presidente (PT) e quem é ou deixa de ser da “turma do Temer”. Em seguidas entrevistas, réplicas e tréplicas, de aliados e de aliados de aliados, o assunto arrodeia e sempre volta para o mesmo lugar. A disputa iniciada oficialmente em 16 de agosto entra hoje em um novo momento, com o guia eleitoral na TV e no rádio, a pouco mais de um mês da votação. Mas, até agora, as poucas tentativas de apresentação de propostas se perderam na ginástica discursiva dos candidatos inspirada no ensinamento “diga-me com quem andas, e eu te direi quem és”.

Pesquisa do Ibope divulgada pelo JC e pela Rede Globo no último dia 20 mostra que três em cada quatro pernambucanos (74%) elegem a saúde como uma grande preocupação. Mais da metade dos entrevistados (53%) também se mostra preocupada com a segurança pública. Enquanto 43% apontam a educação. E outros 27% citam a geração de empregos como tema importante para o debate no Estado.

“Os candidatos estão ainda disputando uma espécie de espólio da intenção de voto de aqui em Pernambuco. Isso é um pouco segmentado no Nordeste. Tendo em vista que todas as pesquisas mostram que a intenção de voto de aqui no Nordeste, na média, dobra se você comparar ao resto do País”, explica o cientista político Ernani Carvalho, professor da UFPE. Para o especialista, porém, o início do guia eleitoral tende a mudar a dinâmica do debate eleitoral. “O disco da nostalgia dos tempos áureos do governo em algum momento vai ceder lugar às propostas para o Estado. Pernambuco enfrentou problemas de desemprego durante a crise, além de saúde, educação, transporte. A Previdência dos servidores também é um dos grandes problemas para o Estado se debruçar. Em algum ponto, isso precisará ser colocado pelos candidatos”, argumenta Carvalho.

A cientista política Priscila Lapa, professora da Facho, tem visão diferente. Para ela, é pouco provável que o discursos dos candidatos mudem do dia para a noite. Segundo a docente, o principal desejo de quem participa da corrida ao Palácio do Campo das Princesas este ano é a conquista da confiança dos eleitores, e os postulantes creem que podem alcançar esse objetivo vinculando suas imagens a de políticos bem avaliados junto à população.

“Eu acho que o tom desta eleição não vai ser muito propositivo. O debate sobre as propostas vai recair muito nessa discussão sobre a crise, o que é que dá para fazer, o que não dá, e vai remeter mais uma vez a essa questão do alinhamento com ou com , o que Paulo e Armando já vêm fazendo. Diante desse contexto de crise econômica e de representação, a gente não vai ter muito espaço para uma discussão racional sobre projetos. Os candidatos vão, cada vez mais, tentar conquistar a confiança do eleitor colando as suas imagens as dos seus aliados”, avaliou Priscila.

Se o debate entre e tem movimentado as campanhas do governador Paulo Câmara (PSB) e do senador Armando Monteiro (PTB), ele também dificulta o discurso dos demais candidatos, que não têm entrado nessa disputa. Dani Portela (PSOL) apoia Guilherme Boulos (PSOL), (Rede) defende Marina Silva (Rede), Maurício Rands (PROS) indica voto em Ciro Gomes (PDT), Simone Fontana (PSTU) e o PCO, partido de Ana Patrícia, não têm peso no apoio a .

Ontem, em mais um capítulo da história sem fim, o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), em entrevista à Rádio Jornal, disse que Temer “entrou definitivamente na campanha de Armando”, ao comentar a entrevista do presidente no dia anterior em que garantia ter tido apoio de Paulo desde o afastamento da ex-presidente (PT).

Recebeu de troco por parte de (PPS), um dos coordenadores da campanha de Armando, a acusação de que Paulo está se acovardando e que “precisa explicar por que as estradas estão em péssimo estado de manutenção, por que a segurança pública e a saúde estão piorando...”.

Candidatos

Questionado sobre quando a campanha eleitoral começaria a se debruçar sobre as propostas, o governador Paulo Câmara disse que, “da minha parte, eu estou disposto a debater as propostas de Pernambuco”. Mas terminou afirmando que, “infelizmente, o Armando e a turma do querem a todo o momento confundir a população de Pernambuco. Tirando o grande patrono do palanque deles, que é o . Então, a toda hora a gente tem que explicar. Porque eles querem ganhar a eleição mentindo. Não vão ganhar a eleição mentindo. O povo pernambucano é politizado e não vai admitir isso. Está na hora de discutir Pernambuco, e eu estou disposto a isso. Se a oposição parar de mentir para o povo pernambucano escondendo a verdade que é os ministros do , o apoio do presidente pro Armando e que Armando defende essas reformas que tanto fizeram mal ao Brasil. É isso o que eles precisam assumir para a gente poder discutir Pernambuco de maneira franca, direta e transparente”, disparou.

Indagado, Armando garantiu que está “discutindo Pernambuco”. Mas emendou dizendo que “quem fica rotulando os palanques a todo momento é o governador. Isso é para fazer uma cortina de fumaça para que as fraquezas do governo não se revelem por inteiro. Mas o pernambucano é politizado, ele vai cobrar isso”, cravou o senador. O petebista concluiu afirmando que Estados vizinhos têm mostrado desempenho melhor em áreas como segurança porque seus governadores “não ficaram chorando durante a crise”. “Essa cortina vai cair no chão, e aí nós vamos discutir, por exemplo, por que a Bahia e o Ceará – governados pelo PT e que, consequentemente, não teriam o apoio de – estão bem avaliados. Lá, nós temos melhores resultados na saúde, na segurança, porque, em suma, os governadores não ficaram chorando durante a crise e querendo transferir a responsabilidade para o governo federal”, disse.

E assim segue o dia a dia do eleitor.

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