Seis anos após o ex-senador Sérgio Guerra deixar a presidência nacional do PSDB, o ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo, também pernambucano, chegou, na última sexta-feira (31), ao mais alto posto da agremiação pelas mãos do atual governador de São Paulo, João Doria. A ascensão do tucano, que não conseguiu chegar ao Senado no pleito de 2018, coincide com uma das piores fases eleitorais do partido, inclusive no Estado, local onde a sigla contabiliza apenas um deputado estadual, um vereador no Recife, 17 prefeitos e nenhum deputado federal ou senador. A expectativa dos filiados de Pernambuco, agora, é que o novo momento proporcione maior musculatura à legenda e que isso possibilite sua reestruturação nas urnas, sobretudo no âmbito local.
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Ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e do Cabo de Santo Agostinho, Elias Gomes diz que a restauração tucana em Pernambuco é uma “dívida” que Bruno Araújo tem com a sigla. Entre 2017 e 2018, o ex-gestor municipal e o agora presidente nacional do PSDB protagonizaram duros embates pelo comando do partido no Estado, mas durante a última campanha eleitoral apararam as arestas e selaram a paz. Elias, contudo, não se esquiva de fazer comentários mais duros relacionados ao correligionário. “Bruno tem uma dívida para com o partido. Quando ele assumiu a presidência em Pernambuco, o PSDB tinha três deputados estaduais. Quando exerceu o mandato, chegamos a zero deputados estaduais. Este é o momento que ele tem para pagar essa dívida”, disparou.
Único representante do PSDB na Câmara do Recife, o vereador André Régis está otimista com a chegada de Bruno ao topo da cúpula tucana. Segundo o parlamentar, o fato de um pernambucano estar ocupando o cargo aumenta a possibilidade do fortalecimento partidário estadual. “Temos uma federação com 26 Estados mais o Distrito Federal, 5 mil municípios, e todo mundo clamando por atenção. Naturalmente, se você tem um presidente que conhece a geografia política do Estado de forma profunda, como é o caso, isso ajuda muito o redesenho das melhores estratégias nacionais em relação aos municípios. É uma vantagem para o Estado”, argumentou Régis.
PONTO POSITIVO
O cientista político Vanuccio Pimentel, professor da Asces-Unita, é mais cauteloso ao fazer essa relação entre a naturalidade do mandatário e o crescimento da legenda no seu Estado de origem. O docente, inclusive, usou o exemplo do próprio Sérgio Guerra para explicar o seu ponto de vista. “Sérgio Guerra também comandou o PSDB nacionalmente e isso não significou necessariamente que o partido em Pernambuco tinha um peso maior. (Ter um presidente do Estado) É um ponto positivo para o diretório estadual, é uma conexão a mais que o partido tem com Brasília e com o cenário nacional, mas isso não significa que a sigla terá um desempenho melhor aqui, até porque o PSDB sempre teve uma dificuldade muito grande para conseguir se capilarizar no Nordeste”, pontuou.
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho corrobora com a argumentação de Pimentel e acrescenta que os possíveis benefícios oriundos da eleição de Bruno Araújo como presidente do PSDB vão depender da estratégia que a agremiação vai adotar para os próximos pleitos. “Há um ciclo do PSB se fechando no Estado. Paulo Câmara já está no seu segundo mandato e existem muitas dúvidas sobre quem será o dono do espólio político dele. Talvez a intenção seja fortalecer o PSDB aqui em Pernambuco com essa visão mais nacional do partido, colocar uma liderança jovem e assim fortalecer a legenda para disputas futuras”, disse o cientista político.
Procurado durante a última semana, Bruno Araújo afirmou que preferia não dar entrevistas sobre o cenário local da sigla por estar focado em questões nacionais. O tucano adiantou, no entanto, que deve reunir as lideranças do partido já no início de junho para instaurar uma comissão provisória e nomear um novo presidente estadual para o PSDB pernambucano.