SAÚDE MENTAL 3

Alexandre Figueirôa comenta o adoecimento mental nos filmes

Jornalista destaca obras que já retrataram transtornos ao longo de várias décadas

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 16/09/2012 às 1:06
Alexandre Belém / JC Imagem
Jornalista destaca obras que já retrataram transtornos ao longo de várias décadas - FOTO: Alexandre Belém / JC Imagem
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Doutor em estudos de cinema e audiovisual, o jornalista Alexandre Figueirôa ressalta que é difícil filmes traduzirem o adoecimento mental de forma convincente e sem recorrer aos clichês em que os portadores de transtornos são geralmente apresentados de forma caricata. "Retratar os delírios de quem enfrenta esse tipo de problema não é fácil", diz Figueirôa à repórter Cinthya Leite.

JC - Como vê a saúde mental abordada nos filmes?

ALEXANDRE FIGUEIRÔA -
Os transtornos mentais são fontes de inspiração e tema central de muitos filmes de ficção. Algumas obras, inclusive, tornaram-se marcos da história do cinema como é o caso de Shock Corridor (1963), um dos filmes mais importantes do cineasta norte-americano Samuel Fuller, em que um jornalista simula estar com problemas mentais para ser internado num hospício e investigar um assassinato e acaba meio perturbado mentalmente. Ainda na fase muda do cinema, vale lembrar o alemão O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, história em que um sonâmbulo sob o efeito de hipnose comete vários crimes. Ao final, ficamos sabendo que a história é a visão de um louco internado num hospício.

JC - Que outros filmes podem entrar nessa temática?

FIGUEIRÔA -
Outro exemplo mais recente é O Iluminado (1980), do grande cineasta Stanley Kubrick, em que Jack Nicholson interpreta o zelador de um imenso hotel que tem sua sanidade mental afetada por um passado sombrio e se revela um perigoso psicopata. Também inesquecível é o sensível Rain Man (1988), de Barry Levinson, em que um homem é obrigado a cuidar do seu irmão autista e aprende a conviver com o rapaz depois de enfrentar inúmeras dificuldades.

JC - Consegue ver limitações nesses tipos de filmes?

FIGUEIRÔA - 
Uma das maiores dificuldades desse gênero de filme é traduzir o universo das doenças mentais de forma convincente e sem recorrer aos clichês em que os portadores de transtornos são geralmente apresentados de forma caricata. Retratar os delírios ou a visão interior de quem está enfrentando este tipo de problema também não é fácil. Imagens distorcidas, trucagens com superposições e cores aberrantes nem sempre são suficientes para a obtenção de um resultado que revele realmente o que se passa na mente de um doente.

JC - Podemos dizer que a maioria dos longas desse gênero é assim?

FIGUEIRÔA -
Observo que a abordagem dos filmes sobre doenças mentais está mudando também de acordo com a própria compreensão que se tem hoje sobre loucura, depressão e outros distúrbios. Nos dias atuais, o enfoque dado ao tema tem visado quebrar preconceitos, apontar a convivência e o apoio aos portadores de transtornos mentais como a melhor maneira de ajudá-los. Assim, alguns filmes criticam tratamentos ultrapassados, como o choque elétrico e o isolamento dos doentes em hospícios.

* Leia a matéria completa na edição impressa de Arrecifes deste domingo (16/9).

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