“Agora!......lança!...….LANÇA.....crava!.....CRAVA!.....mordeu....segura.....TÁ COM VOCÊ!!!!!”. Depois de horas de observação e persistência, sob o sol escaldante do verão caribenho, finalmente consigo entender a paixão pela pesca desportiva. Identificar o peixe a olho nu pela cor da aleta, lançar a isca precisamente na sua boca e fazê-lo fisgar provoca uma descarga de adrenalina indescritível. Mãos, braços, todo o corpo respondem quase que involuntariamente às ordens do guia. A princípio prevalece a técnica. Neste caso, a modalidade artística do fly fishing, na qual a mosca (isca artificial no formato de um inseto) “voa” em linhas coloridas até aterrissar no campo de visão do alvo, que a persegue sem imaginar quem é a verdadeira presa.
Leia Também
Segurar o peixe no anzol é só o começo. Desafio maior será trazê-lo até você e tirá-lo da água para registrar a façanha. Quando a linha dispara em impressionante velocidade na carretilha, tem início o trabalho braçal. Os bichos não se entregam facilmente. A força com a qual lutam pela liberdade, aliás, chega a ser comovente. Por isso, o prazer da captura é o mesmo de devolver o animal ao seu habitat, após os devidos cliques. Além das fotos, alguns peixes deixam marcas para sempre, como a agressiva barracuda que fincou os dentes na minha mão :( Quem mandou se intrometer no seu território?
O diferencial da pesca desportiva nos Jardines de la Reina é justamente a grande variedade de espécies – em todo o parque marinho, são 251. Nos seis dias de atividade incluídos no programa-padrão é possível fisgar cerca de 20 tipos. “Tanto como a quantidade, o tamanho dos animais aqui não se compara ao de nenhum lugar. Sem contar que você olha para os lados e se vê num cenário espetacular”, diz o médico Rodolfo Castilho, apresentando o seu extenso currículo de pesca, que inclui destinos não menos arrebatadores, como o Alasca, Mongólia, Amazônia e Pantanal.
Nessa parte do Caribe, os peixes mais cobiçados são os que compõem o Super Grand Slam (bonefish, permit, tarpão e snook). Pescar os quatro no mesmo dia é o troféu máximo para os pescadores. Quem consegue três deles garante pelo menos um Grand Slam. Há quem passe até 10 horas em cima da lancha buscando os ditos-cujos entre os canais, na beira da praia ou em alto-mar. Chega a dar vertigem, principalmente com o sol a pino e o vapor causado pelo aquecimento da água banhando o horizonte de cinza.
Enquanto procuram as estrelas dessas águas, os pescadores se divertem com coadjuvantes não menos interessantes, como jureles, meros, garoupas, badejos, snappers e barracudas, entre tantos outros que abundam na região. “É preciso saber o comportamento de cada um deles, ter a sorte de que apareçam e estar com os equipamentos adequados, o que inclui boas lentes polarizadas”, ensina o sábio guia Chinito. Nascido e criado no litoral cubano, Yenys Luis (seu nome real) faz questão de compartilhar o conhecimento que acumulou em três décadas e meia de interação com os Jardines.
A pausa para o lanche é protegida pela sombra do manguezal, com direito a exibição exclusiva de gaivotas que se aninham entre os arbustos. Um breve cochilo ao sabor do balanço suave da maré e estamos renovados para mais emoção. Hora de reforçar o protetor solar, prender bem o chapéu e partir rumo ao azul profundo do mar aberto. Nosso objetivo ali é encontrar os valentes tarpões, que podem pesar até 68 quilos. Foram duas horas de peleja, que se pagaram com os belos saltos do bicho no ar e com tantas outras imagens da vida abaixo e acima da linha d’água. Entre um e outro lance da isca, minha distração preferida: flagrar pelicanos caçando o almoço no mar.
Perdemos a noção do tempo, mas o céu alaranjado indica o momento de parar. Não importa o cansaço, o rosto vermelho e o cheiro de maresia impregnado na roupa, voltamos ao barco com a sensação de missão cumprida. As solícitas Eiza e Yordanka esperam os pescadores com toalhinhas refrescantes e saborosos mojitos para brindar a cada dia à generosidade dos Jardines de la Reina.