Memória

A história do Recife contada em cartões-postais

Coleção lançada pelo Museu da Cidade é composta de 12 postais, com fotos em preto e branco

Cleide Alves
Cadastrado por
Cleide Alves
Publicado em 13/09/2015 às 8:08
Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
FOTO: Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Leitura:

O Museu da Cidade do Recife é guardião de mais de 200 mil fotos da capital pernambucana no século 20. São cenas de praças, de ruas, do Carnaval, das pontes, do Rio Capibaribe, enfim, a memória impressa de fatos e lugares que marcaram a nossa história. As imagens poderiam ficar dormindo no acervo da instituição. Mas o museu teve uma ideia melhor e resolveu compartilhar as fotografias criando simpáticos cartões-postais.

Antes que você pergunte, são cartões de verdade mesmo, aqueles retângulos de papel no tamanho 10x15, com fotos em preto e branco para serem manuseados, colecionados ou enviados a parentes e amigos, com um recado no verso escrito a mão. Um mimo para ser postado nos Correios e surpreender quem recebe, nesses tempos de mensagens virtuais.

A primeira edição do Projeto Coleção Postais do Recife já está disponível ao público na livraria do museu, localizado no Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José. Para a estreia, foram confeccionados 12 tipos diferentes de cartões. Seis são ilustrados com fotos do Graf Zeppelin e seis exibem praças públicas, clicadas nos anos 30, 40 e 50.

Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Zeppelin sobrevoando o bairro de Santo Antônio, no Recife, em 1936 - Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Acervo do Museu da Cidade do Recife
Coleção de postais lançada pelo Museu da Cidade do Recife, com 12 cartões - Foto: Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Acervo do Museu da Cidade do Recife
Praça de Casa Forte, primeiro projeto de jardim público de Roberto Burle Marx, no Recife - Foto: Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Acervo do Museu da Cidade do Recife
O Zeppelin no campo de pouso do Jiquiá, no Recife, em foto de 1932 - Foto: Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
A Praça do Derby, no Recife, foi restaurada nos anos 30 pelo paisagista Burle Marx - Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Praça Ministro Salgado Filho, em frente ao Aeroporto do Recife. Projeto de Burle Marx - Foto: Alexandre Berzin/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Jose Césio Rigueira Costa/Acervo do Museu da Cidade do Recife
A Praça da República, no centro do Recife, foi restaurada por Burle Marx nos anos 30. Foto de 1944 - Foto: Jose Césio Rigueira Costa/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Mário de Carvalho/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto da Praça Faria Neves em 1958. Projeto de Burle Marx no bairro de Dois Irmãos, no Recife - Foto: Mário de Carvalho/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Foto: Severino Fragoso/Acervo do Museu da Cidade do Recife
Praça Euclides da Cunha, na Madalena, em 1957. Projetada por Burle Marx, com plantas da caatinga - Foto: Severino Fragoso/Acervo do Museu da Cidade do Recife

 

Para quem não sabe, o Zeppelin era um balão dirigível que fazia a ponte aérea entre a Alemanha e o Recife, de 1930 a 1937. Um ano antes do fim das viagens, o fotógrafo Alexandre Berzin registrou a aeronave em toda sua exuberância equilibrada na torre de atracação do campo de pouso do Jiquiá (Zona Oeste) e cruzando o bairro de Santo Antônio, no Centro, com as ruas praticamente sem carros.

“O Zeppelin é um grande sucesso mercadológico”, diz Betânia Corrêa de Araújo, diretora do centro cultural e colecionadora de postais, ao justificar as paisagens selecionadas entre 200 mil fotos. Nos outros cartões da coleção o museu imprimiu flagrantes de seis praças recifenses projetadas ou restauradas por Roberto Burle Marx (1909-1994), um dos melhores paisagistas do século 20.

Repare só nos homens de paletó e gravata, nos meninos de calças curtas e nos vestidos de saia rodada das meninas que brincam na Praça Faria Neves, em Dois Irmãos, na frente do zoológico. A foto da Praça Euclides da Cunha, na Madalena, mostra a vegetação da caatinga que o paisagista trouxe para a área urbana, pelas lentes de Severino Fragoso.

As praças escolhidas – Faria Neves, Euclides da Cunha, de Casa Forte, do Derby, Ministro Salgado Filho (Aeroporto) e da República (entre o Palácio do Governo, Palácio da Justiça e Teatro de Santa Isabel) – foram reconhecidas como jardins históricos pelo Iphan, em junho de 2015. São postais com pedigree.

“É possível acompanhar, pelos cartões, as mudanças de usos e costumes ocorridas na cidade, comparando as fotos antigas com as imagens atuais”, comenta Betânia Corrêa. O bilhete-postal possibilita várias leituras, diz ela. A ideia do museu é fazer mais um lançamento este ano, com cenas do Carnaval e do Rio Capibaribe, também do arquivo da instituição.

Depois, ela pretende convidar fotógrafos em atividade para montar uma nova coleção, desta vez com fotos contemporâneas da cidade. “Há uma carência grande de bons postais no Recife e, ao mesmo tempo, temos um acervo riquíssimo. A venda dos cartões funcionará como uma doação ao museu, para ajudar na conservação das fotografias.”

A proposta é também estimular o colecionismo entre crianças, jovens e adultos acrescenta Betânia. Cada postal custa R$ 2 e a lojinha do museu atende de terça-feira a domingo (sim, o museu agora abre aos domingos), das 9h às 17h, sem cobrança de ingresso.

HOMENAGEM

Invenção do século 19, o bilhete-postal surgiu para facilitar a troca de correspondências. Sem envelope protegendo o conteúdo escrito e com espaço limitado para a mensagem, a postagem era mais barata. Hoje, os Correios cobram 95 centavos para enviar um cartão (tarifa nacional). É o mesmo preço de uma carta simples.

Quer saber mais? No Brasil, o postal foi instituído pelo Decreto nº 7695 de 28 de abril de 1880, 11 anos depois da circulação do primeiro cartão no mundo, em 1º de outubro de 1869, no Império Austro-Húngaro. Um pernambucano do Recife, Manuel Buarque de Macedo (1837-1881) é o autor da façanha.

Nada mais justo, pois, que o seu nome batize um dos cartões-postais da cidade, a Ponte Buarque de Macedo, que liga a Praça da República, em Santo Antônio, à Avenida Rio Branco, no Bairro do Recife. Engenheiro e jornalista, ele era ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e conselheiro do Imperador Pedro II.

Últimas notícias