Quando se fala da República Dominicana, a primeira referência dos brasileiros sobre o destino é Punta Cana. Os números comprovam: 85% dos visitantes que partem em direção à ilha vão direto para o balneário. Não sabem o que estão perdendo. Quem dedicar dois ou três dias à capital ganhará de brinde uma incursão à origem das Américas. Nem a distância serve mais de desculpa para ignorá-la. Em agosto, foi inaugurada a Autopista del Coral, que liga Santo Domingo às praias do leste em duas horas.
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Primeira cidade fundada no Novo Mundo, em 1498, Santo Domingo é híbrida e contraditória. Soube costurar a herança indígena e colonial às influências contemporâneas, tecendo uma identidade sem purismos, nem puritanismos. Desse caldeirão surge uma cidade vibrante, sensual, com cheiro de maresia, belos monumentos e néon nos bares da moda.
O mergulho na história do país, para quem desembarca no aeroporto internacional, começa na região de La Caleta. Dali até a zona hoteleira será preciso seguir meia hora pela Autopista Las Américas. Sacrifício nenhum. Isso porque o caminho é margeado por aquele mar hipnotizante do Caribe, além de cemitérios indígenas e obeliscos que fazem uma ponte entre o período colonial, a ditadura de Trujillo e a democracia. Já no coração da cidade, avistamos o porto e o terminal de cruzeiros que nos lembram da vocação marítima do país e da relação entre a velha e a nova economia. Por onde sempre se escoou cana-de-açúcar, rum, minério e tabaco, agora chegam milhares de turistas.
É fácil entender o porquê.
Para além da beleza um tanto clichê do Malecón, Santo Domingo revela cenários instigantes para quem gosta da pulsação dos centro urbanos, com toda a carga de realidade que há neles. Trânsito intenso, buzinaço e comércio desordenado em meio a casarões art déco nos separam da Cidade Colonial. Composta por 16 ruas, cercadas de muralhas e fortificações, a área é tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1990 e abriga mais de 300 monumentos e galerias de arte. Assinale pontos de interesse no mapa e abra o olho para descortinar os mistérios de uma cidade que adora cultuar suas assombrações.
CAMINHADA
A melhor forma de percorrer a região é a pé, partindo da Puerta del Conde. Erguida em comemoração à separação do Haiti em 1844, marca a entrada principal do Parque Independência. Daí, seguimos pela Calle El Conde, reduto da boemia e da arquitetura moderna da primeira metade do século 20. No caminho, pelo menos três pontos merecem atenção: as Igrejas de Nuestra Señora de las Mercedes e Regina Angelorum, além do Convento de los Dominicos, onde funcionou a primeira universidade do Novo Mundo.
Mais à frente, está a Casa de Tostado, sede do Museu da Família Dominicana do século 19. Se tiver pouco tempo, confira as fachadas e opte por visitar mais detidamente a Catedral Primada de América, a primeira do continente, que tem nos pórticos e vitrais seus maiores atrativos.
Ao lado dela, está o Parque Colón, onde a estátua de Cristóvão Colombo aponta para o horizonte. A melhor hora para chegar por ali é no início da manhã, para sentir a cidade despertando e ver os idosos ocupando os bancos de ferro para ler as últimas notícias do beisebol, o esporte nacional. Escolha um dos cafés ao ar livre e complete o cenário poético pedindo um Morir soñando. O suco de frutas cítricas com leite, muito gelo e açúcar acompanha o mangú (purê de banana verde com ovos, queijo e/ou bacon), base do desjejum local.
Com os ponteiros avançando no relógio, sobe também o mormaço, indicando que é hora de levantar. A próxima parada é o Alcázar de Colón, na animada Plaza de España. O casarão colonial abrigou a família Colombo e exibe objetos que pertenceram a Diego, filho do navegador, e à Maria de Toledo, sua esposa. Ao longe, avista-se o Faro a Colón. O mausoléu de 59 metros de altura supostamente guarda os restos mortais do descobridor.
Adiante, na Calle las Damas, alcança-se o Museo de las Casas Reales, centro da administração espanhola que guarda vasto acervo da história dominicana de 1492 a 1821, incluindo reprodução do primeiro mapa feito no continente. Bela maneira de sintetizar a visita ao berço da civilização americana.