Entrevista

"As oportunidades de emprego devem continuar crescendo." diz Pierre Lucena, Presidente do Porto Digital

Em entrevista concedida a Felippe Pessoa, Pierre falou sobre as dificuldades de encontrar profissionais qualificados na área de tecnologia na região

Felippe Pessoa
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Felippe Pessoa
Publicado em 10/08/2020 às 6:30
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Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, diz que a Gig Economy, termo para a economia sob demanda, deu escala global a um tipo de trabalho que já existia - FOTO: Divulgação

A coluna dessa semana traz uma entrevista especial com Pierre Lucena, Presidente do Porto Digital e Professor da UFPE. Na conversa, Pierre fala sobre as dificuldades de encontrar profissionais qualificados na área de tecnologia na região, os projetos de formação de novos profissionais e a importância das empresas de tecnologia que nasceram no Porto para a economia do Estado.

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Felippe Pessoa: Pierre, em 2020 o Porto Digital comemora 20 anos. No que você acredita que o Porto ajudou no desenvolvimento da região nesse período?

Pierre Lucena: O Porto Digital revitalizou grande parte do centro do Recife, especialmente o Recife Antigo. Mas muito mais do que isso, fizemos um projeto gerador de emprego e renda que já emprega mais de 11.600 pessoas com uma renda média muito acima dos setores tradicionais da economia. Hoje, o Porto é responsável pelo terceiro maior faturamento de serviços da cidade, só perdendo para saúde e projetos de engenharia. Ano passado ultrapassamos a área de educação, segundo dados da Prefeitura do Recife, sendo responsável por mais de R$2 bi de faturamento por ano.

FP: Pernambuco tem uma forte tradição na qualidade do ensino na área de Computação, especialmente na UFPE. Como isso influencia na atração de profissionais para as empresas do Porto?

PL: O Porto Digital só existe por conta desse contingente de pessoas qualificadas que se formaram em Pernambuco nas últimas décadas, principalmente na UFPE. O Centro de Informática, para se ter uma ideia, é o principal polo formador de mão de obra de mestrado e doutorado do Brasil na área de Tecnologia, com nota 7 na CAPES. E isso acabou irrigando uma rede universitária no estado que possibilitou que Recife, hoje, se tornasse a cidade brasileira com o maior número de estudantes de tecnologia per capita. E é por isso que o Porto Digital existe.

FP: O Porto Digital tem uma parceria com instituições de ensino para formação de profissionais na área de TI. Como funciona esse programa e como ter acesso a ele?

PL: Temos parceria com 3 instituições de ensino, a UNIT, a Faculdade Senac e a UNICAP, onde fazemos cursos co branded, com a marca do Porto Digital e a construção de um currículo adequado ao mercado de trabalho, além de um processo de approach com as empresas, através de um programa de residência dentro do Porto Digital. E agora, estamos buscando novos parceiros, inclusive na esfera pública, para conseguir qualificar mais gente na área de Tecnologia.

FP: O Porto Digital é uma porta de entrada importante para jovens profissionais, estudantes e recém-formados. Que habilidades e conhecimento você acredita serem relevantes para os que desejam fazer carreira em uma das empresas do Porto?

PL: O Porto contrata profissionais de tecnologia. Pelo menos 80% das carreiras são ligadas a essa área, sendo os outros 20% ligados a gestão e área comercial. Não há vagas disponível na área de gestão, com exceção de uma mudança eventual. Mas, tem muita oportunidade na área de tecnologia. O que se exige é uma pessoa que saiba trabalhar bem suas habilidades técnicas, além de um conjunto de soft skills como habilidade de trabalhar em grupo e inteligência emocional, exigidas por grande parte das empresas.

FP: As empresas do Porto Digital têm, constantemente, oportunidades em aberto. Como vocês auxiliam essas empresas na atração de talentos e contratação de profissionais?

PL: Temos programas de qualificação, mas temos apostado mais em parcerias de formação em nível de graduação, pois precisamos de muita gente de entrada e isso tem dificultado muito o crescimento das empresas. Por isso, estamos atuando mais em graduação do que em capacitação de curta duração.

FP: Empresas de grande porte foram fortes impulsionadoras do mercado de TI na região. Como a chegada dessas empresas mexem com o mercado e provocam os profissionais a se desenvolverem?

PL: Uma característica nossa é que formamos grande parte das empresas do Porto. Para se ter uma ideia, das 10 maiores empresas do Porto Digital, 8 nasceram lá dentro. E novas empresas de grande porte estão chegando.

FP: Existem diversas empresas com DNA pernambucano que nasceram e se desenvolveram no Porto. Qual a contribuição que essas empresas trazem para o mercado?

PL: Todo ambiente de inovação precisa de empresas que nasçam dentro dele, senão torna-se apenas um depósito de fábrica de software, o que não é nosso caso. Inloco, Tempest, Neurotech, Insole e Serttel, por exemplo, são empresas significativas que participam desse ecossistema e nasceram lá dentro. E isso é fundamental para um ambiente de inovação.

FP: A pandemia mexeu com todos os segmentos de mercado, mas muitos acreditam que Tecnologia foi pouco afetado pela crise. Como esse momento de incertezas influenciou no Porto e suas empresas?

PL: A pandemia tem mexido muito com os ambientes de inovação e as empresas de tecnologia. Alguma, obviamente, estão indo melhor por conta de grandes contratos, mas as empresas pequenas estão sofrendo bastante. E nesse momento de incertezas estamos repensando como será o ecossistema do futuro.

FP: Muito se fala que existe um grande volume de vagas em aberto no Porto para as mais diversas áreas ligadas a Tecnologia. Quais posições são mais demandadas e por que o mercado local não consegue suprir essa necessidade?

PL: As principais vagas que temos são de Engenheiro de Software Sênior e profissionais para trabalhar em início de carreira, com desenvolvimento de software e aplicações. Basicamente essas são as vagas disponíveis e existe um problema efetivo de pouca gente estudando tecnologia, muita evasão nas universidades e pouca gente entrando nos cursos da área. Por outro lado, existe uma exigência muito grande por parte das empresas, devido ao nível de qualidade na produção, que é global.

FP: Falando em próximos passos, quais são os planos do Porto para o futuro? Existem planos de atração de novas empresas? O mercado e as oportunidades de emprego continuarão crescendo?

PL: O Porto Digital mantém sua expectativa de crescimento para se transformar num polo ainda maior, mas, obviamente, passaremos por processos de mudança que ainda não sabemos como vão se configurar. Na verdade, o próprio mercado determina isso e não o Porto. O mercado é quem dirá o que vai acontecer. Mas, as oportunidades de emprego devem continuar crescendo e, se for em home office, mais ainda. O que vai acontecer é que o trabalhador passará a ser global mesmo, podendo trabalhar do Recife para um projeto na Alemanha ou em São Paulo, por exemplo. E esse é um desafio grande para as empresas.

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