Cozido

Bolsonaro está sendo cozinhado e pandemia ainda impede a fervura

Se o STF consegue constranger o PGR, ele pode trair o presidente aliado. Se a falta de apoio popular constrange o legislativo, a maioria do centrão se desfaz rápido. Esses dois ingredientes estão sendo cozinhados. A pandemia atrapalha. Por isso o fogo é baixo, muito baixo.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 25/05/2020 às 11:46 | Atualizado em 25/05/2020 às 11:53
EVARISTO SA/AFP
POPULISTA Pensador português João Pereira Coutinho analisa o Brasil de Bolsonaro - FOTO: EVARISTO SA/AFP

Jair Bolsonaro tem um plano de contenção para um impeachment já montado e em plena atividade. Então, para todos que estão preocupados com um golpe militar ou coisa do tipo, acreditem, essa não é uma opção possível, pela indisposição das Forças Armadas para tanto.

A verdade é que nos preocupamos tanto com um golpe militar ao longo das últimas décadas que reforçamos demais a proteção em torno do Chefe do Executivo.

As barreiras criadas para proteger um presidente são muito consistentes, se o sujeito em questão não tiver escrúpulos ou for minimamente perspicaz para usá-las.

Basicamente, ele só pode ser atingido pelo Legislativo ou pelo STF. Para se proteger de um, basta ter uma maioria parlamentar. Para se proteger do outro, basta um Procurador Geral amigo.

O único componente que quebra essa garantia de manutenção é o constrangimento. As convicções políticas são alteradas pelo constrangimento público.

Se o STF consegue constranger o PGR, ele pode trair o amigo. Se a falta de apoio popular constrange o legislativo, a maioria se desfaz rápido. Esses dois ingredientes estão sendo cozinhados.

A pandemia atrapalha. Por isso o fogo é baixo, muito baixo.

"Mas mesmo com toda essa proteção, dois presidentes foram impedidos de 1988 pra cá", o nobre leitor pode estar lembrando disso. É verdade. Só é preciso lembrar também que Dilma e Collor perderam o Congresso quando a popularidade deles foi ao chão e o povo foi às ruas.

Isso, o povo nas ruas, não vai acontecer no meio de uma pandemia.

É preciso lembrar também dos presidentes que não caíram nesses trinta anos. O PGR da época de FHC, justa ou injustamente, ficou conhecido como "Engavetador Geral da República". Arquivava toda denúncia que chegava.

Nos casos de Lula e Michel Temer cultivou-se uma maioria no Legislativo, com distribuição de cargos ou mensalões que serviram de proteção para toda e qualquer tentativa de atingi-los, faltou o povo na rua também. E não foram poucas as denúncias.

Agora tudo depende de como Bolsonaro estará no fim da pandemia. Hoje, a situação dele é de isolamento cada vez maior. Poderia até se estabilizar, caso saísse um pouco dos holofotes.

Mas quem conhece o presidente já percebeu sua indisposição para a paz e se for pernambucano entende a expressão: "é mais fácil um boi voar".

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